AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 6 - A EXPANSÃO MUNDIAL DO SWING
(continuação)
Alguns
compositores eruditos,
na linha da chamada “European Music” (de acordo com a terminologia usada por
André Hodeir) tentaram embarcar na aventura do jazz mesmo sem compreender
exatamente o que era jazz naquele início de século. Na sua obra “L´Histoire D’Un Soldat”, que mistura ao
mesmo tempo narração, dança, pantomima, teatro e música, Igor Stravinsky
incluiu duas peças baseadas no ragtime
(“Ragtime Pour Onze Instruments” e “Piano Rag Music”). Maurice Ravel introduziu
o foxtrot em algumas partes da sua
fantasia lírica “L’Enfant Et Les Sortilèges”
e em dois concertos repletos de blue
notes (“Concerto In G” e “Concerto Pour La Main Gauche”).
Darius Milhaud foi
quem chegou mais perto do jazz quando compôs “La Création Du Monde” com muitos
motivos do Harlem e do blues, a começar
pela utilização da música “Saint Louis Blues”, de W.C.Handy, como principal
referência da composição.
Mais tarde,
Stravinski e Hindemith se envolveriam com a música de Benny Goodman, mas este
envolvimento se daria estritamente no campo erudito.
Indo num rumo
diferente, George Gershwin e Leonard Bernstein combinaram a música erudita com
o jazz, mas não chegaram fazer música dançante, que era a tônica do swing.
Em 1900, a música
americana ainda não havia sofrido as transformações que a levariam a ser
chamada de jazz, mas o espírito de um novo som estava presente na forma de
execução das marchas e no ragtime
estilizado que John Philip Sousa levou para Londres e Paris com a sua banda.
Além do mais, a presença do banjoísta Vess L.Ossman na orquestra trouxe um
rompimento de todas as estruturas harmônicas e formas de improviso que os
ouvidos daqueles europeus conservadores poderiam conceber na época.
Possivelmente, a
celebridade que mais abalou os alicerces da música europeia tenha sido o
clarinetista e saxofonista-soprano Sidney Bechet, que se apresentou em 1919 com
a Syncopated Southern Orchestra de Will Marion Cook. O maestro suíço Ernest
Ansermet proclamou que “Bechet era um
gênio”, e anos mais tarde o músico americano teria uma estátua na Riviera
Francesa erigida em sua homenagem.
Diversos outros
músicos americanos começaram a levar para o território europeu, primeiro os
rudimentos do jazz e depois o jazz já totalmente formatado, e muitos músicos do
Velho Continente assimilaram com muita propriedade o espírito da nova concepção
musical, sendo incentivados a compor e executar coisas semelhantes. No início
dos anos 1920, muitas obras com este sentido de renovação já haviam sido
produzidas por músicos europeus, alguns decididamente copiando os sons
americanos, outros tentando criar um jazz com identidade própria.
O swing fez parte desta nova realidade ao
lado do dixieland, e já durante os
anos 1930 existiam excelentes grupos orquestrais na Alemanha, na França e na
Inglaterra, que no futuro marcariam presença no mundo das big bands com a consolidação das orquestras de Kurt Edelhagen, Max
Gregor, Peter Herbolzheimer e Werner Baumgart (na Alemanha), de Claude Bolling,
Francy Bolland e Les DeMerle (na França), e de Humphrey Littleton, Ted Heath e
Chris McGregor (na Inglaterra), somente para citar as mais conhecidas.
É verdade que no
início da Era do Swing os europeus –
com exceção dos músicos – viam o jazz mais como uma nova forma de dançar do que
como um estilo revolucionário de música, mas ficava patente que alguma coisa diferente
estava acontecendo.
E assim, de
repente, um continente que tivera que se contentar por muitos séculos com o seu
próprio folclore e com as sempre belas e instigantes – mas pouco inventivas –
músicas regionais (como as tarantelas italianas, as czardas húngaras, as danzas
flamencas, e a coreografia campestre das danças russas e cossacas) podia agora
universalizar toda a sua arte musical, fazendo com que holandeses, franceses,
italianos, belgas e quem mais fosse pudessem interpretar o mesmo tipo de música,
sem maiores necessidades de qualquer ensaio ou mesmo de um prévio conhecimento
entre si!
A influência da
música americana no continente europeu se fez sentir especialmente nos anos que
se seguiram após a Segunda Guerra, em especial na Inglaterra, onde cresceu de
forma assustadora, propiciando uma grande escalada do blues – vide Eric Clapton, Jeff Beck, John Mayall, Long John Baldry
e outros – e de orquestras diversas, como as de Sidney Lipton, Chris Barber,
Freddy Randall e principalmente Ken Colyer.
O jazz chegou na Europa
nos primeiros anos do século vinte e de lá nunca mais saiu. Pelo contrário, ele
se expandiu, criou raízes próprias e menos de um século depois já rivalizava
com os Estados Unidos no interesse do público e na quantidade de intérpretes,
compositores, gravações, programas radiofônicos, festivais, clubes e locais de
apresentação.
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