sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

 


TEMPOS DIFÍCEIS

(Augusto Pellegrini)

Tempos difíceis vivemos
De confinamento e tédio
Mas nosso melhor remédio
É conformar com o que temos

Temos que ficar em casa
Como fosse numa cela
E assim se esvai vida bela
Pois quebraram nossa asa

Mudou tudo em nossa vida
A noite, a roda de amigos
Mesmo assim ainda consigo
Tê-la menos reprimida

Com a tecnologia
Eu vejo de tudo um pouco
Mas o que me deixa louco
É a mesmice do dia-a-dia

Deixei de cantar, é certo
Nas noites de vinho e jazz
Pois não posso por meus pés
Lá fora, no descoberto

Não posso pra rádio ir
Pra fazer o Sexta Jazz
A assim fico, num viés
Sem falar, sem produzir

O meu programa querido
Com quase quarenta anos
Com pesar e desengano
Passou a ser repetido

As minhas aulas de inglês
Entre outras empreitadas
Começam a ser adiadas
Quem sabe pro outro mês

A alternativa, então
Mesmo com vã contumácia
É caminhar até a farmácia
Para medir a pressão

Ou ir ao supermercado
Nas horas mais sossegadas
Ver prateleiras esgotadas
Do produto procurado

E pra aumentar a lambança
Dizem, se bem me lembro
Que antes de chegar setembro
Não haverá qualquer mudança

Já me sinto enferrujado
Com a falta de movimento
Ansiando pelo momento
De ser enfim libertado

Poder cantar como antes
Enturmar com quem se ama
Renascer com o programa
E levar a vida adiante

Março 2020

 

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