Foto: John Mc Laughlin e Chick Corea
AS CORES DO SWING
(Livro de Augusto Pellegrini)
CAPÍTULO 21 - O NEO SWING
(final)
Por trás
da inventividade
do neo-swing e das bandas que mesclam
techno e swing sem o menor pudor existe um embrião muito forte, concebido no
início dos anos 1970: as “rock big bands”.
Num determinado
ponto da história do jazz, durante os anos 1970, começou a inevitável fusão do
jazz com o rock.
Esta fusão teve
várias e diferentes direções.
Uma delas
penetrava diretamente no mundo dos instrumentos eletrônicos ou sintetizados. A
semelhança com o rock era conceitual,
e se limitava à parte da melodia e dos arranjos. Ao contrário do que
normalmente acontece com o rock, este
tipo de jazz-rock não previa um
cantor.
O núcleo desta
música possuía elementos estruturais do jazz, com fortes pinceladas de rock.
Este estilo,
denominado “fusion”, utilizava
instrumentos eletrificados e originou grandes intérpretes, como Jean-Luc Ponty,
Chick Corea, John McLaughlin, Weather Report, Jeff Beck e Pat Metheny, e
modificou a trajetória de alguns jazzistas como Miles Davis, Herbie Hancock,
Larry Coryell e Stanley Clarke.
A outra direção
apontava para um rock que abdicava do
seu som ácido e agrupava sob o mesmo denominador comum instrumentos eletrônicos
e acústicos convencionais, produzindo um som forte e vigoroso, e criando uma
harmonia peculiar sem comprometer a musicalidade.
Adicionou-se a voz
áspera e cortante do vocalista, que era revestida de blues, mas transmitia um bocado de agressividade, o que dava à
música um tom de rebeldia, que é uma parte integrante da essência do rock.
Neste caso, o
núcleo da música possuía elementos estruturais do rock, com fortes pinceladas de jazz.
As rock big bands foram uma consequência
direta desta forma de fusão, e conseguiram unir dois públicos que caminhavam em
direções opostas, por professarem filosofias diferentes, embora baseadas na mesma
origem – o blues.
As principais
bandas responsáveis por este fenômeno foram Blood, Sweat & Tears, comandada
pelo cantor David Clayton-Thomas; a Chicago, que possuía uma pegada mais pop, liderada pelo cantor Peter Cetera;
a Dreams, mais jazzista, liderada pelo baterista Billy Cobham e pelo
trompetista Randy Brecker; Pink Floyd e seu rock psicodélico: ou ainda Frank
Zappa e Soft Machine, que economizaram nos metais, mas mantiveram o mesmo
padrão.
Com as rock big bands ficou garantida uma
continuidade no desenvolvimento do jazz orquestrado, onde big bands aparentemente convencionais começaram a utilizar as
tendências e os elementos do rock and
roll e da música popular contemporânea da época.
A passagem das rock bands para as bandas de neo-swing foi apenas uma questão de
tempo, pois ambas possuíam a mesma proposta e eram cultivadas pelo mesmo tipo
de público.
Para aqueles
saudosistas que já haviam se conformado em lamentar a morte do swing, o neo-swing trouxe uma injeção de estímulo e uma sensação de volta ao
passado. Pode não ser a mesma coisa ter ouvido Count Basie nos bons tempos de
Kansas City e ouvi-lo agora com uma roupagem diferente, mas tudo não passa de
uma questão de costume.
Com o tempo, os
novos ouvidos e os seus humores irão se rendendo aos poucos à novidade, e a
descoberta de um novo riff ou de uma
menção estilizada de uma passagem que havia se tornado inesquecível poderá
tranformar um saudosista teimoso num novo swingster
convicto.
Para os ainda
renitentes sempre restará o recurso de se trancar no quarto, usar a sua
aparelhagem de som ou programar uma música com a orquestra da sua preferência,
fechar os olhos e se transportar para o mundo mágico dos salões. Ou procurar
num vídeo ou num registro do youtube alguma coisa que possa fazê-los retornar
no tempo. Ou ainda então ingressar no admirável mundo novo do swing revival.
É sempre possível
sonhar, pois como dizia Duke Ellington, a música não é mais do que um sonho.
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