AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
FINAL DO CAPÍTULO 13 - O SWING E O JAZZ
É interessante notar
que diversas orquestras utilizaram o idioma e o estilo de Duke Ellington – caso
de Charlie Barnet, Hal McIntyre e Dave Mathews – mas acabaram sendo rotuladas
apenas como “orquestras de dança” porque jamais chegaram perto da sua
genialidade.
Louis Armstrong,
que a princípio via o crescimento do swing
com certo desprezo por considerá-lo uma apropriação indevida dos músicos
brancos sobre a música negra, acabou se rendendo às evidências e terminou por
declarar que, naquilo que lhe dizia respeito, jazz e swing eram realmente a mesma coisa, e citava como exemplo os seus próprios
arranjos para as músicas “Dinah”
e “I Cover The Waterfront”,
onde a orquestra tinha uma atuação absolutamente “swingada” mesmo dentro de uma interpretação no estilo
predominantemente chicago.
Armstrong
completava, dizendo que “a nomenclatura
nunca tinha sido o ponto forte do
jazz”. No início do século vinte, a música de Buddy Bolden era chamada de
jazz, de blues e até de ragtime,
e o mesmo aconteceu com Jelly Roll Morton antes de 1920. O próprio traditional jazz teve outras
denominações e foi também conhecido por stomp,
jazz hot, hot music, new orleans, dixieland, primitive jazz e oldtime jazz. Outros estilos pianísticos tocados na época, como o barrelhouse
e o honk-tonk, e mais tarde o boogie-woogie, também eram rotulados
como jazz, com o qual mantinham certas similaridades.
Nada mais
estranho, portanto, em termos de nomenclatura, do que tentar dissociar o swing do jazz, porque eles são, se não
exatamente a mesma coisa, pelo menos parentes muito próximos.
O saxofonista
Benny Carter tinha a mesma posição a respeito do assunto. Para ele, uma
possível diferença entre jazz e swing
residisse apenas na forma como a música era “utilizada”.
O jazz da época (leia-se
new orleans, dixieland e chicago) era
destinado a um público que preferia prestar atenção no trabalho dos músicos,
ouvindo cada detalhe e apreciando a música com movimentos corporais que normalmente
se resumiam à marcação do ritmo com gestos de cabeça, batidas com as palmas das
mãos sobre os joelhos, ou pancadas com os pés no chão, seguindo o compasso da
música, uma ou outra gargalhada de satisfação. Era o negro reverenciando a
música negra.
O swing, no entanto, era perfeito para
aqueles que gostavam de dançar e sentir o som maciço penetrar pelos poros, sem
necessidade de se fixar atentamente na orquestra. Como qualquer outro tipo de
música dançante, o swing permitia ao
público se manifestar ruidosamente e manter conversas paralelas mesmo enquanto
os músicos executavam a sua parte. E, apesar do esmero com que os músicos se
vestiam, a atenção das pessoas era geralmente destinada para elas mesmas, seus
trejeitos e os seus novos passos inventados. Como se faz numa danceteria do
século vinte e um.
Assim, de acordo
com Benny Carter, “a palavra ‘jazz’
representava o som que saía de cada instrumento individualmente, movido pela
emoção do instrumentista, e a palavra ‘swing’ representava o som total resultante
de toda a equipe de executantes, orientada pelo arranjador e pelo maestro”.
O vibrafonista Red
Norvo, que comandou diversos quintetos e sextetos, executava swing sem preparar os arranjos, e tudo
nascia espontaneamente como acontece com boa parte dos músicos que tocam jazz.
Norvo achava que não procedia a ideia de que “swing” significasse “música feita exclusivamente sobre partituras”
e considerava que a liberdade do músico de jazz poderia ser usada por a ele sem
que houvesse qualquer interferência na interpretação e no resultado final.
Ao contrário de
Armstrong e de outros músicos da velha guarda de Nova Orleans, Red Norvo sempre
falou do swing com admiração, e
considerava o seu advento como “um
aprimoramento daquela desagradável doutrina do dixieland” (sic), por mais absurda que possa parecer esta
afirmação. Mas Norvo era branco e havia nascido em Beardstown, no Illinois,
portanto não teve a oportunidade de participar da festa que se desenvolveu na
Louisiana no início de tudo e não foi, assim por dizer, contagiado pelo som
dominante do stomp.
Outro
vibrafonista, Lionel Hampton, que mais tarde se transformaria também em bandleader, garantia que o swing que ele tocava na orquestra de
Benny Goodman era jazz autêntico. Esse jazz ficava ainda mais autêntico quando
o swing era tocado pelo quarteto de
Goodman, com os dois, mais Teddy Wilson no piano e Gene Krupa na bateria, ou
com o efêmero quinteto que contava com a qualidade do guitarrista Charlie
Christian.
O que fica claro,
e parece mesmo definitivo, é que o jazz como gênero é um todo, sendo o swing uma parte desse todo, assim como
os outros estilos anteriores ou posteriores a ele.
O jazz veio do
canto do negro, do blues e do gospel e recebeu as influências da
música de banda militar, das orquestras europeias e do ragtime. A partir daí, ele fez surgir uma diversidade de estilos, e
de estilos dentro de estilos, sem que nenhum estilo tenha se sobreposto a
outro. Pelo contrário, cada estilo emergente sempre assumia e admitia elementos
provenientes dos outros já existentes.
O swing fez o jazz progredir em direção à
modernidade exigida pela tecnologia, pelas engrenagens sociais do século vinte
e pelas demandas da “flaming youth”
(“juventude inflamada”), jovens que chegavam à pós-adolescência com uma visão
artística e cultural diferente da geração anterior e que começaram a impor seu
estilo musical preferido no transcorrer dos anos 1920.
Assim, o swing foi se impondo e começando a fazer
parte de uma família que teve como ancestral o jazz tradicional (new orleans, dixieland, chicago) e que
teria como descendentes todos os estilos do jazz moderno (bebop, hard bop, cool jazz, east coast, west coast, progressive, third stream, mainstream,
funky) e do jazz contemporâneo (free jazz,
jazz fusion, jazz funk, acid jazz e
todas as demais tendências).
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