quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

 


CALUDA!
(Augusto Pellegrini)

Bom dia!
Diz a cliente matutina
E é prontamente atendida
Pela esperta manicure
Simpática e prestativa

Depressa!
Cuida dos meus pés primeiro
E vem a imersão quentinha
No líquido emoliente
Os dois pés dentro da tina

Zoada!
As mulheres que conversam
Num volume muito alto
São gralhas impertinentes
Cacarejando no ambiente

Cultura!
A incansável manicure
Lê alta literatura
E faz uso das palavras
Que o bom português apura

Caluda!
Pensa alto a manicure
É um pensamento sonoro
Que lhe escapa de repente
Ao contemplar o pé da cliente

Grosseira!
Grita a cliente ofendida
Achando que tal palavra
Fora a ela dirigida
E foi queixar-se ao gerente

Burrinha!
Pensa o gerente consigo
Entendendo toda a trama
Mas em nome do negócio
Pede desculpas à dama

Canalha!
A manicure está tensa
Pois pensava que ele fosse
Explicar o acontecido
Mostrando o mal-entendido

Que coisa!
Murmuram as outras clientes
Frente ao fato inusitado
Sem entender coisa alguma
Do que tenha se passado

Camões!
A manicure pede ajuda
Sempre creu no bom falar
Pois a palavra “caluda”
Significa “silenciar”

Paciência!
Murmura então com tristeza
Estou onde não devia
Isto é um salão de beleza
Não reunião da Academia

 

Dezembro 2020

 

 

 


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