terça-feira, 1 de março de 2011

UM BALAIO DE GATOS


(O artigo Bola Alta publicado na última segunda-feira, dia 28 de fevereiro no jornal O Estado do Maranhão, procura retratar o destino incerto das transmissões do futebol pela televisão. A briga entre CBF, Globo, Record, Rede TV, Clube dos 13 e clubes dissidentes envolve bilhões de reais mas é rasteira e indigente como seria uma briga para ver quem coloca um carrinho de pipoca em frente ao cinema de bairro.
Há muito tempo o telespectador tem que aturar os caprichos da Globo, que manipula os horários dos jogos a seu bel prazer e faz a escolha do que vai apresentar baseada nos índices de audiência, o que tende a privilegiar apenas dois ou três clubes entre todos os participantes da elite da Séria A brasileira.
Por outro lado, o Clube dos 13, que nasceu para cuidar do futebol dos clubes, organizando uma Liga nos moldes do que se faz na Europa, deitou-se em berço esplêndido e o que faz apenas é trabalhar com a negociação da transmissão das partidas, se mantendo acima do bem e do mal porque atende os clubes que chegam com o pires na mão para adiantar receitas devidas mas ainda futuras, numa espécie de agiotagem onde os juros são pagos em forma de obediência e subserviência.
A CBF, por sua vez, sempre considerou o futebol dos clubes como uma mercadoria de segunda necessidade, possivelmente um mal necessário para se manter no poder enquanto gerencia os assuntos da seleção, principalmente agora, com a  responsabilidade de organizar uma Copa das Confederações e uma Copa do Mundo.
Para a CBF seria muito mais vantajoso se existisse uma Liga que se auto-administrasse, pagando para ela - CBF - percentuais sobre direitos, comissões, licenciamento, ou coisa que o valha; mas a entidade insiste em se envolver diretamente em todos os assuntos, desde a tabela de jogos até as arbitragens, passando pelo tribunal de justiça, e o que faz na prática é apenas manter um caudaloso feudo que começa com o presidente Ricardo Teixeira e sua diretoria e segue adiante com as federações estaduais.
Os clubes se curvam a este estado de coisa, porque aqueles que se rebelam são massacrados sem piedade.
Este é o roteiro desta queda de braço. O enredo final está sendo traçado e seu final se dará dentro em breve, sem muita esperança de que alguma mudança significativa venha a ocorrer
).  

A briga entre a CBF e seus aliados contra o Clube dos 13 e seus ainda associados se transformou num autêntico balaio de gatos, pra não dizer um ninho de cobras.
Vaidades, mentiras, armações e desculpas esfarrapadas fazem parte desse jogo sujo que representa os anseios do esporte, mas não têm nada de esportivo.
O caldeirão começou a ferver há alguns meses quando a CBF espichou os olhos para o Clube dos 13, não pela vontade de organizar o futebol dos clubes – coisa que o Clube dos 13 também não faz – mas pela avidez com que prospectou o dinheiro envolvido nos direitos televisivos.
Em 2012 um novo contrato deverá ser firmado, e com o futebol em alta por conta da Copa que se aproxima, as emissoras sabem que os patrocinadores vão pagar alto pela exposição dos seus nomes e que, portanto, o montante a ser arrecadado – com uma parte gorda sendo repassada aos clubes – deverá possivelmente duplicar no próximo triênio.
Para vocês fazerem uma idéia, o atual presidente do Clube dos 13, Fabio Koff, consegue se pagar um salário mensal de 54 mil reais. A entidade tem reservas suficientes para emprestar dinheiro aos afiliados e adiantar cotas de televisão aos amigos, numa transação financeira das mais atraentes para quem não tem dinheiro, precisa contratar novos jogadores e manter a folha de pagamento em dia.
Como o pasto é bom, o gado engorda.
Por conta disso, a CBF instituiu Kléber Leite como seu candidato para tentar derrotar Koff nas últimas eleições, mas Koff ganhou, contando com a ajuda de clubes como o São Paulo (desafeto da CBF há uma longa data) e o Flamengo (por causa da rivalidade existente entre a recém-eleita presidente Patrícia Amorim e o candidato da CBF).
Como represália ao São Paulo, no dia seguinte Ricardo Teixeira anunciou que o Morumbi estava fora da Copa e começou a articular um processo político com os órgãos competentes, incluindo o governo, para fazer a abertura no estádio do Corinthians, seu mais recente e forte aliado, apesar de o estádio até hoje não ter saído do papel!
Continuando o seu projeto maquiavélico, Teixeira reconheceu os títulos que Santos, Palmeiras e Fluminense haviam conquistado num passado remoto, concedendo a eles o status de campeões brasileiros, mas continuou ignorando o título do Flamengo de 1987.
O próximo passo para desestabilizar o rubro-negro foi autorizar a Caixa Econômica a entregar a Taça das Bolinhas para o São Paulo, despertando a ira da presidente, que o atacou com paus e pedras.
Então, o golpe de mestre: o Flamengo foi declarado pentacampeão em 1987 e consumou-se mais um enlace visando enfraquecer o Clube dos 13 de vez.
De qualquer forma, a cisão está feita, cuidadosamente dividida em quatro grupos neste momento: o Corinthians abandonou os 13, os quatro do Rio continuam lá mas não reconhecem os 13 como negociadores, alguns estão em cima do muro, pesando as conseqüências, e outros declararam fidelidade a Koff, sabe-se lá até quando.
Enquanto isso, os gatos se engalfinham.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

PAPO DE CHORÕES

 
O Clube do Choro está provisoriamente sem casa depois de sucessivas mudanças – do Chico Canhoto para o Portal da Amazônia, do Portal para a Associação do Pessoal da Caixa, e da Associação para as noites de lua – mas os chorões da ilha continuam se movimentando.
Aqui e acolá os grupos mais tradicionais, como Chorando Calado, Pixinguinha e Tira Teima continuam se apresentando mesmo sem possuir residência fixa, enquanto o Clube tenta se organizar e encontrar um local que possa ser utilizado novamente como base fixa para os alegres saraus e tertúlias musicais.
Enquanto eu também me organizo para reaparecer em alguma chorata, posto que com a debandada dos artistas para lugares diversos eu também fiquei meio perdido, recebi um e-mail do Clube do Choro Chorinho (assim assinava o remetente) comunicando novidades na formação e na atuação do grupo Tira Teima.
Eis a mensagem na íntegra:

Assunto: Solano do Regional Tira Teima, com Choro

Olá Chorões!!
O Regional Tira Teima se apresenta neste sábado (Nota: o sábado se refere ao dia 26 de fevereiro de 2011) a partir das 18h00 no Empório Santa Cruz (Av. dos Holandeses, Calhau). O grupo de choro mais antigo de São Luís, que vem renovando seus integrantes durante estes anos, terá agora um novo componente. Francisco Solano (7 cordas e presidente do Clube do Choro do Maranhão) anuncia sua saída do Regional Tira Teima, sendo substituído por João Eudes (7 cordas).
Solano, sensibilizado com a saída de Ronaldo, ‘O Fenômeno’, passa a sua posição para o não menos fenômeno João Eudes. Solano garante que não recebeu proposta de nenhum outro grupo de choro, que somente quer se dedicar à família e às atividades de empresário, e disse mais – que isso não dê motivos para choro, pois o choro do Regional Tira Teima sempre trouxe muitas alegrias para ele, que continuará um autêntico chorão “

Respondi de pronto a Paulo Trabulsi, solista de cavaquinho e mais antigo integrante do grupo, com cópia para o Clube do Choro, para João Eudes, para o produtor Ivo Segura e para o eterno paladino Ricarte Almeida Santos, que não pode ficar fora disso.
Paulo é um velho amigo, um dos primeiros músicos que conheci quando cheguei ao Maranhão há trinta anos, e juntos já privamos de muitas sessões musicais e de muito bate-papo de escol. Apesar de ele ser do choro e eu ser do jazz, temos muita coisa em comum, pois ambos possuímos – salve a modéstia! – um grande refinamento musical.
Assim lia a minha mensagem:

Paulo Trabulsi
A notícia da aposentadoria precoce do Francisco Solano em si não é boa, porque o mestre das 7 cordas encarnava com perfeição o espírito do Tira Teima e vai sem dúvida fazer muita falta. Além do mais, seu profundo conhecimento da música brasileira – principalmente a do passado – em termos de repertório e interpretação, faz dele um violonista imprescindível para o choro, valsas, sambas e que tais. Devemos, porém, respeitar a sua decisão de pendurar as chuteiras em prol da vida familiar e profissional. Solano se retira recebendo meu sinal de respeito e agradecimento pela oportunidade que tive de participar algumas vezes da sua música.
Por outro lado, chega João Eudes, com quem também tive oportunidade de privar da companhia humana e musical. Eudes tem consigo o essencial do bom músico – técnica, habilidade, percepção, e entusiasmo – e foi a escolha perfeita para dar continuidade ao trabalho sério e brejeiro do Regional.
Gostaria de saber se a presença do Tira Teima no Empório Santa Cruz significa o início de uma temporada ou se é uma apresentação especial. Não terei condições de lá estar no dia 26 porque vou me apresentar à noite no Mandamentos, mas se houver continuidade do projeto, com certeza irei prestigiar num sábado próximo, na esperança, quem sabe... talvez...de dar uma das famosas canjas acompanhado pela moçada.
Augusto Pellegrini”    

Isto posto, entre um sopro do Coltrane e um arpégio do Peterson ou vou começar a ensaiar alguns Pixinguinhas pra um futuro novo encontro.