segunda-feira, 3 de agosto de 2020





AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)

FINAL DO CAPÍTULO 6 - A EXPANSÃO MUNDIAL DO SWING

Durante a sua época áurea, o swing representou para a classe média americana a soberania do país, e foi um dos seus motivos de orgulho.
Mesmo quando teve que enfrentar os tempos magros da Depressão e as suas consequências funestas, o país se sentiu motivado e fortalecido pela força do swing.
Afinal, o swing conseguira o que centenas de discursos de políticos e previsões de economistas não haviam logrado: trazer confiança ao povo. E esta confiança aconteceu por conta da alegria da música.
Nem mesmo o ingresso na Segunda Guerra Mundial, fato que normalmente levaria a população à tristeza e ao pessimismo, conseguiu arrefecer o ânimo norte-americano.
Pelo contrário, orquestras se uniram para promover bailes com a finalidade de angariar fundos que seriam transformados em bônus de guerra. Muitos músicos se alistaram não exatamente para pegar um fuzil e sair pelo front atirando na cabeça dos soldados inimigos, mas para manusear o seu instrumento e participar de um esforço concentrado a fim de restaurar o otimismo e o alto astral das tropas.
Entre outras, duas das mais formidáveis e mais bem pagas orquestras do país abdicaram dos cachês altíssimos e do glamour dos salões para se embrenharem nas selvas das ilhas do Pacifico, sujeitas a um oceano de mosquitos e doenças tropicais, ou nos campos de batalha da Europa Ocidental, sujeitas à lama e ao inverno rigoroso: as orquestras de Artie Shaw e Glenn Miller.
Mas o swing também se tornou querido porque fez o povo dançar. E como o povo gostava de dançar o swing!
Apesar de uma parte do público considerar que jazz era uma música para ser ouvida, permitindo no máximo a batida dos pés ou o balanço do corpo, outra parte achava maravilhoso poder combinar as duas coisas – ouvir e dançar.
Esta combinação de jazz com dança foi o que de fato provocou a grande aproximação entre o swing e o povo americano, originando um namoro e um casamento que duraram cerca de trinta anos.
Como o swing tinha na sua alma a parte negra do blues, pela primeira vez na história do país, brancos e negros se uniram ao redor de uma única ideia, ainda que fosse musical. Esta comunhão ressaltou um sentimento de orgulho nacional que ajudou muito a fortalecer o espírito americano durante a Segunda Guerra e perdurou após o evento, se constituindo numa das molas propulsoras do progresso local e da integração americana com o resto do mundo que se iniciara durante o intervalo das duas Guerras, 1918 a 1938.
Dizer que o swing foi o responsável pela importância que os Estados Unidos tiveram resto do mundo no mundo seria um exagero, posto que esta importância acabou se evidenciando também nos campos econômico, político e científico. Devemos admitir, no entanto, que foi a partir do jazz tradicional dos anos 1910-1920 e do swing dos anos 1930-1940 que a música americana se impôs praticamente em todo o mundo, mesmo com a relutância dos blocos comunistas que durante muito tempo vetaram a sua execução nos seus territórios, mormente nos tempos de Guerra Fria.
Mas mesmo em Moscou, Praga, e se duvidar, até em Pequim, ouvidos ávidos pela boa música apreciavam o swing, o jazz e o rhythm & blues trancados em porões e escondedouros clandestinos, desafiando o poder da autoridade.
O swing contribuiu para que as raízes americanas se fincassem no solo europeu e colaborou para que uma grande simpatia popular fosse devotada aos Estados Unidos também em outros campos de atividades.
Depois da Coca-Cola, lançada na Europa no começo do século vinte, o swing foi a mais marcante marca registrada dos Estados Unidos da América no solo europeu.
E, assim como a Coca Cola, o swing chegava para ficar.

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