quinta-feira, 21 de agosto de 2014



CORNETANDO A CONVOCAÇÃO

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 21/08/2014)

Saiu a primeira convocação do técnico Dunga na sua reestreia na seleção. A convocação servirá como base para os cinco amistosos que serão jogados este ano, numa tentativa de apagar a vexatória exibição das duas últimas apresentações no Mundial.
Esta lista vale para os dois primeiros jogos, que serão disputados em setembro – Colômbia, dia 5 em Miami e Equador, dia 9 em Nova Jersey.
Na sequência virão Argentina (10 de outubro em Pequim, valendo pelo Superclássico das Américas), Japão (14 de outubro em Cingapura) e Turquia (12 de novembro em Istambul). São todos adversários perigosos, considerando a fase atual do nosso futebol.
Para estes três últimos jogos pode-se esperar algumas novas convocações como, por exemplo, Thiago Silva, que está contundido, e talvez seja dada uma oportunidade para o ex-sãopaulino Lucas e para o cruzeirense Dedé.
Dunga chamou apenas 22 jogadores (deixou o terceiro goleiro de fora) e repetiu 10 nomes da lista de Felipão. São eles Jefferson, Maicon, David Luiz, Fernandinho, Luiz Gustavo, Oscar, Ramires, Willian, Hulk e Neymar.
Isto não é muito promissor, pois devido a certas semelhanças no estilo de Dunga e de Felipão, vamos continuar tendo um time marcador e pouco técnico. Tudo indica que Dunga vai encher o meio de campo com os seus guerreiros, abrindo mão de um armador de habilidade que saiba prender a bola, buscar espaço para os companheiros e fazer lançamentos e passes corretos.
O único que poderia fazer este trabalho, muito embora não seja exatamente o seu estilo – pois ele é mais um ponta de lança – é Oscar, que foi tão mal utilizado na Copa.
As novidades podem ser analisadas por parte.
O goleiro Rafael Cabral e os laterais Danilo e Alex Sandro já tiveram sua chance na seleção com Mano Menezes e com o próprio Dunga, mas nunca chegaram a encantar.
Filipe Luís e Marquinhos também foram chamados para alguns amistosos com Felipão e atualmente jogam um bom futebol nos seus respectivos clubes, Chelsea e PSV, onde são titulares.
Miranda, que teve a sua não convocação para a Copa questionada, vai ter a oportunidade de mostrar se a sua presença teria valido a pena, e o corintiano Gil, pela primeira vez convocado para uma seleção, é uma incógnita, pois é um zagueiro seguro, mas ainda não teve o devido batismo.
Elias está sendo convocado para fazer aquilo que se esperava de Paulinho na Copa do Mundo, isto é, ser um meia armador que se transforma em atacante surpresa. Ele faz isso muito bem no Brasil, mas quando jogou na Europa foi bem vigiado e não brilhou.
Outro jogador cuja ausência foi reclamada na Copa é o meia-atacante Phillipe Coutinho, que joga um futebol de toques curtos e deslocamentos, bem ao estilo europeu. Talvez tenha problemas se estiver no mesmo time que Oscar.
A grande novidade foi a dupla cruzeirense Everton Ribeiro e Ricardo Goulart. Eles se ajustam perfeitamente dentro do esquema de Marcelo Oliveira, técnico do Cruzeiro, mas serão expostos a um sistema de jogo totalmente diferente que é imposto pelo técnico da seleção. Com eles, a seleção ganharia leveza e imprevisibilidade, mas leveza e imprevisibilidade são duas palavras que não constam no livro de cabeceira do sargento Dunga.
Sobra Diego Tardelli, que até agora tem se mostrado não mais do que um eficiente jogador de clubes brasileiros.
Evidentemente Dunga convocou os jogadores de Felipão conferindo a eles status de titular, até por respeito ao seu próprio estilo travado e ranzinza de armar o time. Isto indica que a seleção vai ser novamente dependente de Neymar, o que não é bom para ninguém. No Barcelona, e mesmo no Santos, Neymar jogava com os companheiros e também para o time, mas na seleção ele precisa de um time que jogue sem ele e para ele, a fim aliviar a marcação pesada que lhe será imposta.
E com Fernandinho, Ramires, Luiz Gustavo e Hulk, isto fica um pouco difícil.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014






O FUTEBOL BRASILEIRO EM BAIXA – PARTE III

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 18/08/2014)

Nos dois últimos artigos, analisamos alguns dos fatores que estão levando o futebol brasileiro a um baixo nível de consumo interno e a um inacreditável descrédito internacional.
No geral, faltou um componente a ser analisado e que diz respeito diretamente aos organizadores do futebol no Brasil, que vão desde a CBF, as Federações Estaduais, os clubes e até a emissora que banca a maior parte do dinheiro dos clubes.
Este componente esbarra em duas perguntas simples, mas apropriadas.
Por que os jogos dos certames da segunda e terceira divisões da Inglaterra e da Alemanha levam mais torcedores aos estádios do que a grande maioria das partidas da nossa Série A? Será que o povo brasileiro ainda gosta de futebol?
A primeira pergunta é mais fácil de ser respondida: o público inglês e alemão é maior porque lá os torneios são mais bem organizados, a maior parte dos ingressos é vendida com antecedência por um preço pré-fixado e quem quiser ir ao estádio comprando seu ingresso na hora pagará um preço justo para o espetáculo. A violência foi também praticamente banida e as distâncias entre as cidades são mais curtas.
Além disso, as condições que os estádios oferecem no que diz respeito à segurança do torcedor, à sua proximidade com terminais de transporte urbano e à ausência de oportunistas que incomodam se oferecendo para cuidar do seu veículo e de cambistas querendo lhe empurrar alguns ingressos – muitas vezes falsificados! – são uma motivação para quem quer passar uma tarde de lazer assistindo ao vivo a uma partida de futebol.
A segunda pergunta ainda precisa ser respondida.
Por mais que o torcedor brasileiro aprecie um bom jogo de futebol, ele encontra alguns obstáculos que pouco a pouco fazem com que ele se afaste dos estádios.
O primeiro obstáculo é exatamente a carência de um bom espetáculo pela ausência atual de um futebol vistoso e produtivo. Salvo honrosas exceções, os jogos que temos visto ultimamente são terrivelmente ruins.
Os jogadores, de um modo geral, se especializaram em dar chutões, errar passes e fazer jogadas bisonhas, e os nossos técnicos abusam de um esquema de defensivo, feio e travado, tentando a sorte nos contra-ataques ou num erro do adversário. Com isso, há um grande nivelamento entre as equipes que deveriam ser grandes e as equipes medíocres.
Para piorar, o horário dos jogos espanta o torcedor, pois partidas são disputadas tarde da noite em estádios mal localizados, inibindo a presença de público pelo problema de transporte e principalmente pela violência urbana e pela insegurança angustiosa a que o torcedor está exposto.
Na verdade, o torcedor está sujeito a dois tipos de violência, a oficializada, que grassa pelas cidades na forma de assaltos, sequestros-relâmpago e latrocínios, e a oportunista – torcedores que espancam torcedores adversários com paus, pedras, rojões, pedaços de ferro, soco inglês, e todo o arsenal que você possa imaginar, normalmente patrocinados pelas torcidas organizadas que por sua vez são patrocinadas polos próprios clubes.  
Finalmente, por causa da inexistência de uma política de preços, os clubes majoram os ingressos a níveis insuportáveis. Ir ao campo de futebol nos dias de hoje se tornou um divertimento muito caro, pois incluindo o ingresso e as despesas periféricas, como estacionamento, gorjetas, e uma ou duas cervejas, o torcedor não gastará menos de 150 reais, o que limita a sua presença nos estádios a no máximo uma vez por mês. Se ele levar o filho ou mais alguém da família a despesa multiplica.
Pode ser que o brasileiro continue gostando de futebol, mas os donos do espetáculo estão tornando o seu prazer cada vez mais impossível.
Sorte das emissoras de TV por assinatura e seus pacotes “pay-per-view” que oferecem transmissões repletas de câmeras e recursos, fazendo com que o futebol dos estádios passe a ser um lazer do passado.