sábado, 7 de novembro de 2020




AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 17 - O HOMEM POR DETRÁS DO TRONO
(continuação)

Apesar da sua pouca idade – ele tinha cerca de trinta e cinco anos - Henderson na verdade se sentia um veterano e já estava cansado de cuidar da orquestra. Ele não sentia mais o prazer de se apresentar para uma grande plateia nem em ouvir aplausos e gritos de incentivo. O que ele gostava mesmo era de trabalhar com a música – arranjo e composição – o que fazia por horas a fio trancado num estúdio ou na sua própria casa.

Henderson também era constantemente procurado por outros músicos para opinar sobre um ou outro arranjo ou para ajudar na finalização desta ou daquela melodia, o que fazia com imenso prazer.

Fletcher Henderson era um dos raros músicos negros que escreviam arranjos para músicos brancos, como era o caso dos maestros Isham Jones e Tommy Dorsey, que muitas vezes utilizavam os seus serviços. Deste modo, não foi nenhuma surpresa quando, numa tarde em que se ocupava escrevendo um novo arranjo para “Gulf Coast Blues”, uma velha composição de Clarence Williams, ele tenha recebido a visita inesperada do produtor John Hammond, com quem já mantinha um relacionamento amistoso.

Hammond estava no momento se dedicando a promover a orquestra de Benny Goodman e viera negociar com Henderson a compra de algumas partituras para incrementar o som da nova orquestra. Goodman possuía muitos músicos de qualidade e Hammond tinha certeza de que, com os arranjos apropriados, eles iriam fazer a orquestra pontificar não apenas em Nova York, mas também em outras cidades dos Estados Unidos. Ele adiantou que já estava inclusive alinhavando os detalhes finais para uma turnê nacional que chegaria até Los Angeles.

Os primeiros arranjos escritos por Henderson para Benny Goodman se revestiram de absoluto sucesso e mostraram que, como sempre, John Hammond tinha razão quando tomava decisões. As músicas “When Buddha Smiles” (Nacio Herb Brown), “Blue Skies” (Irving Berlin), “King Porter Stomp” (Jelly Roll Morton) e “Down South Camp Meeting” (Irving Mills e Fletcher Henderson) foram escolhidas para ser o tiro de partida da orquestra de Goodman na sua caminhada em busca do reconhecimento do mundo artístico.

Na verdade, o que Fletcher Henderson fez de imediato foi tirar da gaveta os arranjos que ele havia feito para a sua própria orquestra e adaptá-los para um novo tipo de lineup. Depois, quando a demanda passou a ser feita para músicas inéditas, ele começou a usar a sua genialidade a fim de ressaltar os pontos fortes de Goodman e dos seus principais músicos.

Henderson ficou tão animado com o seu novo trabalho de arranjador, que em 1935 resolveu desfazer a sua orquestra para se preocupar somente com arranjos. A associação celebrada entre ele e Benny Goodman era bastante lucrativa e a produção aumentava na medida em que Goodman decidia inovar o repertório.

Não passou muito tempo, porém, para que ele se visse tentado a retomar sua função de bandleader. Ele tinha à sua disposição músicos do quilate do saxofonista Chu Berry, do baterista Sidney “Big Sid” Cattlet, do clarinetista Buster Bailey, do contrabaixista John Kirby e do misto de banjoísta e saxofonista Hilton Jefferson, e se animou a reiniciar as suas atividades de maestro com muita disposição, embora continuasse decidido a não sair de Nova York.
Foto: O Benny Goodman Trio (Lionel Hampton - vibrafone, Benny Goodman - clarineta - Teddy EWilson - piano), muito sucesso com arranjos escritos por Fletcher Henderson. 

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