O LADO DO TORCEDOR
Quem viu as comemorações do povo egípcio
na cidade do Cairo no último domingo e não está antenado nas coisas do
cotidiano deve ter imaginado que eles estavam celebrando uma vitória cívica,
como a capitulação de um país inimigo numa guerra ou, mais modestamente, a
eleição de um novo presidente.
Na verdade, tratava-se da conquista de
uma vaga na Copa do Mundo, da qual o Egito não participava desde 1990 (esta é a
terceira vez que eles conseguem tal façanha – a primeira foi em 1934).
Iguais comemorações foram vistas em
outros países – entre eles Argentina, Portugal e Islândia (esta pela primeira vez
na história) – e aconteceram mesmo naqueles países cujas seleções ainda terão
que passar por uma repescagem para assegurar a vaga, caso de Austrália e
Honduras.
Participar de uma Copa do Mundo é uma
realização para todo país onde se pratica o futebol, e é possivelmente uma das
melhores maneiras de um povo exercitar seu patriotismo. Chegar à Copa e passar pela
Fase de Grupos é motivo de orgulho nacional. Chegar entre os quatro finalistas
é a realização de um sonho quase inatingível. Ganhar o título é a glória
máxima.
O Brasil é o único país que esteve presente
em todas as edições do torneio a partir de 1930 até hoje, e foi o primeiro a se
classificar para a vigésima-primeira, Russia-2018, totalizando então 21
disputas. Em seguida vem a Alemanha, com 19 participações, pois o país não se
interessou pela Copa em 1930 e foi banido em 1950 por uma sanção imposta pela
Fifa em virtude dos estragos causados na Segunda Guerra Mundial. A Itália, com
18, a Argentina, com 17 e o México, com 16, vêm a seguir.
É interessante notar que mesmo sendo o
país mais vitorioso, com 5 títulos conquistados contra 4 da Alemanha, 4 da
Itália, 2 da Argentina, 2 do Uruguai e apenas um da França, Inglaterra e
Espanha, a seleção brasileira não provoca o mesmo frenesi entre os seus torcedores
que estes outros países proporcionam.
Tudo transcorreu conforme o esperado de
1930 até 1966, quando o escrete teve o torcedor ao seu lado dentro das
limitações do acesso às notícias que o cidadão tinha naquela época (sem
internet nem transmissão direta das emissoras de televisão, a informação era movida
a telegrama e telex). Em 1970, porém, com “noventa milhões em ação”, a torcida
brasileira ficou dividida entre aqueles que torciam a favor por uma questão de
patriotismo e aqueles que torciam contra, por associarem a ideia de que uma
seleção vitoriosa traria um bônus de simpatia ao governo militar então no
poder.
A partir daí, com maior ou menor
incidência, o torcedor brasileiro oscilou entre torcer pela a seleção, torcer
contra a seleção e se manter indiferente, preferindo gastar os seus cartuchos
com o seu time do coração.
Anos mais tarde, quando começaram a
espocar as primeiras suspeitas de que a CBF não agia com a desejada lisura,
somou-se ao grupo “do contra” aqueles que pregavam a derrota da seleção como
uma solução para que as coisas fossem mudadas na Confederação.
O caldo entornou de vez e os
insatisfeitos engrossaram suas fileiras com a sequência de fiascos da seleção, Alemanha-2006
(quinto lugar com Parreira), África do Sul em 2010 (quinto lugar com Dunga) e
Brasil-2014 (quarto lugar com Felipão)
É claro que aqueles que torcem
sistematicamente contra o sucesso da “canarinho” somam uma minoria que
praticamente desaparece quando as vitórias vão se sucedendo, o que nos faz
prever uma grande festa popular tomando conta das cidades do país caso a seleção
de Tite consiga trazer o ouro de Moscou após a grande final da Copa em 15 de
julho de 2018.
(Artigo publicado no caderno de Esportes do
jornal O Imparcial de 14/10/2017)
Nenhum comentário:
Postar um comentário