AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 8 - O LINDY HOP
(continuação)
Frankie
Manning era
um adolescente pobre que morava perto do Rio Hudson, numa casa de cômodos que a
pequena família dividia com outros inquilinos.
Sua mãe, Judith,
não tinha uma profissão definida – ora lavava a roupa de alguns vizinhos mais
bem aquinhoados, ora varria a calçada da Rua 125, procurando disfarçar a poeira
acumulada que vinha do leito carroçável de terra batida. Durante a estação
chuvosa, tentava devolver para o meio-fio precário a lama acumulada em frente
às portas, e com isso tudo ganhava alguns trocados dos donos dos estabelecimentos
comerciais.
Frankie até
gostaria de ajudar, mas o trabalho era pesado demais para o seu corpo franzino.
O máximo que ele conseguia fazer era limpar e engraxar as botas e os sapatos
enlameados dos comerciantes do bairro. Seu físico raquítico sugeria aos
vizinhos desconfiados uma tuberculose embutida, embora os olhos vivos e brilhantes
denunciassem muita esperteza e uma intensa alegria de viver. Sua vida não era
diferente da vida de milhares de jovens sem muita perspectiva que habitavam os
cortiços do Harlem, cercados de dívidas e de problemas, mas também de sonhos e
de ilusões.
Era o final dos
anos 1920, e Frankie estudava na escola da igreja da comunidade, a Metropolitan
Baptist Church. No caminho para a escola, ele passava em frente ao Alhambra
Ballroom, um dos famosos salões de música e dança do Harlem, de onde às vezes
podia ouvir o som incipiente do swing
e ver alguns negros ensaiando passos de dança.
Animado com o que
via e ouvia, ele logo estava fazendo o mesmo ao lado dos amigos da vizinhança.
Aos quinze anos,
Frankie começou a frequentar festas e bailes nos salões da redondeza, onde
costumava exibir seus passos de dança, e era considerado por alguns amigos como
arrojado e moderno, e por outros como ridículo e desajeitado.
O swing havia se instalado de vez em Nova
York e muita gente ia aos dance-clubs
para dançar ao som de pequenas orquestras, dando início a uma febre fantástica
que logo chamaria a atenção de alguns empresários e donos dos salões mais
conceituados.
Frankie ainda não
tinha dezoito anos quando começou a frequentar o Savoy, pagando o ingresso com
dinheiro conseguido com o suor da sua própria dança, em exibições de rua ou em
outros salões menos concorridos.
No Savoy, o
público afluía em grande quantidade para dançar e ouvir as grandes orquestras
do momento. Frankie se deslocava para lá para praticar o seu balé particular
cheio de piruetas, voltas e contravoltas trajando roupas confortáveis e cheias
de estilo que eram costuradas por Judith, e calçando mocassins baratos que
deslizavam sem derrapar.
Ele havia
participado de um concurso de dança no Lafayette Theater acompanhado dos amigos
Frieda Washington, Billy Ricker e Willla Mae (que naquele tempo, solteira,
ainda não tinha o sobrenome Ricker). Todos haviam começado a dançar digamos,
profissionalmente, na Rua 126, bem perto da Igreja Batista, exatamente no
Alhambra Ballroom, onde tocava a orquestra de Vernon Andrade. Depois,
estenderam os seus passos para o Renaissance Balroom, na Rua 138, ao som de
Claude Hopkins, uma orquestra mais conceituada que ajudou o grupo a refinar os
seus passos.
Nenhum dos dois
salões, no entanto, se comparava ao Savoy. O Savoy era a verdadeira escola de que
eles precisavam para se graduar no “métier”.
Era no Savoy que se apresentavam os verdadeiros astros do swing, como Fletcher Henderson, Jimmie Lunceford, Chick Webb e
outras orquestras do mesmo calibre.
Nesta época, o lindy hop já se difundira razoavelmente
pelo Harlem, e alguns grupos de dançarinos estavam se formando, como os de
“Shorty” Snowden e de “Twistmouth” George, mas o grupo criado por Herbert White
era o mais profissional e o preferido do público.
Assim, foi uma
grande e alegre surpresa para Frankie Manning e seus amigos quando Herbert
White “em pessoa” os convidou para ingressar no Whitey’s Lindy Hoppers. White ficara empolgado com a dança moderna e
cheia de estilo que eles haviam apresentado, principalmente no que dizia respeito
a Frankie e Frieda – em especial um passo acrobático que mais tarde seria
denominado “aerial step” (passo
aéreo), tal o seu grau de dificuldade e arrojo.
Frankie não sabia,
naquela noite iluminada, que ele estava iniciando uma carreira que faria dele
futuramente o embaixador da dança do swing,
com milhares de apresentações nos salões e palcos americanos, e de centenas de
excursões feitas durante mais de sessenta anos por todo o mundo, acumulando as
funções de dançarino e coreógrafo, participando de filmes, programas de
televisão e workshops de dança.
Manning morreu de
pneumonia em abril de 2009 aos 94 anos, e a data do seu aniversário – 26 de
maio – se transformou no “Dia da Celebração do Lindy Hop” e costuma reunir
dançarinos e instrutores de todo o mundo em Nova York.
O lindy hop continuaria com certeza a ser uma
atração das noites americanas e teria atravessado décadas com ou sem a presença
de Frankie Manning. No entanto, é forçoso dizer que a difusão do swing como espetáculo cênico deve muito
a ele.
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