AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 7 - AS CORES DO SWING
(Continuação)
O swing surgiu como não só como um avanço
inevitável da música de orquestra, mas também como um instrumento de agregação.
No entanto, devido a exigências de empresários e donos de casas noturnas, ele acabou
tendo que se curvar às diferenças raciais existentes naquele tempo nos Estados
Unidos. Quando os músicos se reuniam para formar as suas bandas, a
discriminação racial muitas vezes obrigava negros e brancos a se juntarem em
formações específicas.
Geograficamente,
dentro da área destinada à diversão pública, a própria Nova York contribuía com
esta divisão: os brancos ficavam num quadrilátero chamado Times Square, o local
das casas de espetáculos como os teatros da Broadway e os restaurantes dançantes;
os negros se situavam no Harlem, um bairro-gueto onde a música fluía de uma
maneira descontraída, fazendo lembrar o clima de Nova Orleans.
Esta divisão
acabou por determinar dois estilos distintos de swing, o “swing das
orquestras brancas” e o “swing das
orquestras negras”.
O swing das orquestras brancas era mais
formal, tocado dentro de esquemas bem estudados e de um fraseado mais
comportado. Aparentemente, os instrumentos faziam aquilo que deles se esperava,
e o som forte, alegre e melódico tinha como maior finalidade fazer o público
dançar.
Apesar das inúmeras
casas de espetáculos espalhadas pelo Times Square e adjacências, o ponto alto
das apresentações era o Roseland Ballroom, na Broadway, para onde se dirigiam
os brancos da cidade e de outros lugares à cata de diversão e de boa música. Em
alguns lugares, nem sempre os negros podiam entrar. O swing novaiorquino era um prolongamento jazzístico do que as
grandes orquestras haviam feito dez anos antes em Chicago.
Já o swing das orquestras negras se concentrava
no famoso Savoy Ballroom, o ponto alto da apresentação das orquestras no
Harlem, e possuía uma linha de interpretação que abraçava o novo estilo
orquestral, mas deixava espaço para que o sentimento do blues se manifestasse. Os mais abastados e mais influentes,
frequentavam o Cotton Club, que era mais refinado. Ao contrário do Roseland, o
Savoy e o Cotton Club permitiam a entrada de negros e brancos, e era comum
serem vistos casais miscigenados deixando pra trás o tal do preconceito e
dançando com todo fervor.
O swing do Harlem era mais inventivo, e os
negros apreciavam dançar ao som das suas orquestras não apenas por se sentirem
“em casa”, mas também porque percebiam nelas a inefável presença das origens.
As orquestras
negras tiveram como precursores os maestros Fletcher Henderson e Jimmie
Lunceford, na mesma época em que Paul Whiteman era consagrado o “Rei do Jazz”
ser ter conseguido achar o caminho das pedras.
Por este motivo,
Fletcher Henderson, o mais influente dos dois, marcava a sua presença não apenas
com relação às orquestras compostas por músicos negros, mas também como
arranjador dentro da grande parte das orquestras “brancas”. A sua orquestra foi
a primeira banda de swing a fazer
sucesso no Harlem. Por sua causa, o termo “Harlem
Swing” passou a significar uma marca de qualidade.
Henderson
ingressara no mundo da música quase que por acaso, pois sua intenção, ao se
mudar para Nova York, era continuar os estudos de química e matemática
iniciados no Atlanta University College. Como era, porém, um pianista razoável,
ele começou a trabalhar com algumas empresas editoras de música primeiro como
demonstrador e depois como diretor de gravação e pianista exclusivo, chegando a
acompanhar algumas famosas cantoras de blues, como Bessie Smith, Ida Cox,
Alberta Hunter e Ma Rainey, o que inevitavelmente acabou por lançá-lo em
definitivo no mundo artístico.
Sua concepção de
maestro era diferente, pois ele via a orquestra como uma empresa e a si próprio
como um gerente, o que criou uma relação diferente entre ele e os seus músicos.
Com a chegada de
Louis Armstrong em 1924 após deixar a banda de King Oliver, e com a posterior
chegada do saxofonista Coleman Hawkins, do clarinetista Buster Bailey e do
saxofonista-arranjador Don Redman, a orquestra de Fletcher Henderson evoluiu e
pode ser chamada com segurança de “a primeira orquestra jazzística de swing”, embora o termo ainda não
existisse no momento.
Diferentemente das
orquestras de Paul Whiteman e Jean Goldkette, somente para citar duas das mais
famosas, a música de Fletcher Henderson, nascido no sul (embora na Geórgia, não
na Louisiana) representava o espírito do jazz que teve origem nos plantadores
de algodão e continha na sua harmonia a marca indelével do blues.
Na esteira de
Henderson apareceram a orquestra de Cab Calloway (um bandleader vindo do centro-oeste que cantava e contava piadas
durante o show), a de Chick Webb (um baterista corcunda e anão que era
considerado um tanto biruta pelos músicos em geral, mas era extremamente técnico)
e a de Count Basie (pianista vindo de Kansas City trazendo com ele o estilo “swing-blues” que havia sido moldado pelo
seu antecessor Benny Moten, e que no futuro seria rotulado como “kansas city”).
Havia também a
orquestra do pianista Earl Hines, antigo parceiro de Louis Armstrong, e a do saxofonista
Benny Carter. Hines, um expoente do jazz originário da Pennsylvania, se rendera
ao swing, adaptando o seu estilo
francamente tradicional à novidade musical novaiorquina. Já Carter decidira se
transformar em bandleader ao herdar a
direção dos McKinney Cotton Pickers com a saída de Don Redman.
Além dessas
orquestras, também se destacavam os grupos de Andy Kirk e Erskine Hawkins.
Andy
Kirk, um saxofonista nascido em Denver-Colorado, aprendeu música sob a tutela
de um tal Wilberforce Whiteman – ninguém menos do que o pai de Paul Whiteman.
Kirk se mudou para Kansas City onde efetivamente trabalhou como bandleader, rivalizando com Benny Moten
como a principal banda da cidade.
Erskine Hawkins
era um trompetista que, devido ao seu sopro, ficou conhecido como “o anjo Gabriel do século vinte”. Ele também
tocava bateria e trombone, e se tornou famoso não apenas como bandleader,
mas também como um dos compositores da música “Tuxedo Junction”, que no início
dos anos 1940 se constituiu num dos maiores sucessos da orquestra de Glenn
Miller.
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