DÚVIDA
(Augusto Pellegrini)
Com um olho aprova, com outro fulmina
Maldita sina
Com um pé me segue, com outro me chuta
Me catapulta
Um olho me vê, outro me nega
E não me enxerga
Uma mão me afaga, outra me espanca
E me desbanca
Um braço abraça, outro me empurra
Me trata às turras
O peito suspira e arrota forte
O bafo da morte
O olhar me adula, o olhar condena
À pesada pena
Sorri de amor, sorri de escárnio
Riso do diabo
O gesto benze, o semblante enxota
Me vê de costas
Sinto paixão, sinto ódio intenso
Mas me convenço
Que o lado certo, o lado primeiro
É o que me cabe
E o lado segundo, reles e imundo
É o que não vale
Inconsequente, só vejo aquilo
Que me interessa
E em meio à dúvida tiro proveito
Do que me resta.
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