AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 18 - AS RAZÕES DO DECLÍNIO
(continuação)
Quando a
Segunda Guerra estourou, em 1939, os Estados Unidos conseguiram manter
distância da zona de conflito por algum tempo, apesar de defenderem abertamente
a posição da França e da Inglaterra, que haviam se aliado contra as forças alemãs
– estas mais tarde reforçadas pelos italianos – colaborando intensamente com a
logística de guerra e auxiliando no esforço bélico com recursos materiais.
Aí então o Japão
começou a sua própria guerra, fazendo uma aliança independente com o chamado Eixo,
e reforçando a visão apocalítica de um mundo totalitário. O bombardeio de Pearl
Harbor, base militar americana no Pacífico, no dia 7 de dezembro de 1941,
finalmente forçou os Estados Unidos a entrarem de cabeça no conflito, o que
veio adicionar uma série de problemas sociais e econômicos à nação.
O país reagiu
entre o indignado e o surpreso ao que se chamou de “vil traição do Império
Japonês”, porque o ataque fôra inesperado e, de acordo com os americanos, sem
um motivo aparente.
Mas havia um
motivo, na verdade.
A Liga das Nações,
organismo político apartidário que antecedeu a ONU, liderada pelos Estados
Unidos e pela Inglaterra, havia votado uma moção de censura ao Império Japonês
pela sua beligerância na Ásia, criando uma relação diplomática insustentável
depois da invasão da China pelos nipônicos em 1937. Por outro lado, os
japoneses entendiam que uma base militar americana tão poderosa nas cercanias
das suas ilhas, se constituia numa forte ameaça à sua segurança nacional. Daí,
aproveitando o estado de guerra que reinava no mundo e a desatenção americana,
resolveu atacar e destruir Pearl Harbor.
Com a entrada dos
Estados Unidos na guerra, o jazz também tomou o seu partido. O swing vestiu o uniforme e se deslocou
para as diversas frentes de batalha, com muitos músicos se alistando e partindo
para o combate isoladamente ou com orquestras inteiras trabalhando sob intensos
bombardeios a fim de contribuir com o moral das tropas.
A revista Downbeat
mencionou num dos seus artigos que “os músicos de jazz não são neste
momento apenas músicos de jazz: eles são soldados da música”.
Muitas orquestras
não saíram do país, mas também contribuíram com o seu quinhão ao se
apresentarem de graça para angariar fundos e participar de campanhas de bônus
de guerra.
Os blecautes eram constantes, o que
arrefecia ainda mais o ânimo de uma população abalada por ver seus filhos
partindo para a luta na Europa, na Ásia e no norte da África, e criava por
assim dizer um estado de pânico, pois apesar da enorme distância que o país se
encontrava das frentes de batalha, sempre havia o temor de que a aviação alemã
pudesse atravessar o Atlântico e despejar bombas nas principais cidades do
leste americano, o que incluía Nova York e a capital Washington D.C.
E, embora a costa
oeste não fosse tão próxima do inimigo japonês, os cuidados tomados com a
proteção de San Francisco, Los Angeles e outras cidades à beira do Pacífico
foram redobrados.
Além disso, o
governo estabelecera um imposto de vinte por cento sobre todo tipo de diversão,
o que ajudou na economia de guerra, mas contribuiu ainda mais para o
esvaziamento dos ballrooms. Isto, somado ao racionamento de combustíveis
e de pneus, complicou o deslocamento das orquestras que firmavam contratos para
se apresentar em outras localidades do território americano. Sem a possibilidade
de viajar nos seus próprios carros, os músicos tinham que utilizar os luxuosos
e caríssimos trens Pullman, o que encarecia e inviabilizava muitas turnês.
Por fim, o esforço
de guerra acabou por atingir as fábricas de instrumentos musicais e também as
gravadoras, pois a indústria do país teve que dedicar a sua atenção para a
produção de armas, equipamentos e apetrechos como botas e cantis, além de
uniformes, alimentos e medicamentos para minimizar as dores dos combatentes.
A Segunda Guerra
Mundial modificou consideravelmente o elenco de muitas orquestras. Muitos
músicos se alistaram, de modo que orquestras famosas, como a de Tommy Dorsey e
a de Benny Goodman (Dorsey não foi para a frente de batalha por causa da idade,
e Goodman por ter um problema de coluna), tiveram que substituir muitos
instrumentistas de peso por rapazolas recém-saídos das escolas, obrigando-se a
pagar salários altos por causa da escassês da mão-de-obra e da exigência dos
sindicatos, e com isso sofrendo com a queda de qualidade.
Em apenas quatro
meses o trombonista Jack Teagarden perdeu dezessete músicos da sua orquestra e
a reposição foi dura e onerosa. Em igual ou menor escala, o mesmo aconteceu com
Benny Goodman, Benny Carter, e toda uma coleção de big bands.
Com o custo
comprometido, muitas orquestras optaram pelo encerramento das atividades, pelo
menos por algum tempo, como foi o caso de Count Basie, Fletcher Henderson, e
outras tantas.
Os diretores de
orquestra tiveram que enfrentar, adicionalmente, movimentos paredistas das
gravadoras e a pressão dos sindicatos pela busca de melhores salários e maior
flexibilidade nos contratos dos músicos. Entre 1942 e 1944 as gravadoras
decretaram greve geral e nem um só disco foi gravado nos Estados Unidos.
Um dos motivos que
desencadeou o movimento dos sindicatos e das gravadoras contra as orquestras é
que muitos artistas, especialmente os vocalistas, chamados de “crooners”
– boa parte responsáveis pela presença de público – eram obrigados a assinar contratos
leoninos que os impediam de fazer gravações ou shows independentes. Assim os
vocalistas das principais orquestras foram aqueles que mais se beneficiaram com
a contestação dos sindicatos, pois muitos deles conseguiram se desligar das
amarras que os prendiam aos contratos e investir em suas mais lucrativas
carreiras solo.
O caso mais
notório foi a alforria que o cantor Frank Sinatra ganhou da orquestra de Tommy
Dorsey em 1942, embora neste caso a lenda diga que a Máfia teve mais poder de
persuasão do que os sindicatos.
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