O FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)
“SCRATCH”
(DOS NAUTAS E NAUFRÁGIOS)
Cai um balde. Cai
um balde vazio. “Scratch clang clang”.
Vamos nos localizar no tempo e no espaço. Estamos no convés de um brigue.
Um bruto brigue flibusteiro, desses de assaltar passantes caso passantes houver
no mar.
O marinheiro de camiseta listrada fuma o seu cachimbo reto e se envolve em
lilazes nebulosas, cospe de lado – “chuip poff” – e – “swamp schomp” – joga o
balde sobre as cordas que um dia já enforcaram o enforcado.
‘Capitão! Capitão! Temos problemas aqui!!” – berra uma voz na ponte de comando.
Então aparece o Capitão Barba Rubra, velho lobo do mar, surpreendentemente sem
portar um só fio de barba, e também sem o tapa-olho preto e muito bem
fisicamente, pois ele é um pirata esperto que coloca seu lugar-tenente para lutar
em seu lugar (e que de tantas lutas já está meio postiço, usando olho de vidro
e perna de pau).
Barba Rubra é um biltre. O biltre bucaneiro do brigue flibusteiro.
“Que se ice a bujarrona!”
Não adianta, pois de chofre vem a chuva, a enchente da enchentes, de encher o
mar e o ar, de encher a terra e o céu, de encher o barco e o balde, de encher o
saco!!
Alguém joga o balde através da escotilha molhada e não se ouve o esperado “splash”
da queda no mar. Debalde.
Para a chuva, para o vento, cessam as vozes, o que é do barco?
Não há mais Barba Rubra, nem balde. Nem bujarrona nem mezena.
Desapareceu a corda que enforcou o enforcado.
Cânticos de sereias deslizam nas ondas gigantescas de gotas grotescas.
Não há mais nada… somente uma prancha que sobrou da ponte de comando e sobre
ela o marinheiro de camiseta listrada com seu cachimbo, de lilazes nebulosas.
(A hora final
do “Bruxa dos Sete Mares”, sob o ponto de vista do sobrevivente e seu cachimbo)
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