A AVAREZA
(Augusto Pellegrini)
A coisa mais bela que já se escreveu
sobre a avareza, se é que pode ser considerada bela uma narrativa sobre tão
grave defeito, foi feita por Charles Dickens, no seu Conto de Natal.
A sovinice do velho Scrooge, o fantasma
do seu sócio Morley, as visagens dos Natais passados, a premonição do próximo Natal
e o espectro dos Natais futuros dão uma dimensão de ternura e horror poucas
vezes vista na literatura universal como se, num relance, casássemos Poe com
Grimm.
Assim, qualquer tentativa de discorrer
sobre este pecado capital será uma mera aproximação do impacto já conseguido
por Dickens, além do fato incontestável de que a avareza hoje em dia já não
representa tantas maledicências divinas como nos ensinou a Santa Madre Igreja.
O próprio Estado cultua e aconselha a
avareza na sua forma mais pura – a poupança. Administradores e economistas são unânimes
em afirmar que uma usurazinha bem planejada não faz mal a ninguém e talvez
possa servir de antídoto a um eventual e inesperado dissabor financeiro.
O vício capital não seria a usura em si,
mas os juros que temos que pagar aos bancos, às casas de crédito, aos agiotas e
a outros credores e entidades, que deveriam por isso ser castigados com pesadas
correntes amarradas ao pulso ou condenados ao fogo do inferno.
De certa forma, a avareza em si fica
isenta de culpa, porque os seus efeitos maléficos dependem do avarento. Como o
avarento não gasta, não empresta e não dá, ele pode se transformar num ser
absolutamente inofensivo, desde que você passe ao largo dele sem pedir nada.
Basta deixá-lo sossegado dentro do seu cofre contando as suas moedas que ele
não o ameaçará de inadimplência nem buscará executar a sua dívida.
O avarento cuida do que é dele, não
reparte com ninguém nem o seu sorriso e a sua alegria, e anda escondido como um
doente contagioso.
No entanto, tenha muito cuidado com o
usurário. Ele chama o incauto como o faz uma sereia com o seu canto, hipnotizando-o
como faz a aranha à mosca e oferece ajuda para mais tarde poder arrancar até o
couro do infeliz que caiu nas suas malhas.
Avarentos, usurários, sovinas e
mãos-de-vaca, apressai-vos em mudar o seu modo de vida!
Estejam atentos para o Dia do Juízo, já
que o dia da falta de juízo são todos os dias!
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