AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 6 - A EXPANSÃO MUNDIAL DO SWING
(continuação)
O swing surgiu nos Estados Unidos como uma
nova mania musical quando o país começava a aparecer aos olhos do mundo, diante
de uma Europa fragilizada por uma guerra mundial e às vésperas de outra
conflagração ainda mais séria.
Muitos
historiadores procuram estabelecer o momento preciso deste surgimento, o que
leva a uma série de especulações e a nenhuma constatação, pois o fermento da
nova música começou formatar o estilo de uma maneira gradual.
Boa parte dos
historiadores sugere que o swing teve
o seu batismo em 1928, quando o pianista e líder de banda Jelly Roll Morton
gravou com os Red Hot Peppers as músicas “Georgia Swing” e “Kansas City Stomp”,
ambas compostas por ele. A banda de Morton, porém, não possuía nem a sonoridade
nem o lineup de uma verdadeira orquestra
de swing (na época, o lineup definitivo ainda estava sendo experimentado
pelo arranjador e saxofonista Don Redman).
Outros garantem
que a pulsação e as notas policrômicas do swing
nasceram em Kansas City com a orquestra de Bennie Moten ou com os Blue Devils
comandados por Walter Page. Na verdade, o embrião do swing talvez morasse em Kansas City, mas foi apenas tornado público
anos depois, com Count Basie, depois que o estilo já havia conquistado Nova
York.
Muitos creditam a
Duke Ellington a primazia de ter oficialmente lançado o swing pelo simples fato de ele ter utilizado a palavra em 1931, no
título da música “It Don’t Mean A Thing (If It Ain’t Got That Swing)”. Todavia,
quando isso aconteceu o swing já era
profusamente interpretado por um sem número de orquestras, mesmo que em busca
de uma forma final definitiva.
Uma série de
gravações executadas pela orquestra dos irmãos Dorsey em 1934 levou muitos
críticos a expressarem que ali teria efetivamente começado a era do swing, mas a orquestra era apenas mais
uma entre aquelas que apresentavam o estilo nos ballrooms de Chicago e Nova York. Outros preferem comemorar a data atrelando-a
a um memorável concerto realizado no Onyx Club de Nova York em 1936, denominado
“Concert of Swing Music”, estrelado
por Tommy Dorsey e Bob Crosby – ocasião em que a orquestra de Artie Shaw roubou
a cena como convidada coadjuvante. No entanto, outros concertos memoráveis,
estrelados por Benny Goodman, Chick Webb, Count Basie e outros tiveram a mesma
importância antológica na execução do estilo.
Qualquer que seja
a explicação, o fato é que o swing já
se encontrava pronto no final da década de 1920 para representar o espírito
americano tanto dentro dos Estados Unidos quanto na Europa, como um fino
produto de exportação. Este também seria um bom landmark para servir de referência como início do swing.
A pronta aceitação
do jazz pelo público europeu, tradicionalmente exigente em termos de música,
foi uma clara demonstração da qualidade do novo gênero nascido na América.
Afinal, eles já sentiam a necessidade de uma modernização dos padrões vigentes
nos grandes centros do Velho Continente, e a novidade vinda da América parecia ser
uma boa pedida
Se nos
transportarmos para a Europa e retrocedermos para a segunda metade do século dezenove,
iremos nos deparar com uma música popular já relativamente estagnada havia
séculos, quer por falta de uma renovação que fosse consistente quer pela
ausência de um novo gênero ou estilo.
A necessidade de
renovação estava patente e o público musical europeu se mantinha à espera de
propostas, num continente que, além de musicalmente carente, também se
encontrava vulnerável dentro do contexto político, social e econômico, o que o
tornava absolutamente suscetível a influências externas.
O século vinte
iria inaugurar uma era de realismo explícito, e a Europa se encontrava sacudida
por uma grave crise social e ideológica, da qual resultava um crescente
inconformismo e a ascensão do socialismo, bem como a explosão de um
sindicalismo revolucionário.
Em todos os
grandes centros, notadamente na França e na Inglaterra, muitos artistas procuravam
encontrar, a partir dos elementos que dispunham dentro da própria cultura
local, alguma expressão artística inovadora que trouxesse um alento para as
suas futuras perspectivas literárias, cênicas e musicais.
Mas o fim do
século dezenove havia exposto aos olhos do mundo um problema cultural que os
europeus denominaram de “crise da música”, trazido à tona pela chamada
“saturação da música wagneriana”.
De acordo com os
críticos, quando o compositor alemão Richard Wagner compôs “Tristão e Isolda”
em 1859, ele chegou às últimas possibilidades do cromatismo romântico, e a
sociedade europeia começou a questionar naquele final de século tanto o
romantismo como escola quanto as emoções dele decorrentes como motivação para
novas composições.
A música que vinha
mantendo a tradição dos últimos tempos era considerada decadente, principalmente
pelos mais jovens. No entanto, nem os compositores nem os intérpretes estavam
conseguindo construir algo diferente em termos de harmonia e sonoridade que
atendesse às necessidades dos novos tempos no que dizia respeito à
popularização da música.
Quando durante o
século vinte a música erudita se modificou, ela enveredou por um caminho oposto
daquele que foi percorrido pelo jazz, indo em direção ao hermeticismo. Muito
embora compositores como Claude Debussy, Maurice Ravel, Edward Elgar e Sergei
Rachmaninof ainda tentassem manter a linha romântica, a chamada “música
moderna” começou a usar frases dissonantes através dos “impressionistas
românticos” (Béla Bartók, Igor Stravinsky, Charles Ives) mesmo mantendo as progressões
harmônicas tradicionais. Outros, porém, como Dmitri Shostakovich, Sergei
Prokofief, Paul Hindemith e Pierre Boulez expandiram seu erutidismo sem
economizar as dissonâncias, e outros, ainda mais revolucionários, caso de
Arnold Schöenberg, Anton Webern e Alban Berg assumiram o dodecafonismo até
chegarem ao chamado “serialismo integral”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário