domingo, 12 de julho de 2020





AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 3 - A MAGIA DO SWING
(epílogo)

Numa banda de swing, muitas vezes o próprio maestro era o instrumentista-líder, o que fazia com que os outros músicos gravitassem em torno do seu carisma pessoal. Benny Goodman, Artie Shaw, Harry James, Tommy Dorsey e Woody Herman são bons exemplos de maestros-solistas.
Na maior parte das vezes, porém, quem emprestava o seu prestígio pessoal para o sucesso da orquestra era algum componente de grande talento. Podemos mencionar alguns exemplos, como o saxofonista-tenor Coleman Hawkins (destaque nas orquestras de Fletcher Henderson e Benny Carter), o saxofonista-alto Johnny Hodges e o trompetista Cootie Williams (orquestra de Duke Ellington), o saxofonista-tenor Lester Young (Bennie Moten, Count Basie, Fletcher Henderson), o pianista Teddy Wilson (Benny Goodman), o trompetista Roy Eldridge (Horace Henderson, Teddy Hill, Fletcher Henderson) e o próprio trompetista Louis Armstrong (King Oliver, Fletcher Henderson) entre outros.
As orquestras de swing também se diferenciavam entre si pelos cantores acompanhados pela orquestra, chamados de “crooners”. Alguns bandleaders que tocavam instrumentos também faziam o papel de crooner – como é o caso de Ben Pollack, Bunny Berigan, Dizzy Gillespie, Don Redman, Jay McShann, Kay Kyser, Lionel Hampton, Louis Jordan, Ray McKinley, Wingy Manone e Woody Herman, além daqueles já mencionados antes. Como, porém, em geral os maestros não possuíam o dom da bela voz, a maioria só cantava esporadicamente, preferindo contratar cantores ou grupos vocais para colaborarem com o brilhantismo das noitadas musicais.
Algumas orquestras menos expressivas que necessitavam aumentar o seu prestígio junto ao público contratavam louras “bombshell” como crooners. Elas não precisavam necessariamente cantar bem, desde que exibissem seus dotes físicos em vestidos generosamente colados ao corpo.
Muitos cantores se tornaram conhecidos e decolaram em suas carreiras-solo após participarem das grandes orquestras. Em particular, podemos citar os casos de Ella Fitzgerald (cantando na orquestra de Chick Webb), Frank Sinatra (com Tommy Dorsey), e Jimmy Rushing (com Count Basie). As cantoras Billie Holiday e Lena Horne se apresentaram por algum tempo com a orquestra de Artie Shaw, mas já eram cantoras-solo.
Vale mencionar, como registro, alguns nomes entre cantores e grupos vocais que abrilhantaram algumas orquestras, incluindo os já mencionados: Kitty Kallen, The Songmasters, Helen Forrest, Doris Day, Dick Haymes e Frank Sinatra (na orquestra de Harry James); Doris Day e Tony Bennett (Les Brown); Lena Horne, Billie Holiday, Helen Forrest, Tony Pastor e Mel Thormé & The Meltones (Artie Shaw); Pat Friday, Tex Beneke, Paula Kelly, Marion Hutton e Ray Eberle & The Modernaires (Glenn Miller); Ivie Anderson e Betty Roche (Duke Ellington); Helen Ward, Peggy Lee, Martha Tilton e The Pied Pipers (Benny Goodman); Jimmy Rushing, Helen Humes, Billie Holiday e Joe Williams (Count Basie); Jimmy Witherspoon (Jay McShann); Anita O’Day (Gene Krupa); Anita O’Day, June Christy e Chris Connor (Stan Kenton); June Christy – usando o nome Sharon Leslie (Boyd Raeburn); Billy Eckstine e Sarah Vaughan (Earl Hines); Sarah Vaughan (Billy Eckstine); Mary Ann McCall, Jack Leonard, Jo Stafford & The Pied Pipers, Edythe Wright, Dick Haymes e Frank Sinatra (Tommy Dorsey); Ella Fitzgerald (Chick Webb); Harlan Lattimore (Don Redman); Bing Crosby, Frank Hazzard, Frank Sylvano, Billy Scott, Arthur Jarrett, Eddie Stone e Joe Martin (Isham Jones); Doris Day e Mary Ann McCall (Woody Herman); Mildred Bailey, Ramona Davies, Bing Crosby, The Rhythm Boys e The Modernaires (Paul Whiteman); e The Keller Sisters & Lynch, Frank Bessinger, Van Fleming e Billy Murray (Jean Goldkette).
Mas o swing não era só música. O swing era também espetáculo. Um espetáculo de cor, som e movimento proporcionado pelos músicos e pela sua alegria.
Pela sua forma de expressão dramática, a música, de uma forma geral, e o jazz, por tudo o que possui de especial, constituem um espetáculo comparável ao teatro, e a relação do artista com a platéia funciona como um fator de envolvimento e integração. Tanto o músico como o ator se transformam quando executam seus solos, improvisos e textos, a ponto de chegarem a ser praticamente desconhecidos quando agem anonimamente dentro das suas individualidades.
Os músicos de jazz são chamados de entertainers, performers, showmen ou até mesmo de clowns, qualidades e definições histriônicas herdadas dos primórdios da época do vaudeville, dos minstrels ou do teatro de revista, quando eles executavam a função dupla de músico e de ator.
Além de serem os principais responsáveis em manter uma platéia animada por horas a fio, os músicos das grandes orquestras também se esmeravam em bem vestir e em executar coreografias para o entretenimento daqueles que não dançavam e se limitavam a olhar.
Assim, o brilho de uma big band não era apenas medido pela sonoridade, mas também pelo visual, com os astros da noite vestidos em trajes de gala coloridos e com todo o grupo mantendo uma agitação feita de forma organizada, mas ao mesmo tempo frenética, num senta-levanta constante e gestos coletivos cuidadosamente estudados para realçar os solistas e manter viva a execução dos movimentos ensaiados.
De fato, custava crer que os músicos conseguissem manter uma aparência limpa, descansada e elegante tocando com toda esta euforia em noites quentes e abafadas, dentro dos clubes dançantes rescendendo a fumaça de cigarro.
A música do swing iluminava a noite, pois o seu som maravilhoso comandava um espetáculo de luzes, cores e movimento. Só quem teve a oportunidade de participar de uma noite abrilhantada por uma orquestra de swing pode avaliar o seu encanto em termos de emoção e deslumbramento.


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