sexta-feira, 8 de maio de 2015






A BRIGA PELOS ESTADUAIS 


Possivelmente o leitor está achando o título deste artigo um tanto estranho, considerando que os campeonatos estaduais em todo o Brasil terminaram no último fim de semana, portanto a briga já acabou.
Mas eu não estou me referindo à briga entre os clubes para ver quem iria desta vez escrever o seu nome na galeria dos vencedores estaduais, tampouco a uma eventual briga de dirigentes por também eventuais direitos lesados – a famosa “briga do tapetão”, por exemplo. Eu me refiro a outra briga, a da turma dos progressistas descontentes contra os tradicionalistas felizes, na grande maioria compostas por jornalistas, ou seja, formadores da opinião pública.
De um lado da queda de braço estão aqueles que entendem que os campeonatos estaduais não acrescentam nada ao futebol, ao calendário ou à atual história do futebol brasileiro, e que deveriam ser extintos.
Do outro lado estão aqueles que defendem a continuidade dos certames em nome da tradição, dos torcedores e da história do futebol brasileiro como um todo. 
O Brasil é o único país do mundo que tem campeonatos estaduais, e a razão é muito simples. Devido à sua vasta extensão geográfica, à riqueza e diversificação de culturas e ao isolamento inter-regional no início do século passado, quando o futebol se consolidou no país, os clubes funcionavam como compartimentos estanques nos seus respectivos estados e tinham que resolver as coisas entre eles.
A visita de um clube de outro estado era vista com a mesma curiosidade como se via a visita de um clube estrangeiro.
A maioria dos clubes que hoje representam os estados da confederação foram fundados nas duas primeiras décadas do século 20 (alguns foram fundados até mesmo antes, mas tinham como atividade principal o remo, o cricket e outras pelejas esportivas mais românticas).
Mas os clubes que se situavam na mesma área geográfica tinham que jogar entre si, pois naquela época era impensável qualquer compartilhamento com outros clubes localizados em outros estados, em função das distâncias, da pobreza nas comunicações, da dificuldade de locomoção e da disposição dos torcedores. Isto acabou gerando os torneios chamados domésticos – os campeonatos estaduais – e serviu para acirrar a rivalidade entre os torcedores e jogadores.
Essa situação não era comum na Europa, mesmo quando tudo começou no final do século 19, nem nos outros países da América do Sul, pela menor extensão dos deslocamentos entre as cidades, daí a razão de nesses lugares serem disputados apenas os campeonatos nacionais, além das tradicionais Copas que reúnem centenas de clubes de todas as divisões, nos moldes da nossa Copa do Brasil.
Deixando de lado o academicismo da discussão, que tem por trás razões técnicas e financeiras, além de um aproveitamento mais racional do calendário e da preparação dos clubes que estão na disputa, para o torcedor da arquibancada e os analistas de botequim acaba tendo mais valor o resultado de um Bahia x Vitória e a disputa de um título estadual entre eles do que uma bela campanha no campeonato brasileiro ou o sabor de uma vitória sobre um “grande” do Rio ou de São Paulo.
E nos estados de maior tradição, as pesquisas já indicaram que a rivalidade entre os clubes gera mais emoção do que uma disputa entre eles e clubes de outros estados, isto é, é mais “gostoso” para um flamenguista ganhar do Vasco (e, é logico, o vice-versa, o que é válido para todos os outros “grandes”) do que ganhar do Cruzeiro ou do Internacional.
Mas os campeonatos estaduais não valem só para os grandes clubes. Os chamados pequenos também lucram, ganhando espaço na mídia, revelando jogadores e faturando um dinheiro que pode ajudar a manter a equipe em atividade no resto do ano, mesmo disputando torneios menos expressivos.
Eu sou a favor dos estaduais. E você?

 


 

 (Artigo publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 08/05/2015)

 

 

domingo, 3 de maio de 2015

                                    


                                                    SER OU NÃO SER GRANDE

 Desde que o mundo é mundo as pessoas – eu me refiro àqueles que se interessam pelo futebol – tentam definir o que seria um clube grande e o que seria um clube pequeno.
Mas essa discussão não é tão fácil assim, pois ser ou não ser grande não depende da simpatia que se pode ter por determinado clube. A coisa vai mais além.
Pra começo de conversa, o fato de o clube ser ou não ser grande pode estar condicionado a aspectos geográficos. O Sampaio Correia, por exemplo, é grande no Maranhão, mas não é grande no Brasil, por uma simples questão de comparação e referência. O mesmo pode ser dito do Ceará, do Paysandu e do Santa Cruz, só pra citar alguns casos.
Outra coisa que não deve ser confundida é clube grande e time grande. O Fluminense que disputou a série C do Campeonato Brasileiro de 1999 sempre foi e continuou sendo um clube grande, mas as circunstâncias daquele momento o transformaram em um time pequeno.
O tradicionalmente pequeno São Caetano, por outro lado, foi um grande time na Copa Libertadores 2002, quando foi o vice-campeão.
Por ser um grande clube o Fluminense logo ascendeu à Série B e provou ser “mais grande” ainda quando passou da Série B para a Série A sem fazer nenhum vestibular, convidado que foi pelo Clube dos 13, do qual fazia parte.
À parte a gozação das torcidas adversárias, o fato de ser rebaixado não tira a grandeza se um clube grande.
Clubes como Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Fluminense, Grêmio, Palmeiras e Vasco já curtiram o andar de baixo, mas todos sobreviveram aos ferimentos e continuam grandes.
Este é um fenômeno presente no futebol de muitos países – Alemanha, Argentina, Espanha, França, Inglaterra e Itália, entre os mais cotados – entre eles verdadeiras potências como Juventus, Milan, Manchester United, Liverpool e River Plate. Mas com exceção de uns dois ou três que se foram para não mais voltar, os grandes que são grandes sempre continuam muito vivos, disputando inclusive Copas continentais e acumulando títulos nos seus países.
O que na verdade diferencia um clube grande de um não grande são outros fatores.
Em primeiro lugar, vale a tradição. Os clubes verdadeiramente grandes não são vencedores circunstanciais, são vencedores habituais e de alguma forma já escreverem o seu nome nos grandes torneios nacionais e internacionais.
Um clube grande também se revela tendo como base o número de torcedores que eles têm em todo o país. Os dez maiores clubes do Brasil, segundo este critério, são Flamengo (com 32,5 milhões de aficionados), Corinthians (27,3), São Paulo (13,6), Palmeiras (10,6), Vasco (7,2), Atlético Mineiro (7,0), Cruzeiro (6,2), Grêmio (6,0), Internacional (5,6) e Santos (4,8).  Antes que alguém pergunte, Fluminense e Botafogo vêm a seguir com 3,6 e 3,4 respectivamente (dados atualizados de pesquisa Lance!-IBOPE).
Coincidência ou não, os dez clubes com maior torcida são aqueles que alcançaram um ranking internacional mais destacado, com conquistas de torneios continentais e mundiais.
Outra coisa que mede o tamanho de um clube é o investimento que ele tem condições de fazer. Mesmo quando estão em condições financeiras desfavoráveis estes clubes têm crédito junto às instituições bancárias e podem fazer as loucuras que quiserem que sempre terão respaldo. Com isso, contratam jogadores e técnicos pagando salários altíssimos, levam mais público aos estádios e conseguem patrocinadores de renome, alimentando a cadeia financeira que os mantêm na categoria de clube grande mesmo se momentaneamente estiverem abaixo da crítica ou mesmo rebaixados.
Um clube grande se cerca de estrutura física e humana de primeiro mundo, tem seu nome reconhecido no exterior e uma cobertura toda especial da imprensa, mesmo quando isso signifique expectativas e cobranças por um bom desempenho e boas campanhas.

 

 

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Impacial de 02/05/2015)