O MEU CONDADO
(Augusto Pellegrini)
As ruas do meu
condado
Têm calçamento de pedra
Em cujos espaços medra
Verde musgo alcatifado
Têm calçamento de pedra
Em cujos espaços medra
Verde musgo alcatifado
O chão está
preservado
Pela ausência de passantes
E quem aqui viveu antes
Não deixou qualquer legado
Pela ausência de passantes
E quem aqui viveu antes
Não deixou qualquer legado
É uma cidade
fantasma
Casas poucas, mal-cuidadas
Com paredes descascadas
Como um presépio sem alma
Casas poucas, mal-cuidadas
Com paredes descascadas
Como um presépio sem alma
Das janelas
pendem flores
Protegidas pelo tempo
Da ação do inclemente vento
Do sol e outros dissabores
Protegidas pelo tempo
Da ação do inclemente vento
Do sol e outros dissabores
Os homens que
aqui viveram
Em tempos imemoriais
De muitos anos atrás
Não honraram seus herdeiros
Em tempos imemoriais
De muitos anos atrás
Não honraram seus herdeiros
Não deixaram
coisa alguma
Móveis, qualquer utensílio
Passado de pai pra filho
Ou seja, herança nenhuma
Móveis, qualquer utensílio
Passado de pai pra filho
Ou seja, herança nenhuma
A morada tem,
de fato
A natureza como abrigo
Onde a escuridão amiga
Protege insetos e ratos
A natureza como abrigo
Onde a escuridão amiga
Protege insetos e ratos
Mas no meio do
vazio
Onde a solidão impera
Tudo é sempre primavera
E flores há, sem plantio
Onde a solidão impera
Tudo é sempre primavera
E flores há, sem plantio
Silêncio é
música ouvida
De sons ao sabor do vento
Que sopra a todo momento
Na paisagem combalida
De sons ao sabor do vento
Que sopra a todo momento
Na paisagem combalida
Este é o meu
condado
E dos meus antepassados
Que não tiveram o cuidado
De deixar qualquer legado
E dos meus antepassados
Que não tiveram o cuidado
De deixar qualquer legado
2018
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