AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 8 - O LINDY HOP
(Continuação)
Em 1930,
um empresário
de nome Herbert White contratou um grupo de dançarinos para abrilhantar as
noites no Savoy Ballroom, tanto durante os intervalos entre a apresentação das
orquestras, quanto como um background
coreográfico para as próprias orquestras. Ele batizou o grupo como Whitey’s
Lindy Hoppers, e deu início à “swingmania”
que tomou conta do país em termos de dança.
O Whitey’s Lindy
Hoppers era composto por homens e mulheres que pareciam ter o diabo no corpo,
pois pulavam e se agitavam numa coreografia eletrizante, onde as donzelas eram
postas de pernas para o ar, fazendo lembrar um ousado French cancan.
O grupo de White
se profissionalizaria no futuro e adquiriria status com exibições na América e
no exterior, aparecendo em alguns filmes de Hollywood, como “A Day At The
Races”, em 1937, “Hellzapoppin’ ”, em 1941, “Sugar Hill
Masquerade”, em 1942 e “Killer Diller”, em 1948. Seu grande legado,
no entanto, foi ter participado do impacto que o swing causou em toda a sociedade americana, associando uma música
quente a uma dança de salão arrasadora, e transformando o binômio “dança e
música” em uma mania nacional.
Logo, outros
grupos dançantes seriam criados, e praticamente cada casa noturna do Harlem e
do Times Square possuía o seu. A febre se espalhou pelo país, e os jovens
começaram – alguns desajeitadamente, outros com muito talento – a imitar os
dançarinos profissionais nos seus passos de dança.
No início dos anos
1930, Cab Calloway havia inventado outra dança para o swing, chamada “jitterbug” (literalmente “o bichinho inquieto”), uma coreografia
também saltitante, semelhante ao lindy
hop, que fazia os dançarinos se mexerem dentro de uma variação de seis
compassos.
Assim como o lindy hop, o jitterbug logo caiu no gosto do público, embora fosse um pouco mais
complicado de ser executado e talvez menos espontâneo. De qualquer forma, o lindy hop e o jitterbug podem ser considerados uma manifestação única,
responsável por todo o swing dançante
e do que viria na seqüência, incluindo a dança do rock and roll dos anos 1950, e do twist e dos seus derivados anos depois.
Vinte anos depois
– precisamente em 1958 – o lindy hop e o jitterbug, atendendo a uma exigência de marketing,
foram fundidos em um só passo e passaram a ser chamados de jitterbug
jive. Nessa ocasião, a
dança não mais privilegiava apenas o swing,
mas já se fazia presente em outros ritmos emergentes e modernos.
Assim como
aconteceu com o blues primitivo, que
ao se espalhar por todo território americano foi adquirindo nomenclaturas
regionais sem perder a estrutura e a essência, o lindy hop, depois de sedimentado, logo
receberia os mais variados nomes possíveis, dependendo do local onde os grupos
eram formados.
Durante os anos
1930 e boa parte dos anos 1940, a dança, que havia sido batizada como “lindy
hop” no Savoy
Ballroom, foi denominada pelos seus praticantes como “savoy swing”. Outros nomes pelos quais a
dança era conhecida incluem “west coast swing” (na Califórnia), “whip” ou “push”
(no Texas), “supreme swing”
(no Oklahoma), “cajun swing”
(na Louisiana), “carolina shag”
(nas Carolinas do Norte e do Sul), “imperial swing” (no Missouri) e “DC hand dancing” (em Washingon D.C.), acabando por
se internacionalizar como “jive”.
É
lícito dizer que o lindy hop foi o vetor inicial para todo movimento
popular de dança que se desenvolveu nos Estados Unidos, derivando durante os noventa
anos seguintes (estamos falando de 2020) para o rock and roll, o twist,
o hully-gully, o break, o rap, o funk, o hip-hop e todas as danças pop
de salão, de palco ou de rua.
Voltando aos anos
1930, podemos dizer então que o swing
se firmava não apenas como música, mas também como dança, e que o novo estilo
representava “a América em movimento” naquilo que ela podia oferecer de melhor
– música e alegria.
A dança – e aqui o
movimento não se restringia apenas aos grupos ensaiados, mas também ao público
que assistia aos shows – teve uma importância capital na história do swing, e por sua causa o Harlem foi
denominado por alguns historiadores como “a pátria do swing”, sendo o Cotton Club e o Savoy Ballroom provavelmente os
seus pontos de maior referência.
Nessas casas as
orquestras travavam verdadeiras batalhas, entre elas as melhores – Duke
Ellington, Cab Calloway, Fletcher Henderson, Jimmie Lunceford, Count Basie,
Benny Goodman e Chick Webb – dentro de um maravilhoso espetáculo de som, luz,
cores, coreografia e... dança.
No Cotton Club os
shows artísticos eram mais organizados e ensaiados, incluindo grupos de
patinadores que vez por outra invadiam a pista para demonstrar suas habilidades
ao som do swing. No Savoy a
coreografia podia até ser razoavelmente previsível com respeito aos dançarinos
profissionais, mas o público fazia da alegria desorganizada a sua grande frente
de batalha. Os shows eram deslumbrantes, e misturavam uma música quente com uma
dança mais quente ainda.
Nascidos da febre
do lindy hop, os dançarinos do swing se espalharam por toda Nova York,
e depois por todo o país e até pela Europa, constituindo-se numa marca muito
forte da nova música americana.
Aqueles que
dançavam tentavam imitar os lindy hoppers
de diversos grupos – quaisquer que fossem os seus nomes – ou criar novos passos
e novas coreografias, resultando numa dança espontânea e incrivelmente
diversificada.
Apesar de o swing ser multicultural, o lindy hop,
assim como o jazz, teve a sua origem no negro. Não foi a formação cultural dos
brancos que propiciou o nascimento do jazz, pois isto aconteceu principalmente
em função do blues originado no canto
e no lamento do negro. Apesar da freneticidade e do modismo do charleston, inventado pelo branco, foi a
origem histórica do blues que
permitiu a inventividade da ginga e do jive, criados com naturalidade e
sem grandes restrições de ordem social, coisas bem próprias do negro que, paradoxalmente,
não era livre (pois costumava sofrer restrições de toda espécie), mas se sentia
livre para fazer artisticamente aquilo que bem entendesse.
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