sexta-feira, 27 de junho de 2014


 
 
 
 
EU E A MÚSICA – YEAH, THE BLUES!
(A CONFISSÃO DE BO DIDDLEY)

Do final dos anos 1980 para cá, o Brasil se tornou um lugar bastante concorrido para a realização de festivais de rock, jazz e blues.
Mas nem sempre foi assim.
Demorou algum tempo para que o público brasileiro viesse fazer parte do roteiro dos megafestivais de música.
Os festivais de rock faziam comercialmente mais sentido na época do que os seus congêneres de jazz, pois tinham como suporte de mídia alguns muito bem sucedidos encontros internacionais que eram produzidos mundo afora.
Isto não significa que o jazz não estivesse acontecendo no cenário mundial, mas parecia mais acertado apostar num movimento mais performático, como as bandas e os astros do rock mundial e os grandes espetáculos de luz e cor, do que numa música que privilegiava mais os ouvidos e a sensibilidade.
Talvez por possuir um apelo mais popular ou pelo fato de o seu surgimento ter sido mais recente – aconteceu durante os anos 1950, quando era chamado de rock and roll – o rock tinha uma boa penetração na classe jovem e era divulgado, embora ainda timidamente, em programas radiofônicos e festinhas de família, onde no final da década Bill Haley disputava espaço com Cely Campello. Isto não acontecia com o jazz e com o blues.
É bem verdade que na Era do Swing o jazz tinha programas radiofônicos com as grandes orquestras tocando ao vivo, mas isto mudou com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a mudança da mentalidade da juventude rebelde de então.  
Os jazzófilos e os bluesófilos, por se constituírem num público menor e mais maduro, e por consumirem uma música mais sofisticada, passaram a viver num quase completo anonimato, e se viam obrigados a acompanhar de longe as trajetórias do jazz e dos seus festivais mais famosos – Monterey EUA), New York (EUA), Newport (EUA), Montreux (Suiça), JVC (França), North Sea (Holanda) – através de reportagens de colunas especializadas de jornais ou revistas, ou pelos discos, cujas contracapas nos davam a noção do que se passava por lá, tudo documentado com as devidas fotos. Os discos muitas vezes traziam músicas gravadas ao vivo, o que adicionava uma emoção a mais ao ouvinte.
E a gente só sonhava, ainda que acordado.
De acordo com pesquisas não muito oficiais, o interesse que jazz e blues haviam despertado até então nos apreciadores de música era muito pequeno para que se pensasse num evento de largo consumo, mas essa barreira pouco a pouco foi sendo ultrapassada graças a alguns produtores arrojados que apostaram na inteligência do público e tiveram o apoio de patrocinadores fortes que puderam tornar a ideia viável.
Coincidentemente, e apesar das pesquisas e da diferença na aceitação popular, foi no mesmo ano que jazz e rock aconteceram pela primeira vez no Brasil para as grandes plateias.
A primeira edição do Rock in Rio foi realizada entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985 – evidentemente na cidade do Rio de Janeiro. Ela foi absolutamente marcante e contou com a presença dos internacionais Queen, Iron Maiden, Whitesnake, James Taylor, George Benson, Rod Stewart, Scorpions, Ozzy Osbourne, Nina Hagen e AC/DC, e dos nacionais Ivan Lins, Barão Vermelho, Baby Consuelo, Lulu Santos, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso e Kid Abelha, entre outros.
Por ter sido o primeiro, o Rock in Rio foi um evento que precisou de muito fôlego e coragem, mas correspondeu plenamente às expectativas.
O público total chegou a quase um milhão e quatrocentas mil pessoas e respondeu com entusiasmo à aposta do publicitário e produtor Roberto Medina, embora ele próprio tenha admitido que realizar o festival “foi uma maluquice”.
Mas o projeto Rock in Rio foi tão bem sucedido que acabaria se multiplicando nos anos seguintes – Rio de Janeiro em 1991 e 2001, Lisboa em 2004, 2006, 2008 e 2010 e Madri, 2006, 2008 e 2010, e assim segue em frente, sempre com o mesmo nome, o que acabou transformando o festival em uma lucrativa trademark.   
Surpreendentemente, também em 1985 acontecia ao mesmo tempo no Rio e em São Paulo o primeiro Free Jazz Festival, patrocinado pela Companhia Souza Cruz, que aproveitou o nome de um dos estilos de jazz – o free jazz – para promover em grande estilo o lançamento da sua marca de cigarros Free, naquele tempo em que não existiam restrições para a sua propaganda.   
A primeira edição mostrou atrações especialíssimas – entre elas Bobby McFerrin, Chet Baker, Gerry Mulligan, Ernie Watkins, Sonny Rollins, Pat Metheny, McCoy Tyner, Joe Pass, Hubert Laws, Phil Woods, Toots Thielemans, e os brasileiros Azymuth, Cesar Camargo, Egberto Gismonti, Leny Andrade, Luiz Eça, Orquestra Tabajara, Paulo Moura, Sérgio Dias, Zimbo Trio e Uatki, entre outros.
Em 1986 tivemos vinte e dois participantes, sendo quatorze brasileiros e oito internacionais, número que foi sendo mantido com o tempo até o fim do projeto em 2001 (o Free Jazz Festival foi descontinuado devido às leis antitabagistas e em 2003 foi substituído pelo TIM Festival, que perdeu a característica do projeto original e começou a focar um tipo de música alternativa, que inclui indie, eletrônica, rock e – felizmente – o próprio jazz).
Apesar de bastante popular, o Free Jazz Festival nunca chegou a causar o mesmo impacto do Rock in Rio, principalmente porque o rock tradicionalmente, em todo o mundo, sempre reuniu multidões em festivais que eram geralmente realizados em grandes áreas ao ar livre – vide Woodstock-NY, Altamond-Ca, Ilha de Wight-Inglaterra – ao passo que o jazz sempre teve um público menor, mais comportado e, pode-se dizer, mais exigente em termos de estrutura e conforto.
Foi nesse clima, em maio de 1990, que aconteceu o Segundo Festival de Blues no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (o Primeiro Festival havia acontecido em Ribeirão Preto-SP, na Cava do Bosque, no ano anterior).
O festival teve a produção da LUKR Eventos, comandada por Roberto Cocenza. Também fazia parte da equipe meu amigo e parceiro Renato Winkler que, parodiando Vinicius, viajou muitas canções comigo, e havia interpretado o mestre violonista na película “A Busca E A Fuga”, mencionada no capítulo dedicado a Dick Farney.
Eu e Renato tivemos uma curta, mas profícua, história musical que havia começado em Serra Negra-SP, onde nos conhecemos em meados dos anos 1960. Começamos a compor juntos, e na maioria das nossas composições eu fazia a letra e ele colocava a música, ou eu colocava a letra numa melodia já feita, ou um pouco de cada coisa...

Se a sombra agora mora em mim,
o meu porquê há de virar canção...
(estou triste, triste tanto...)
Só o sorriso bom de uma manhã
fará nascer o meu sorriso sol...
(estou triste, triste tanto...)
Só o renascer de todo amor
que imenso foi, vai me fazer feliz
(vem beijar meu desencanto...)
Volta, faz brilhar novamente a lua,
aquela mesma lua
que iluminou nossa grande noite...
Só o teu olhar traz o luar
pra iluminar o meu anoitecer,
só teu olhar me faz amanhecer...
Por que virar canção se é tão real,
venha depressa disfarçar o mal,
motivação da minha vida e paz,
cante comigo o meu sorriso sol
e o amor manhã também renascerá...

(Amor Manhã – Augusto Pellegrini e Renato Winkler)

Renato possui uma harmonia diferente do convencional e passa para o ouvinte uma cadência bucólica. Ele é também um poeta de rara inspiração nas suas pinceladas cheias de um neologismo sagaz e de rimas no modelo haicai. É numerólogo nas horas vagas, tendo inclusive publicado um livro a respeito chamado “Guia Oracular – A Chave Do Poder Adivinhatório”.
Em termos de música, ao meu lado, foram doze composições ao longo de quatro anos, de 1970 a 1974, muitas delas regadas a muito vermute tinto com gelo, antes de a parceria ser interrompida pelo meu ingresso numa escola de samba, como mencionado no capítulo dedicado a Adoniran, e pela minha partida para São Luís-MA.
Em 1990 eu ainda morava em São Luís, onde estou até hoje, mas Renato insistiu para que eu fosse assistir ao festival em São Paulo e para tanto me enviou uma credencial de imprensa, dessas que a gente pendura no pescoço vinte e quatro horas por dia – “Pellegrini Augusto – Radio Mirante FM – São Luís-MA” – posto que eu era – e ainda sou – radialista especializado em jazz (e blues, embora nem tanto).
O festival transcorreu de uma forma empolgante e reuniu no mesmo espaço músicos antológicos como Magic Slim, Bo Diddley, Buddy Guy, Junior Wells, Koko Taylor, John Hammond, The Blues Machine, Big Daddy Kinsey & The Kinsey Report, Nick Nolte, e os blueseiros locais Ed Motta, André Christóvam e Blues Etílicos.
A grande vantagem de possuir uma credencial é poder ser uma sombra presente nas entrelinhas do espetáculo, nos bastidores, nos camarins, e no hotel onde a troupe se hospedava, onde via de regra acontecia alguma jam session para confraternizar o blues, além da possibilidade de entrevistas nem sempre exclusivas, mas sempre muito especiais, e a descoberta maravilhosa de que por trás dos artistas consagrados de escondem seres humanos cheios de história para contar.
Boa parte das histórias acabaram sendo descartáveis, e serviram  apenas para ilustrar alguns dos meus programas radiofônicos, mas uma conversa, em especial, ficou registrada, posto que histórica.
Bo Diddley, nascido Ellas Otha Bates, tinha na época sessenta e dois anos, embora aparentasse ter mais.
Ao contrário da maioria dos artistas presentes, que esbanjavam vitalidade, Diddley mantinha uma atitude melancólica e pouco sorridente, como se se ressentisse de alguma coisa, muito embora aparentemente tudo corresse às mil maravilhas na turnê blueseira. Bo Diddley era o “low profile” que não combinava com a vibração do evento.
Cantor, guitarrista, compositor (suas músicas eram assinadas como Ellas McDaniels), Bo Diddley com sua guitarra quadrada foi um dos elos mais importantes que uniu o blues ao rock and roll e influenciou, entre outros, os astros Buddy Holly, Jimi Hendrix, Eric Clapton e Elvis Presley, além dos Beatles e dos Rolling Stones.
Foi exatamente a menção a Elvis Presley que esquentou o assunto e soltou a língua do velho bluesman.
Apesar de ser mundialmente reconhecido como um dos maiores artistas do blues e do rhythm & blues, Bo Diddley reclamava que a sua carreira poderia ter sido muito mais bem sucedida se alguns produtores de discos e de shows não tivessem interferido de forma tão negativa e decisiva no seu desenvolvimento.
Ele, Diddley, teria sido o pioneiro a mostrar nos palcos a famosa performance do “rebolado do rock and roll” que se imortalizou com Elvis e que os pudicos dos anos 1950 consideravam obsceno e atentatório aos bons costumes (mas que os jovens rebeldes sem causa simplesmente adoravam).
Possivelmente”, prosseguiu Diddley, “tenha sido um outro negro, Chuck Berry, quem realmente iniciou aquele tipo de dança lasciva, mas Berry podia ter tudo – ritmo, drive, empolgação – mas não conseguia passar para o público nem um pingo de malicia ou de sensualidade. Chuck era mais feio do que eu. E riu, pela primeira vez durante a nossa conversa.  
Bo Didley era – na sua própria descrição – negro, feio e de baixa estatura, o que ia contra os padrões de beleza universalmente aceitos. A novidade era, porém, tão empolgante que os produtores de shows decidiram que o rebolado devia ser incrementado por um outro cantor, desde que fosse branco, bonito, atlético e sensual.
Assim, nos meados dos anos 1950, Bo Diddley foi descartado e caiu no limbo do rock and roll.
Os produtores saíram então em campo à cata do homem com o biótipo ideal que tivesse o DNA para vender discos e aguçar o espírito da juventude, e descobriram um jovem cantor e guitarrista natural do Mississipi que estava fazendo um relativo sucesso no rádio e na televisão cantando uma espécie de ballad-country e de rock-blues.
Seu nome era Elvis Presley, ex-motorista de caminhão que estourou para o grande público com o bluesThat’s All Right Mama” (Arthur Crudup) e “Blue Moon Of Kentucky” (originalmente uma valsa escrita em 1946 por Bill Monroe), músicas que receberam um tratamento diferente por parte do guitarrista Scotty Moore e do baixista acústico Bill Black, nascendo daí o estilo “rock-a-billy”, uma fusão de country com rhythm & blues. 
Depois de uma série de baladas românticas, que no futuro iriam se constituir no ponto alto das suas interpretações – como “Love Me Tender” (George R.Poulton, W.W. Fosdick  e Ken Darby), “Lovin’ You” (Jerry Leiber e Mike Stoller) – o rebolado pra valer começou em 1957 com “Jailhouse Rock” e “King Creole” (ambas de Jerry Leiber e Mike Stoller).
De acordo com Diddley, foi aí que os produtores “roubaram” a sua ideia e que um eventual título, “The King of Rock‘n’Roll”, lhe teria sido usurpado.
O depoimento histórico foi encerrado abruptamente com a chegada de alguém da produção convocando Diddley para uma foto, a pedido de um repórter.  Não tenho certeza, mas ficou a impressão de que sobrou no rosto do velho bluesman um certo ar de alívio quando ele se despediu de mim, o que provavelmente acontecia por quase quarenta anos sempre que seu coração se abria para algum desconhecido.

quinta-feira, 26 de junho de 2014







À ESPERA DE UM FUTEBOL CONVINCENTE

 
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 26/06/2014)

 
Aproveitando a euforia da goleada brasileira sobre Camarões, vamos falar um pouco de futebol, pois afinal uma Copa do Mundo não se resume a torcida, acontecimentos extracampo, corrupção, cartolagem e erros de arbitragem, assuntos que temos abordado ultimamente.
O ingrediente maior de um torneio deste calibre é o futebol praticado em campo e neste quesito a Copa disputada no Brasil está sendo superior às últimas edições, quer pela emoção que as partidas estão proporcionando quer pela quantidade de gols anotados, pois estamos na casa de três tentos por partida.
Apesar das atuações convincentes da Alemanha, Holanda e França, ainda é cedo para que se faça qualquer prognóstico porque a fase de grupos que se encerra hoje é apenas um aperitivo do que está para vir, e o Brasil, é claro, continua a figurar entre os favoritos.
Mas nas oitavas de final, qualquer escorregão será fatal, e mesmo considerando o inevitável desnível de certos jogos, surpresas acontecem e podem significar para muita seleção com pinta de favorita a eliminação prematura do torneio.
Com três jogos disputados, todas as equipes já moldaram definitivamente o time e o sistema de jogo ideal para seguir adiante. Também já analisaram em detalhes como se comporta o adversário, quais os seus pontos-chave e qual o seu setor mais vulnerável.
Ao Brasil cabe enfrentar o Chile, velho conhecido – e freguês – em Copas do Mundo. Nos três confrontos já realizados, o Brasil sapecou 4x2 (Copa do Chile – 1962), 4x1 (Copa da França – 1998) e 3x0 (Copa da África do Sul – 2010). Em todas estas partidas o Chile vinha precedido de alguma fama. Na prática, porém, a esquadra chilena sempre fez água.
Possivelmente esta seja a seleção mais bem estruturada que o Chile já montou para disputar uma Copa do Mundo, incluindo aquela jogada no seu próprio país. O Chile de hoje possui uma defesa que não dá espaços, um meio-campo marcador e criativo e um ataque envolvente comandado por Alexis Sánchez e Eduardo Vargas.
No entanto, a mística da camisa amarela pesa, e pesa muito, o que poderá fazer com que os chilenos joguem preocupados e não consigam produzir o futebol que estão mostrando até agora.
O Chile tem a seu favor o fato de poder atuar como franco atirador, pois aparentemente quem tem a obrigação de vencer é o Brasil. Quanto mais os chilenos dificultarem a movimentação brasileira mais o time anfitrião se sentirá incomodado pela pressão da torcida.
O Brasil já começa a partida com uma carta no bolso, que poderá ser usada no momento adequado: o preparo físico. O jogo será realizado à uma da tarde sob o sol de Belo Horizonte, e como ficou evidente na partida disputada contra a Holanda, os chilenos caem de produção nos últimos vinte minutos de jogo e afrouxam o poder de marcação. O calor poderá fazer a diferença.
Mas o Brasil tem que melhorar muito o seu desempenho.
Por mais que o técnico Felipão, fique irritado com os questionamentos da imprensa, a seleção ainda está devendo. O goleiro Julio Cesar tem vacilado nas poucas vezes em que foi exigido (o próprio gol sofrido contra Camarões aconteceu porque o goleiro não procurou interceptar a trajetória da bola que cruzou a pequena área bem na sua frente).
Os dois laterais estão marcando mal. Marcelo ainda tem funcionado bem como ala avançado, mas Daniel Alves não marca nem apoia, e está longe de mostrar um bom futebol.
Como o nosso meio-campo não é criativo, os atacantes têm que se contentar com a ligação direta via lançamentos longos ou chutões de David Luís e Thiago Silva.  
A seleção brasileira está vivendo da boa fase de Neymar e dos erros dos adversários, o que, convenhamos, é muito pouco para quem pretende ser campeão do mundo.   

segunda-feira, 23 de junho de 2014








A FORÇA DA TORCIDA


(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 23/06/2014)


A Copa do Mundo é o mais importante torneio de futebol do mundo, com perdão da redundância. Ela congrega teoricamente as 32 melhores seleções do planeta e possui um apelo e visibilidade de tal tamanho que chega a emocionar e prender a atenção até de pessoas que normalmente não se interessam pelo futebol.
A geopolítica do esporte e a necessidade da exposição do futebol para fazer frente às exigências mercantilistas de empresas e instituições que apostam alto para lucrar muito obrigam uma setorização de países para que todos os continentes sejam representados no torneio. Com isso, algumas seleções tradicionais acabam cedendo espaço para outras de menor calibre que, com raras exceções, participam das Copas apenas como figurantes.
Das dezenove edições já disputadas desde 1930 (a edição atual é a vigésima), a Copa teve 78 países participantes, dos quais apenas 8 conseguiram conquistar o troféu (5 vezes o Brasil, 4 vezes a Itália, 3 vezes a Alemanha, 2 vezes a Argentina e o Uruguai, e 1 vez a Inglaterra, França e Espanha). Os outros 70 menos privilegiados tiveram que se contentar com a condição de coadjuvante.
Nas 19 Copas disputadas apenas 6 vezes o país anfitrião ganhou a taça e fez a felicidade da sua torcida.
O Brasil, apesar de pentacampeão, não está entre eles – como todos sabem, sediou a Copa em 1950 e não se deu bem. Quem fez a festa em casa e festejou com ela foram o Uruguai (1930), a Itália (1934), a Inglaterra (1966), a Alemanha (1974), a Argentina (1978) e a França (1998). A Itália, a Alemanha, a França e a Espanha, porém, já passaram também pela desagradável experiência de perder a Copa diante do seu público.
Isto é uma prova de que torcida a favor pode ajudar, mas não necessariamente ganha jogo. Dependendo da pressão exercida e da condição psicológica dos jogadores pode ser até um fator negativo.
O Brasil-2014 está numa situação ambígua.
Seus comandantes adotaram o discurso de que o título é apenas uma questão de tempo e conseguem ver alguma evolução entre as partidas contra a Croácia e contra o México, apesar de os analistas terem visto o contrário. Mas há rumores de que os jogadores se sentem inseguros e alguns novatos demonstram claramente que a camisa está pesando – afinal, encarar a primeira Copa em casa não é fácil.
A imprensa está desconfiada, como sempre, pois por mais que tente transmitir confiança sabe que o Brasil não possui mais o glamour e a qualidade que teve em outros tempos e que esta seleção não é essa coca-cola toda. 
Por outro lado, a torcida canarinho não é uma torcida de clube, que se fecha em torno da equipe e vai até o fim com ele mesmo em situações adversas, como vimos recentemente com as campanhas de Cruzeiro e Atlético na Libertadores.
A torcida da seleção tem na sua maioria famílias de classe média alta que tiveram condições de arcar com os custos da aventura de ocupar uma cadeira numa das arenas cheirando a tinta e que são flagradas pelas câmeras indiscretas fazendo selfies para se auto-registrar na festa ou se empolgando quando sua imagem aparece no telão do estádio, mesmo com o desempenho e o resultado da seleção deixando a desejar.
Tudo indica que o Brasil deve passar sem problemas contra Camarões no jogo de hoje, até por conta da desarmonia existente entre os africanos, mas o que preocupa na verdade é o emparceiramento que virá pela frente.
A torcida terá um papel fundamental no crescimento técnico da seleção, mas para isso precisa apagar a má impressão deixada no jogo contra o México, onde torcedores astecas cantaram, gritaram e incentivaram muito mais do que os brasileiros presentes, mais preocupados em curtir a festa do que em empurrar o time.