sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

 


TEMPOS DIFÍCEIS

(Augusto Pellegrini)

Tempos difíceis vivemos
De confinamento e tédio
Mas nosso melhor remédio
É conformar com o que temos

Temos que ficar em casa
Como fosse numa cela
E assim se esvai vida bela
Pois quebraram nossa asa

Mudou tudo em nossa vida
A noite, a roda de amigos
Mesmo assim ainda consigo
Tê-la menos reprimida

Com a tecnologia
Eu vejo de tudo um pouco
Mas o que me deixa louco
É a mesmice do dia-a-dia

Deixei de cantar, é certo
Nas noites de vinho e jazz
Pois não posso por meus pés
Lá fora, no descoberto

Não posso pra rádio ir
Pra fazer o Sexta Jazz
A assim fico, num viés
Sem falar, sem produzir

O meu programa querido
Com quase quarenta anos
Com pesar e desengano
Passou a ser repetido

As minhas aulas de inglês
Entre outras empreitadas
Começam a ser adiadas
Quem sabe pro outro mês

A alternativa, então
Mesmo com vã contumácia
É caminhar até a farmácia
Para medir a pressão

Ou ir ao supermercado
Nas horas mais sossegadas
Ver prateleiras esgotadas
Do produto procurado

E pra aumentar a lambança
Dizem, se bem me lembro
Que antes de chegar setembro
Não haverá qualquer mudança

Já me sinto enferrujado
Com a falta de movimento
Ansiando pelo momento
De ser enfim libertado

Poder cantar como antes
Enturmar com quem se ama
Renascer com o programa
E levar a vida adiante

Março 2020

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

 


PÁGINAS ESCOLHIDAS

O FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)

CLICHÊS – O FILME DE BANG-BANG

No alpendre de uma barbearia abandonada uma placa balança como se fosse o corpo do enforcado e um velho desdenta do masca um fiapo de capim, com o chapéu enterrado sobre os olhos. Uma caneca de estanho repousa sobre o corrimão contendo um resto de café requentado.
Corte.

Um homem está à procura dos bandoleiros que destruíram a sua casa, incendiaram o celeiro e mataram o velho Joe. John Wayne, no mais emocionante papel de sua carreira.
Corte.

Maureen O’Hara de cabelos vermelhos se atira nos braços do gala e pede para ele não ir. Um generoso decote revela um opulento par de tetas que o poeta chama de regaço, nas o nosso herói não presta atenção em detalhes, e então vem o beijo e a partida.
Corte.

Saloon cheio de gente bebendo uísque de milho e Jack Palance pede mais um para o garçom assustado. Ele faz cara feia, ele tem cara feia, ele é um cara feia, toma o seu gole e limpa a boca com o dorso da mão esquerda.
Corte.

John Wayne entra triunfalmente no saloon com um chute na porta de vai-e-vem. Silêncio sepulcral. Enfim o confronto. Ao cabo de algum tempo o bandoleiro é arrastado pelas pernas depois de um “uppercut” na ponta no queixo, um cruzado de direita no fígado e uma bala no abdome. No fundo musical ouve-se “High Noon”, enquanto John Wayne atravessa a rua empoeirada e parte em direção ao seu destino.
A cena se perde no horizonte, diante de uma revoada de touceiras.

The End.

(Imagens da matinê de domingo)


 

 SINOPSE DO PROGRAMA JAZZ DE 11/10/2019
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

DUKE ELLINGTON - RING DEM BELLS

Uma das maiores personalidades artísticas do século 20 e referência mundial como compositor, líder de orquestra, pianista e inovador, Duke Ellington é e sempre será uma figura obrigatória em questões de jazz.
Ellington compôs e interpretou músicas de big band, swing dançante, jazz para pequenos conjuntos, baladas, suítes e música sacra, tudo sempre com uma forte presença de blues, sua eterna inspiração. Ele já compareceu algumas vezes no Sexta Jazz, mas nunca é demais lembrar a sua estatura musical em outro programa especial, onde o selo Double Play faz uma coletânea de suas obras, numa investidura histórica e antológica. Aqui o ouvinte vai se reencontrar com músicos que fizeram parte da orquestra durante décadas, como Harry Carney, Johnny Hodges, Barney Bigard, Paul Gonsalves, Cootie Williams, Ray Nance e outros. No programa, "Take The A Train", "The Mooche", "One O'Clock Jump" e "Perdido", entre outros sucessos.   

 Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                

domingo, 26 de dezembro de 2021

 


EU E A MÚSICA
(Augusto Pellegrini)

OS REIS DO IÉ-IÉ-IÉ – A DESCOBERTA

É certo que o jazz sempre fez parte da minha vida.
Afinal, quando criança tive uma saudável iniciação ao ser apresentado aos discos de ebonite, os chamados “bolachões” gravados em 78 rpm com as orquestras de Benny Goodman, Harry James, Artie Shaw e Xavier Cugat, e aquele tipo de música me conquistou de uma forma definitiva.
O material foi se modernizando e passou a ser prensado em discos com 33 rpm, ao mesmo tempo em que o gosto se aprimorava com a evolução do jazz, passando do swing das grandes orquestras para as firulas do bebop de Gillespie e Parker e mais tarde desembocar no jazz branco de Dave Brubeck e Chet Baker e no refinamento do cool-blues e da chamada “third-stream music” cultuados pelo Modern Jazz Quartet.
Na década de 1950, houve porém um desvio de rota.
É que o rock dos precursores chegou com a força da country music, foi invadido pela essência do boogie-woogie e do blues, e trouxe uma nova linguagem que também passou a acompanhar o meu gosto musical, representado pela arte de Little Richard, Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e outros mais.
Como acontece com toda novidade, não demorou muito para que surgissem aproveitadores com músicos e músicas de menor qualidade e começassem a ocupar espaço nas gravadoras e emissoras de rádio, prenúncio triste do que iria acontecer 70 anos depois.
A turma que reverenciava o jazz e o rock que era comprometido com a qualidade ignorava essa injunção puramente comercial e continuava trocando figurinhas em lojas de discos e em clubes improvisados, e sempre sobrava espaço para ouvir um lançamento recente na casa de um dos aficionados.
Eis que me vejo convidado para ouvir na casa do amigo Élcio Bottini o LP “Place Vendôme - The Modern Jazz Quartet & The Swingle Singers”, um disco que reunia o MJQ – John Lewis (pianista, arranjador, diretor musical e principal compositor do quarteto), Milt Jackson (vibrafonista), Percy Heath (contrabaixista) e Connie Kay (baterista que tocava com extrema leveza) – e o grupo vocal composto por cantores franceses e regido pelo maestro Ward Swingle, americano, especializado em vocalizar música de cunho barroco.
A mistura deste barroco, recheado de fugas e de uma harmonia tonal bachiana, com a leveza do blues do MJQ, produziu uma das mais refinadas obras de jazz de que se tem notícia.
Ao chegarmos na casa do Élcio, no entanto, aconteceu o impasse: a irmã mais nova do meu amigo estava entretida com o aparelho de som ouvindo uma daquelas novidades a princípio detestáveis, um grupo pop inglês com quatro “bonitinhos” cantando músicas descartáveis para consumo imediato. Ela disse que era um grupo chamado The Beatles, que estava levando à loucura garotas como ela pelos quatro cantos do mundo.
Ora, e eu lá teria paciência para ouvir um grupo de cantores fabricados para levar adolescentes à histeria? É claro que Élcio e eu nos recusamos a perder tempo com aquilo e nos afastamos o máximo que pudemos da sala onde se realizava a audição.
Aguardamos pacientemente no jardim da casa até que chegou a nossa vez de entrar e poder ouvir o desempenho angelical e elegante do MJQ e dos cantores de Ward Swingle, com muito blues em cada acorde vindo de dois dos mais qualificados grupos musicais jamais formados.

-0-

De repente, uma mudança abrupta do cenário.
Eis-me, alguns meses depois, na então progressista cidade de Ribeirão Preto (como diziam na época os documentários que antecediam os filmes nas salas de cinema), enfadado, enfarado, entediado e enfastiado, sem nada que fazer na tarde quente das três horas, caminhando pela praça principal da cidade, batizada de Praça Dom Pedro II.
Na falta de algo mais consistente resolvi me aventurar indo ao cinema para assistir – imaginem – ao filme “Os Reis do Ié-Ié-Ié” (“A Hard Day’s Night”, no título original) que apresentava exatamente o tal quarteto de cabeludos que eu me recusara ouvir na casa do amigo Élcio.
Operou-se a transformação: a cada instante meu interesse e entusiasmo foi crescendo, pois o filme feito sobre um roteiro maluco de Alun Owen e muito bem dirigido por Richard Lester, desafiava a lógica na magia do preto-e-branco, alternando situações inusitadas num perfeito contraponto entre o irônico e o absurdo com músicas de um delicioso desenho melódico.  
Eu acabara de descobrir The Beatles, que nos próximos dez anos revolucionariam a música, muitos músicos, a própria história do rock e os costumes de toda uma geração, levando esta tendência mais além, mesmo depois de a banda ser desfeita.  
Se naquela tarde eu tivesse atendido ao chamado da irmã do Élcio, quem sabe teria gostado de imediato da nova música, mas com certeza o impacto não teria sido tão grande.
Ao sair do cinema corri até as Lojas Americanas e comprei o LP, que seria a primeira aquisição de toda a coleção catalogada do grupo, depois acrescido de gravações pirata que não estão em catálogo e de muito material da fase solo de cada um dos Paul, John, George e Ringo que fizeram a banda.

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU) 

(ver tradução após o texto)

 FARTHER and FURTHER

 

These two words are very confusing. FARTHER and FURTHER are adverbs, and both may have the same meaning but are used in different situations and context. They’re pronounced in a similar way too, but with a slight difference – in the “far” and “fur”.

 

FARTHER is used when we’re talking about physical distance.

 

“As a passenger in a car, you can ask the driver ‘How much FARTHER until we reach our destination?’”

  

            “In race, you can say ‘She ran FARTHER and faster than him’”

           

           

FURTHER is used for more abstract situations.

 

“The human resources representative told me: ‘If you have any FURTHER complaints, please tell me’”

 

“The professor told us: ‘If you have any FURTHER questions, you can ask me at the end’”

 

   

 

 

                                                                                                                                 

            TRADUÇÃO

 

ADICIONAL e MAIS ALÉM  

Estas duas palavras (FARTHER e FURTHER) podem promover alguma confusão. Ambas são advérbios e têm um significado semelhante, mas são usadas em diferentes situações e contextos. Sua pronúncia é também bastante parecida, com uma ligeira diferença no “far” e no “fur”.


            FARTHER (“adicional”, “mais afastado”, “além de”) é usado quando nos referimos a distâncias físicas.     

            “Como passageiro de um carro, você pode perguntar ao motorista ‘quanto falta para a gente chegar?’”

“Numa corrida, você pode dizer ‘ela correu mais rápido e chegou mais longe do que ele’”


FURTHER (“além disso”) é usado para situações mais abstratas.

“O responsável pelos direitos humanos disse: ‘Me informe se você tiver mais alguma reclamação’”

“O professor falou: ‘Se vocês tiverem perguntas adicionais podem fazê-las no fim da aula’”

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 


AMOR MANHà 

(Canção de Renato Winkler – Letra de Augusto Pellegrini)

 

Se a sombra agora mora em mim

O meu porquê há de virar canção

Estou triste, triste tanto

Só o sorriso bom de uma manhã

Fará nascer o meu sorriso sol

Estou triste, triste tanto

Só o renascer de todo amor

Que imenso foi vai me fazer feliz

Vem beijar meu desencanto

Volta, faz brilhar novamente a lua

Aquela mesma lua

Que iluminou nossa grande noite

Só o teu olhar traz o luar

Pra iluminar o meu anoitecer

Só teu olhar me faz amanhecer

Por que virar canção

Se é tão real?

Venha depressa

Disfarçar o mal

Motivação de minha vida e paz

Cante comigo o meu sorriso sol

E o amor manhã também renascerá

 


ABSTRATO

(Augusto Pellegrini)

Um arranjo de flores pousa sobre o toucador
Enquanto o quarto é mergulhado na penumbra
Provoca em meu olhar imagens mentirosas
E forma formas deformadas em seu derredor

Ora vejo um gato, silencioso, arguto e atento
Depois o gato aos poucos se transforma em gente
Pois basta o sopro suave de um leve vento
Para que a imagem se transforme de repente

Agora flana e dança como uma bandeira
Com cores desmaiadas de vermelho e branco
Diante do espelho espanta o meu espanto
Até que a imagem se transmude enfim inteira

O pleno dia surge, e então a claridade
Põe no meu caleidoscópio enfim o ponto final
O estranho devaneio se transforma em realidade
Tudo era fantasia, tal como flores de papel jornal

Janeiro 2020

 

  

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 


    PÁGINAS ESCOLHIDAS

O FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)

A PREGUIÇA

A preguiça do Juvenal era proverbial.
Às vezes deixava de almoçar para não ter que ir até a cozinha preparar o prato, às vezes deixava de tomar banho para não despertar daquele gostoso torpor que a indolência lhe causava.

Tinha preguiça de amarrar os sapatos, e já tomara um tombo monumental ao enroscar os pés nos cordões, num dia de relativa pressa.

Já perdera uma namorada porque se negava a passear e preferia dormitar candidamente no seu colo com as mãos afagando suas loiras melenas, até que ela se enfadou com tanto enfado e foi procurar outro que pudesse agitar os seus dezesseis anos carentes.

A preguiça do Juvenal fizera com que ele deixasse de ir à casa lotérica do outro lado da rua pra levar um volante já preenchido – a fila longa não o encorajou ir ao encontro da sorte, e ele achou melhor ficar em casa dormitando sob o frescor do ventilador.

No domingo à noite na hora da zebrinha do Fantástico ele resolveu conferir o volante não jogado. Mesmo confundindo Bilbao com Guijón e CSA com CSE ele acertou a improvável vitória de uma Sanbenedettese contra o Milan e carimbou os treze pontos, como bem atestava o volante.

O volante que, por preguiça, ele não jogou.    

 

(Um breve estudo sobre o possíveis malefícios causados pela indolência)


 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

 


EU E A MÚSICA – EPISÓDIOS NOTURNOS

(Um bate-papo com o MPB3)

A morte do cantor Ruy Faria – o Ruy do MPB4 – em 11 de janeiro de 2018, me trouxe tristeza, nostalgia e algumas lembranças. Tristeza porque o desaparecimento de verdadeiros artistas deixa ainda mais incerto o panorama musical brasileiro deste início de século, que chega a ser preocupante. Nostalgia porque Ruy me lembra a melhor época da chamada MPB e uma das melhores da minha vida, e me fez concordar plenamente com um artigo do blogueiro Mauro Ferreira, onde ele diz ser Ruy a voz do MPB4 (e eu completo “da mesma forma como Severino Filho foi a voz de Os Cariocas”). Eu diria mais, ambos não foram só a voz, mas também a cara e a alma dos conjuntos vocais dos quais participavam. As lembranças ficam por conta de uma noite nos longínquos anos 1960, na qual Ruy participou da minha existência por algumas horas.
                                                           -0-
No final dos anos 1960, a Vila Buarque concentrava boa parte do encanto da Paulicéia Desvairada, como bem definia a cidade de São Paulo o poeta Mario de Andrade quarenta anos antes.
Um quadrilátero limitado pela Praça da República por um lado e pela Avenida Angélica do outro, e pela Faculdade Mackenzie e a Rua da Palmeiras pelos lados adjacentes, possuía talvez a maior quantidade de noctívagos por metro quadrado da capital, agrupando desde jovens estudantes ou escriturários que saíam do serviço e lotavam os barzinhos na hora do “happy hour”, onde sempre existia alguém cantando e tocando violão – com direito a todo mundo cantar junto – até figuras engravatadas que procuravam “American bars” mais sofisticados, com um trio piano-contrabaixo rabecão e bateria, passando por quem procurava aventuras caras ou baratas, dependendo da boate e da companhia que iria se sentar ao seu lado, estes, cavalheiros mais velhos, de preferência casados apreciadores de uma fuga semanal acompanhada por um uísque duvidoso. Isto sem deixar de lado o chope boêmio do Bar e Restaurante Redondo, ao lado da Praça Roosevelt.
Meu habitat predileto era o bar “Sem Nome”, que realmente não tinha nome e era simplesmente uma garage com porta de correr onde o dono adaptou um balcão de mármore e instalou meia dúzia de mesas e cadeiras insuficientes para a quantidade de fregueses que sempre tinham alguma novidade como entretenimento e se apinhavam em pé ao lado do balcão tomando a especialidade da casa, que eram as batidas e caipirinhas.
Por lá eu tive a oportunidade de cantar junto com Chico Buarque (na época despontando com seu “Pedro Pedreiro”), Zé Keti (que atendia aos pedidos para cantar “Opinião”, um sucesso do momento no Teatro de Arena, lá na Rua Teodoro Baima, com a peça do mesmo nome ao lado de João do Vale e Nara Leão, depois Maria Bethânia) e o maranhense Chico Maranhão (que empolgava com o frevo “Gabriela” quem eu viria a reencontrar vinte e cinco anos depois em São Luís).
O hino oficial do Bar Sem Nome era a música de Ismael Silva “O que será de mim” (“Se eu precisar algum dia de ir pro batente não sei o que será / Pois vivo na malandragem, e vida melhor não há”) – os jovens paulistanos substituíam a palavra “malandragem”, muito carioca, por “boemia”, que tinha mais a cara deles.
(Aqui em São Luís, Chico Maranhão mencionou o episódio no palco do Teatro Alcione Nazaré – na época Teatro Praia Grande, do Centro de Criatividade Odylo Costa, Filho – quando fazia o show de lançamento do LP “Quando as palavras vêm”, produzido por mim no início dos anos 1990. Chico falou brevemente sobre nossos encontros em São Paulo e dedicou a mim a música título, que começa assim – “Encontrei por aqui um antigo amigo...”, autoexplicativa).
Certa noite, lá em São Paulo, eu descobri um outro lugar no pedaço, pertinho da Praça da República, no início da Rua Marquês de Itu. A casa tinha um longo corredor e abria uma grande clareira no fundo, com mesas colocadas debaixo de árvores. Logo ao chegar divisei um conhecido numa mesa com outras cinco pessoas e me juntei ao grupo.
Apresentações feitas, percebi estar ao lado de três dos MPB4 – Ruy, Miltinho e Magro – que num bate papo descontraído me colocaram por dentro de algumas coisas de bastidores.
Seguindo a mesma linha do Bar Sem Nome, alguém tocava violão e cantava numa mesa ao lado, e o violão circulava, passando de uma mesa para outra.
Cerveja rolando, o violão chega na nossa mesa e Ruy começa a cantar uma canção de Noel Rosa, com Miltinho acompanhando no pinho.
Foi quando dei uma sugestão destrambelhada, pedindo para os três cantarem algum dos sucessos do grupo, como “Lamento” (de Pixinguinha com letra de Vinicius), ou “Gabriela” (aquela do Chico Maranhão). Ruy então me explicou didaticamente que não era possível cantar porque não dava para repetir a harmonia do grupo faltando uma voz – Aquiles estava ausente.
Aprendi mais uma coisa na vida e me contentei em ouvir solos de “Com que roupa?” e “Feitiço da Vila”, dentro de uma afinação impar e acordes belíssimos de violão.
Naquele momento eu me abstive de cantar, e a própria audiência alvoroçada diminuiu o falatório ao perceber que estávamos diante de uma celebridade.     

 

 


SINOPSE DO PROGRANA SEXTA JAZZ DE 09/08/2019
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís - MA

DUTCH JAZZ MUSIC

Muito antes da existência da União Européia, a Europa já tinha um denominador comum que servia como linguagem única a centenas de pessoas - o jazz. Desde que chegou ao Velho Continente no início do século 20 o jazz não parou de se expandir, contando inclusive com a participação de diversos músicos americanos que lá desembarcaram. O jazz é sem dúvida hoje em dia mais cultivado na Europa em termos de interesse do público, locais de apresentação e festivais do que os próprios Estados Unidos, sua pátria de origem. Os ouvidos mais afinados conseguem também diferenciar os estilos e a forma de tocar entre os diferentes países, de modo que não é nenhum exagero classificar o jazz europeu de acordo com o país onde ele está sendo produzido. O programa desta sexta-feira vai mostrar como está atualmente o jazz tocado na Holanda, com nomes de destaque mesclando músicas de compositores americanos tradicionais (McCoy Tyner, Miles Davis, Sonny Rollins, Lee Konitz) com jazzistas dos Países Baixos (Tineke Postma, Rolf Delfos, Toon Roos, Harmen Fraanje). O resultado final você pode conferir nesta sexta-feira.          

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                    

 

 

sábado, 18 de dezembro de 2021

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU) 

(ver tradução após o texto)

 

BEAR and BARE 

These two words have the same pronunciation buy BEAR is a verb (or a noun) and BARE is an adjective (or a verb). 


BEAR – as a verb – has several meanings, including “to hold up” or “support a heavy weight” and “suffer or endure difficulties”. BEAR – as a noun – is the big animal that lives in forests or the Arctic.

 

“Don’t stand in that old chair, it cannot BEAR your weight.” (verb)

  

            “I cannot BEAR to see my mother in pain.” (verb)

           

            “Watch out! There’s a big BEAR just behind you!” (noun)

 

 

BARE, meanwhile, is an adjective that means naked or uncovered (but is also a verb that means uncover or reveal).

 

“Visitors to the temple must not have BARE arms or legs, so they wear long pants and a jacket.” (adjective)

 

“I BARED my arm to show them my new tatoo.” (verb)

   

 

                       

            TRADUÇÃO

 

SUPORTAR e DESNUDADO  

Estas duas palavras (BEAR e BARE) têm a mesma pronúncia, mas BEAR é um verbo (ou um nome) e BARE é um adjetivo (ou um verbo).


            BEAR – como um verbo – tem diversos significados, como por exemplo “aguentar” ou “suportar um fardo pesado” e “sofrer ou enfrentar dificuldades”. BEAR – como um substantivo – é aquele grande animal que vive nas florestas ou no Polo Ártico, o urso.   

  

            “Não suba nessa cadeira velha, ela pode não suportar (BEAR) o seu peso.” (verbo)


“Eu não consigo suportar (BEAR) ver a minha mãe sofrendo.”  (verbo)


“Cuidado! Tem um urso (BEAR) enorme atrás de você!” (substantivo)

 

Enquanto isso, BARE é um adjetivo que significa “nu” ou “descoberto” (e também um verbo que significa “descobrir” ou “revelar”).


“Os visitantes do templo não devem estar com os braços e as pernas descobertos (BARE), então eles usam calças compridas e blusões.” (adjetivo)


“Eu desnudei (BARED) o braço para mostrar a eles a minha nova tatuagem.” (verbo)

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 


SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 07/02/2020
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106.9 Mhz
São Luís - MA

TAMBA TRIO

O Tamba Trio foi um dos grupos musicais que surgiram no Brasil na década de 1960 dentro do estilo bossa-jazz, que aliava instrumental jazzístico, samba e interpretação vocal a três vozes. Sua trajetória se estendeu por quatro décadas, nas quais passou por diversas modificações como mudança de integrantes, proposta estética e número de componentes, mas sempre girando em torno do maestro, compositor, arranjador e pianista Luiz Eça. Neste programa, o Sexta Jazz apresenta músicas dos dois primeiros álbuns do grupo, gravados em 1962 e 1963, e traz o trio original – Luiz Eça, Adalberto "Bebeto" Castilho e Hélcio Milito – mesclando clássicos da bossa nova (“Influência do Jazz”, “O Barquinho”, “Nós e O Mar”, “Ai, Se eu Pudesse”, “Garota de Ipanema”, “Samba de uma Nota Só”) com composições de bossa alternativa (“Batida Diferente”, “Samba Novo”, “Mas Que Nada”, “Mania de Maria”, “O Amor Que Acabou”). Um programa imperdível para quem curte a bossa instrumental.

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                    

 

 

 


AMOR ANTIGO  

(Canção de Renato Winkler – Letra de Augusto Pellegrini)

 

Meu amor antigo

Mora na saudade

De um tempo feliz

Que ficou tão longe

Tão perdido e ido

Lá no meu passado

Da menina que olhava

Dentro dos meus olhos

Da primeira namorada

Do primeiro sonho

 

Hoje estou cansado

De não mais amar

De não encontrar

Entre os meus caminhos

O do amor antigo

Que está na saudade

Da primeira namorada

Que o amor sentia

Mas, de medo, não falava

Medo de acordar

 

Hoje tão sozinho

Sigo ainda à procura

Desse meu desvelo

Pela criatura

Que vive a meu lado

E mora na saudade

 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

 


    PÁGINAS ESCOLHIDAS

O FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)

A GULA

O escritor François Rabelais se frustrou ao tentar fazer um obra que ele próprio define como “uma alta realização do espírito humano” – O Gigante Gargântua – nos idos de 1532. O herói, filho de Grandgousier e da linda Gargamelle, era uma espécie de Frankenstein inocente – de acordo com os críticos da obra, “rare et subtil, charmant, jovial et gentil” – mas em momento algum tem qualquer resquício de exaltação à raça humana.

O personagem não chegou a superar o criador, pois não é fácil se sobrepor à genialidade de Rabelais, mas acabou transformando uma tentativa filosófica de relatar as fraquezas da gula num encômio à própria gula, não só pela quantidade e diversificação dos gêneros engolidos durante as quase duzentas páginas do livro como também pela tonelagem de vinhos e aguardentes ingeridos – “é a vós, ilustres beberrões, que são dedicados os meus escritos e a mais ninguém!”.

É a esta gula, sentimento nobre que impulsiona o mundo, que dedico este prólogo, reforçado por um veemente protesto contra as clínicas de emagrecimento, contra esses torturadores medievais que se autoproclamam médicos dietéticos e contra todos os malhadores de academia.

As mulheres retratadas em tela pelos pintores renascentistas, com suas maravilhosas adiposidades, não me deixam mentir.  

(Prólogo de um trabalho experimental sobre a gula e seus preconceitos)


 

sábado, 11 de dezembro de 2021

 


EU E A MÚSICA

6º LENÇÓIS JAZZ & BLUES FESTIVAL

Eu sou uma ave canora.
Vindo de uma família de cantores, eu me recordo das cantatas informais que alegravam nossas reuniões familiares desde os meus tempos de criança até o engrossar da voz– o avô com as suas canzonetas, o pai barítono, o tio tenor, a tia com o seu vozeirão de prima-dona, o primo se esforçando na voz do baixo, o irmão fazendo a voz principal e eu me arriscando na segunda voz.
Daí, para os encontros das escolas de samba de São Paulo e os programas de rádio que versavam sobre a matéria, foi um pulo. Vila Madalena fervia.
Descobri que a vida é um grande palco com plateia onde alguns cantam e tocam e outros se divertem acompanhando e ouvindo. Eu conseguia ficar dos dois lados.
Depois, veio São Luís com seus saraus.
Assim, passei a vida toda cantando ao microfone ou fora dele, em festinhas descompromissadas, em salões solenes e comportados, nas mesas de bar noite afora e nas históricas ruas ludovicences quando abria o peito de valsas e canções com grupos de seresteiros e violeiros.
Minha iniciação profissional em São Luís, com direito a divulgação, público e cachê se deu no ano de 2001, exatamente num dia 13 de dezembro, numa noite sem lua.
Restaurante Áureus, Rua Isaac Martins, cantando jazz em contraponto com a cantora Célia Maria e seu repertório refinado. Os músicos – Paulo Lima, piano, Celson Mendes, violão, e Pedro Duarte, sax-tenor, um time de escol, pra começar.
Então começou a saga, com apresentações emocionadas em bares, restaurantes, teatros, solenidades, praças públicas, casamentos e festas familiares – cerca de 500 registradas nos meus arquivos implacáveis.
Eu sou um cantor que gosta de cantar, que se entrega ao ofício do canto e que se identifica com o público na emoção e na alegria.
Defeitos de ofício? – sim, os tenho, e vou abrir a minha alma. Sinto um certo desconforto em ensaiar e em “passar o som”. Faço tudo isso sempre que necessário, mas tenho comigo a definitiva impressão de que na hora da apresentação a mágica do espetáculo faz com que tudo fique bem mais vibrante e diferente. Também não gosto de gravar em estúdio, pois tudo soa meio artificial.
Algumas apresentações se afiguram como memoráveis, pelo charme, pela importância, pelo envolvimento do público e pelo caráter do evento, mas possivelmente a que tenha sido mais marcante foi a mágica apresentação no 6º Lençóis Jazz & Blues Festival realizado em 8 de abril de 2014 na Praça Maria Aragão superlotada, na companhia de Marcelo Rebelo (teclados), Pedro Duarte (sax-alto), Sergio Mariano (contrabaixo acústico e elétrico) e Fleming Bastos (bateria), tendo como ilustres convidados especiais os cantores Fernando Carvalho e Camila Boueri. No repertório, “Lullaby of Broadway”, “Georgia On My Mind”, “New York, New York” e “Hello Dolly”, entre outras músicas representativas do estilo. Tudo impecável e muito chique.
A antiga revista “Seleções da Reader’s Digest” tinha uma seção denominada “Meu tipo inesquecível”. Por todos os ingredientes – produção, presença de músicos de diferentes lugares do país, participação do público – esse Lençóis de 2014, em que pesem todas as emoções e alegria proporcionadas pelas apresentações e bares e restaurantes (na verdade, o que eu realmente gosto de fazer), foi o meu show inesquecível.
Vai aqui um abraço especial e minha gratidão ao amigo Tutuca Viana, idealizador e realizador do evento.   

 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

 


POEMA FELIZ

(Augusto Pellegrini)

Felicidade foi-se embora
Escapuliu pela janela
De uma casa pequenina
Pois você não estava nela

Ela é leve como a pluma
Levada ao leu pelo vento
Não para de forma alguma
Inquieta a cada momento

E também brilha no ar
Como se fosse uma estrela
Só quem não percebe o brilho
É aquele que não quer vê-la

A felicidade existe
É só uma questão de ter
É viver na companhia
Daquele que se quer bem

Trechos de felicidade
Extraídos da algibeira
De Seu Jorge, Arlindo e Lupe
Janeci, Fabio e Moreira

São poetas que retratam
Felicidade sem fim
Versejada por Toquinho
Vinicius e Tom Jobim

Felicidade é um momento
O espocar de uma centelha
Mas pode ser bem marcante
E durar a vida inteira

Basta você regressar
Pra mim, naquela casinha
Que a felicidade volta
Para ser minha, todinha

 

Janeiro 2020

 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU) 

(ver tradução após o texto)

 

DISINTERESTED and UNINTERESTED 

Many native speakers use these two words with the same meaning – “bored”, “not interested”. That’s certainly the meaning of UNINTERESTED but it’s not the meaning of DISINTERESTED. The real meaning of DISINTERESTED is “impartial”, “objective” or “not taking a side in an argument”. A judge hearing a court case should be DISINTERESTED, but definitively not UNINTERESTED!

 

“The children wanted to play outside and were very UNINTERESTED in doing any studying.”

  

            “Sometimes a stranger can make a DISINTERESTED and fair decision more easily than a family member.”

 

                      

            TRADUÇÃO

 

IMPARCIAL e DESINTERESSADO  

Muitos falantes da língua inglesa usam a palavras DISINTERESTED e UNINTERESTED com o mesmo sentido (“desinteressado”, “alheio”, “sem dar importância”). Este é com certeza o significado de UNINTERESTED, mas não é o sentido de DISINTERESTED.  DISINTERESTED significa “imparcial”, “objetivo”, “sem tomar partido numa discussão”. Um juiz, quando de uma audição na Corte, deve ser DISINTERESTED, mas de maneira alguma UNINTERESTED!


            “As crianças queriam brincar lá fora e estavam totalmente desinteressadas (UNINTERESTED) em estudar.”


“Às vezes uma pessoa estranha pode tomar uma decisão justa e correta (DISINTERESTED) melhor do que um membro da família.”