PÁGINAS ESCOLHIDAS
O
FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)
CLICHÊS
– O FILME DE BANG-BANG
No alpendre de uma barbearia abandonada uma placa
balança como se fosse o corpo do enforcado e um velho desdenta do masca um
fiapo de capim, com o chapéu enterrado sobre os olhos. Uma caneca de estanho
repousa sobre o corrimão contendo um resto de café requentado.
Corte.
Um homem está à procura dos bandoleiros que destruíram a sua casa, incendiaram
o celeiro e mataram o velho Joe. John Wayne, no mais emocionante papel de sua
carreira.
Corte.
Maureen O’Hara de cabelos vermelhos se atira nos braços do gala e pede para ele
não ir. Um generoso decote revela um opulento par de tetas que o poeta chama de
regaço, nas o nosso herói não presta atenção em detalhes, e então vem o beijo e
a partida.
Corte.
Saloon cheio de gente bebendo uísque de milho e Jack Palance pede mais um para
o garçom assustado. Ele faz cara feia, ele tem cara feia, ele é um cara feia, toma
o seu gole e limpa a boca com o dorso da mão esquerda.
Corte.
John Wayne entra triunfalmente no saloon com um chute na porta de vai-e-vem.
Silêncio sepulcral. Enfim o confronto. Ao cabo de algum tempo o bandoleiro é
arrastado pelas pernas depois de um “uppercut” na ponta no queixo, um cruzado
de direita no fígado e uma bala no abdome. No fundo musical ouve-se “High Noon”,
enquanto John Wayne atravessa a rua empoeirada e parte em direção ao seu
destino.
A cena se perde no horizonte, diante de uma revoada de touceiras.
The End.
(Imagens da matinê
de domingo)
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