AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 15 - O EFEITO SWALL STREET
(continuação)
Por
estranho que
possa parecer, mesmo com um índice de desemprego e falências jamais
experimentado, havia no ar alguma expectativa de que a situação econômica
desfavorável não durasse muito tempo, e de que tudo não passava afinal de um
mal estar passageiro.
Pelo menos era
assim que entendiam alguns dos sábios do sistema econômico, que consideravam os
problemas de Wall Street apenas uma crise um pouco mais aguda do que o normal.
Na opinião destes financistas, o sistema se estabilizaria por si só, por meio
dos intrincados mecanismos da oferta e da procura, e a volta à normalidade
seria apenas uma questão de semanas.
Antes da
derrocada, quando o milagre econômico já dava mostras de ser bom demais para
ser verdade, o economista britânico John Maynard Keynes, um dos pais do
capitalismo liberal, dava seu palpite a respeito do futuro dos Estados Unidos,
com base no crescimento do volume de negócios nas Bolsas de Valores.
Numa palestra
proferida na Universidade de Cambridge–Inglaterra em 1927 enquanto promovia a
divulgação do seu livro Liberalism And Labour, Keynes garantia que “we
will not have any more crashes in our time” (“nós não teremos
mais nenhuma quebra de Bolsa nos nossos tempos”), se referindo ao Reino
Unido em especial, mas tendo como base os alicerces de Wall Street.
No dia 12 de
janeiro de 1929, o presidente da poderosa Pierce Arrows Motor Car Co., Myron E.
Forbes, declarava de uma forma otimista numa reunião de acionistas que “there will be no interruption of our
permanent prosperity” (“não haverá
qualquer interrupção na manutenção do
nosso lucro”), opinião que seria confirmada em setembro, portanto um mês
antes da tragédia, pelo economista americano Irving Fisher, que tranquilizava o
mercado e os acionistas, afirmando que “there may be a recession in
Stock prices, but not anything in the nature of a crash” (“poderá haver
alguma recessão nos valores da
Bolsa, mas nada que possa significar uma quebra”).
No fatídico 24 de
outubro, mesmo quando o pânico já havia se instalado e que os castelos de
cartas começavam a ruir, o presidente do Conselho do Banco Continental Illinois
de Chicago, Arthur Reynolds, ainda estava persuadido de que tudo não passava de
uma instabilidade passageira. Ele declarou aos seus diretores, convocados para
uma reunião de emergência – “This crash
will not have effect on business” (“esta
quebra não terá nenhum efeito nos
negócios”), o que mostra uma certa ingenuidade e prova a confiança
ilimitada que os capitalistas da época tinham no sistema.
Em muitas outras
declarações, figurões como o economista Stuart Chase (que se notabilizou pela luta
em defesa do consumidor e pelas críticas feitas à propaganda enganosa), o
Secretário do Tesouro Andrew W. Mellon, o respeitado autor e analista
financeiro Reed W.McNeel e o presidente da Equitable Trust Company, Arthur
W.Loasby, se preocupavam em tranquilizar a população e mostravam claramente não
acreditar que a situação fosse tão séria.
Eles não queriam
admitir, mas na verdade o país experimentava a sua pior crise desde a Guerra
Civil de 1861, que viria gerar mais de quinze milhões de desempregados. Em 1933
a taxa de desemprego atingiria à marca sufocante de 25%, correspondendo a um
quarto de toda a força de trabalho americana. Poucos eram os americanos que
tinham dinheiro para gastar, e a situação se agravava nas classes mais pobres e
entre os negros.
Os problemas financeiros
iam desde o fechamento de instituições financeiras até falências no comércio e
na indústria, o que provocaria intensos problemas sociais, como a fome, as
doenças e a insegurança, com grupos de pessoas saqueando pontos estratégicos
onde gêneros alimentícios e medicamentos pudessem ser encontrados.
A crise de 1929
não se limitou aos Estados Unidos. Ela se espalhou pelo mundo e fez estragos em
diversos países, especialmente na Alemanha, Austrália, Itália, França, Reino
Unido e Canadá. O Brasil e o restante da América do Sul não foram tão
fortemente afetados por não serem na época países industrializados, e a União
Soviética, fechada à economia capitalista, não deu sinais de sentir o problema.
Na Alemanha, a
recessão influenciou na história do país e do mundo, pois fez surgir o Partido
Nacional Socialista, propiciando o nascimento político de Adolf Hitler.
Com toda esta
convulsão atingindo Wall Street, o coração financeiro de Nova York, todas as
atividades dos Estados Unidos sofreram um considerável abalo, e a música não
seria uma exceção.
A maioria dos
músicos profissionais procurou refúgio em casas clandestinas onde tocavam por
uma ninharia numa situação de risco total, pois ninguém garantia que os
contratos seriam cumpridos conforme combinado. Além do mais, a violência
campeava na noite das grandes cidades, onde a Máfia controlava seus territórios
na base da bala.
Louis Armstrong
logo percebeu que “o mar não estava para peixes” e mudou a sua estratégia de
conduta. Ao invés de procurar contratos de médio prazo com as melhores casas
noturnas de metrópoles como Chicago ou Nova York, ele afivelou as malas e
começou a fazer turnês curtas que iam até a Califórnia. Para assegurar que o
público se faria presente, Armstrong modificou seu repertório, dando ênfase às
músicas mais populares e menos jazzistas, como “My Sweet”, “Memories Of You”, “Just A Gigolo”, “Blue Again” e “Them There Eyes”, às quais adicionava
o seu estilo brincalhão.
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