AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 18 - AS RAZÕES DO DECLÍNIO
(continuação)
Com a
chegada dos
discos de vinil de 78 rotações com 12 polegadas e, depois, dos discos de 33 1/3
e de 45 rotações por minuto, abriu-se a possibilidade da execução de arranjos
mais elaborados, o que permitiu que bandleaders,
compositores e arranjadores pudessem trabalhar com mais criatividade – caso das
parcerias Duke Ellington/Billy Strayhorn, Count Basie/Sy Oliver, e diversas
outras – com gravações que tinham condições de reproduzir o som das orquestras
“sem corte”.
É claro que, em
alguns casos, os curtos três minutos eram mais do que suficientes para que o
compositor-arranjador-maestro mostrasse a eficiência e a beleza da sua arte, e
que a possibilidade de “esticar” a apresentação nem sempre significaria uma
melhoria de qualidade.
Alguns exemplos de gravações curtas – mais ou menos
três minutos – e bem acabadas são “Yesterdays” (com a orquestra de Artie Shaw),
“Tiger Rag” (Benny Goodman), “One O’Clock Jump” (Count Basie), “Trumpet Blues”
(Harry James), “Opus Number One” (Tommy Dorsey), “Mush Mouth” (Claude Hopkins),
“The Man From Harlem” (Cab Calloway), “Let’s Get Together” (Chick Webb),
“Passionette” (Teddy Hill), “Jimtown Blues” (Ben Pollack), “Uptown Blues”
(Jimmie Lunceford), “Can You Take It?” (Fletcher Henderson), “Cloudburst” (Ted
Heath) e “Flany Doodle Swing” (Earl Hines), entre outras.
No entanto, para
os músicos mais criativos, poder dispor de mais tempo tornava possível a busca
de melhores fórmulas de execução.
A possibilidade de
explorar melhor o tempo de uma gravação se deu exatamente quando muitos
músicos, não totalmente satisfeitos com o swing,
procuraram uma nova forma de criar sobre o tema de modo a reduzir a quantidade
de executantes e permitir um maior número de compassos de execução para cada
músico, dando assim uma maior liberdade aos solistas.
Estes
músicos reclamavam que o seu trabalho como executante criativo ficava
prejudicado em uma orquestra completa, onde eles eram obrigados a seguir as
ordens do maestro e os detalhes dos arranjos, sobrando-lhes pouco tempo e pouco
espaço para discorrerem sobre seus improvisos, limitados a uns poucos
compassos, ou seja, as novas ideias surgiam e morriam porque eles não dispunham
de condições para colocá-las em prática. Alie-se esta mudança à necessidade de
se “enxugar” as orquestras por razões econômicas, reduzindo-se o número de
participantes e assim deixando de manter um guarda-roupa caríssimo, além de
economizar nas viagens e estadas, e de poder cobrar cachês mais modestos.
Tudo
isto acabou motivando e justificando o surgimento do bebop, que reinaria
na década de 1940 até meados dos anos 1950, dando origem posteriormente a
diversas variações bop – o hard bop (que apesar do termo “hard” era mais melódico e menos duro do
que o bebop original), o cool jazz, o east coast e o west coast – que modificariam
toda a estrutura do jazz da segunda metade do século vinte.
Com
o evento da televisão, as grandes orquestras de swing deixaram de lado os populares programas radiofônicos e
reduziram as suas apresentações nos salões de dança, começando aí o declínio de
muitas casas de espetáculo. Afinal, muita gente agora podia ficar em casa,
confortavelmente sentada numa poltrona e ver a sua orquestra favorita pela
televisão em vez de se deslocar até o salão.
É
bem verdade que o clima de um dance club
era insubstituível – afinal, em casa, dançar era totalmente impraticável, e
mesmo aquela bebida amiga quando ingerida em casa adquiria um sabor doméstico
de café com leite.
Devido
à praticidade da televisão, o rádio (que fora responsável pela divulgação de
muitas orquestras, como as de Bennie Moten, Benny Goodman, Count Basie e Elliot
Lawrence) começou a perder o espaço dos programas musicais e teve que repensar
a sua linha de atuação.
As famosas noites
de sábado, domingo e segunda-feira foram se desvanecendo, e muitos salões
começaram a fechar ou a mudar de ramo por falta de público. A televisão
divulgava o trabalho das orquestras de uma forma mais abrangente,
desmistificando os mistérios e segredos que as ondas do rádio não conseguiam
mostrar.
As orquestras,
porém, nem sempre recebiam das emissoras de televisão os valores habitualmente
recebidos nos dance clubs, pois todo
acerto contratual dependia de uma verba de patrocínio para bancar os minutos
caríssimos e o pessoal especializado. Manter uma emissora no ar custava
substancialmente mais caro e exigia uma mão-de-obra mais qualificada do que
manter os salões de baile, cuja folha de pagamento se resumia a apenas um
gerente, um porteiro “leão-de-chácara”, meia dúzia de garçons e alguns
funcionários menos cotados.
Os hábitos do
cidadão americano de classe média também se modificaram com o final do período
da recessão. A euforia voltou, e a vida moderna começou a oferecer outras
opções de entretenimento.
Naquela altura,
muita gente podia comprar o seu carro e viajar pelo país, de modo que o público
fiel dos salões de baile deixou de ser um público fiel à cidade e aos antigos
costumes.
O povo americano
parecia caminhar celeremente em busca de uma modernidade desconhecida que
colocaria os “good times” – tempos em que as grandes orquestras haviam
ocupado um lugar de destaque na diversão dos seus pais e avós – no campo das
boas lembranças. Em outras palavras, o swing
estava começando a ficar fora de moda, e já nos anos 1950 as próprias
orquestras – como as de Duke Ellington, Stan Kenton, Claude Thornhill e Woody
Herman – procuravam executar uma música que não privilegiava a dança, mas
ressaltava a força do jazz, originando daí o chamado estilo “progressive swing”.
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