segunda-feira, 2 de novembro de 2020

 


AS CORES DO SWING
            (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 17 - O HOMEM POR DETRÁS DO TRONO
            (continuação)

Louis Armstrong era o músico que Fletcher Henderson precisava para impulsionar a sua orquestra em direção ao jazz. Ele tinha certeza que contando com Armstrong, Redman, Hawkins e o recém-contratado saxofonista Benny Carter, ele faria as mudanças musicais que desejava.

De qualquer forma, Henderson não se precipitou. Primeiro consultou Don Redman, que ficou entusiasmado com a ideia. Depois buscou obter a confirmação de que Armstrong já havia se mudado para a banda de Ollie Power. Aí então, ele resolveu escrever para Louis Armstrong e lhe fazer uma proposta irrecusável.

Na carta, ele propunha a Armstrong um lugar de destaque na orquestra, liberdade total para criar os seus solos e a oportunidade de mostrar o seu trabalho para um dos melhores públicos de Nova York em uma das suas melhores casas, o Roseland Ballroom, além de um bom dinheiro pela transferência de cidade.

Com a carta na mão e Lil’ Hardin nos calcanhares, Armstrong decidiu deixar a banda de Ollie Powers e aceitar o convite de Fletcher Henderson, carregando com ele – para o desencanto de Joe King Oliver - o clarinetista Buster Bailey, que tocava com King e chegaria a Nova York um mês depois.

Antes de partir de Chicago, Armstrong foi se despedir do velho mestre Joe Oliver. Este, mesmo bastante descontente e desapontado com o êxodo de alguns dos seus melhores músicos – além de Armstrong e Bailey, também o trombonista Honoré Dutrey e o clarinetista Johnny Dodds haviam buscado um novo caminho – desejou boa sorte ao seu amigo e antigo pupilo, e prometeu que iria visitá-lo algum dia em Nova York, o que nunca chegou a acontecer. No final de 1925, Louis Armstrong e Lil’ Hardin se mudaram para Nova York, dando início a uma nova fase para a orquestra de Fletcher Henderson e para a própria carreira do trompetista.

Com Armstrong, os arranjos de Redman ganharam força, graça e dramaticidade. Muitas das partituras foram reescritas para projetar o trompete, o que dava à orquestra um som característico do estilo new orleans, embora envolvido pelo clima polifônico típico das orquestras da época.

Aos poucos foram desaparecendo os tangos, as valsas, as músicas de dança e a semelhança com o estilo de Paul Whiteman, dando lugar a um som repleto de blues e de dixieland, com uma inequívoca pulsação feita à base do estilo chicago.

          Armstrong, no entanto, preferia a vida de Chicago aos agitos de Nova York, e depois de treze meses de intenso sucesso, resolveu regressar à antiga cidade para tocar no Vendome Theatre com a Erskine Tate’s Orchestra, que se tornara famosa por servir de fundo musical para filmes do cinema mudo.

          A participação de Louis Armstrong junto a Fletcher Henderson pode ter sido curta, mas foi decisiva para os rumos da orquestra. Com a sua presença, Henderson amadureceu o suficiente para se tornar a influência mais marcante de um novo estilo que estava por surgir na década seguinte.

          A saída de Armstrong modificou parte da sonoridade da orquestra de Fletcher Henderson, mas não tirou o seu brilho. Ficou claro para Henderson que a semente já havia sido lançada e, à medida em os demais músicos se sentiam integrados ao “drive” do maestro, tudo ficou mais fácil. Ele tinha um estilo inovador nas mãos.

          Em 1927, Henderson enfrentaria outra perda importante. Don Redman foi convidado por Jean Goldkette para dirigir a McKinney’s Cotton Pickers, que fazia sucesso no Arcadia Ballroom de Detroit, e levou Benny Carter com ele – nada, no entanto, tão sério que pudesse tirar a orquestra do rumo. A esta altura, Fletcher Henderson assumia completamente os arranjos da orquestra e fazia outras alterações harmônicas e tonais que direcionariam a sua música para um estilo big band, deixando um pouco de lado a forte influência do dixieland/chicago que marcara a época de Armstrong e Redman.

          Em pouco mais de quatro anos, o neo-cientista que chegara a Nova York para se pós-graduar em química e farmácia já estava conduzindo uma das mais importantes orquestras do país, cujo som coincidia com o nascimento de uma música que faria parte da história dos Estados Unidos – o swing.

          Fletcher Henderson dava inegáveis mostras do seu talento como músico, maestro e organizador.

Daddy & Mama Henderson, meio a contragosto, aplaudiam em Atlanta o sucesso de Smack.

 

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