sexta-feira, 3 de julho de 2015






AS UVAS ESTÃO VERDES 

De acordo com o diretor técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Carlos Caetano Bledorn Verri - codinome Dunga - a Copa América não vale nada, o que interessa é a Copa do Mundo, ou seja, as Eliminatórias que vêm por aí.
As uvas estão verdes.
Enquanto disputava – e vencia – uma série de amistosos para preparar o time exatamente para esta agora menosprezada Copa América, o treinador afirmava que estava montando uma equipe com a finalidade de repor a seleção brasileira no seu devido patamar e, evidentemente, ganhar o torneio continental fazia parte dos seus planos.
Perdendo, seu discurso mudou.
Resta saber qual será o próximo discurso caso cheguemos ao fundo do poço com a não classificação para a Copa do Mundo de 2018, num torneio seletivo longo que se prevê difícil, com partidas de ida e volta, e com apenas quatro seleções entre as dez participantes se classificando automaticamente (uma quinta irá para a repescagem contra um adversário da Ásia).
Só está faltando isso para coroar a sequência de vexames.
Afinal, o que estamos vendo na Copa América mostra que o Brasil está tecnicamente abaixo da Argentina, da Colômbia, possivelmente do Uruguai e do Chile, e no máximo nivelado com Paraguai e Peru. Tirando as exceções de todos os lados – Neymar pelo Brasil, Messi pela Argentina, Suárez pelo Uruguai e James Rodriguez pela Colômbia, os elencos se equivalem, mas o que fará a diferença serão a disposição tática e o jogo de conjunto, exatamente o ponto mais fraco da nossa seleção. Em outras palavras, temos jogadores absolutamente comuns e um técnico abaixo da média.
Mas não é só a seleção principal do Brasil que está em crise. O que está em crise é o nosso futebol como um todo.
Os resultados deste ano estão confirmando aquilo que todos temiam depois da perda da Copa do Mundo de tão má memória.
Participamos de três competições internacionais e perdemos todas.
No Mundial Feminino fomos eliminados pela Austrália nas oitavas de final, no Mundial Sub-20 fomos derrotados na final pela Sérvia e na Copa América caímos fora nas quartas de final, devidamente despachados na cobrança de penalidades pelo Paraguai.
Na disputa da Copa Libertadores, dos cinco brasileiros que iniciaram a competição, sobrou apenas o Internacional, um Dom Quixote solitário, disputando as semifinais.   
A explicação para isso parece residir na falta de estrutura de base para descobrir jogadores talentosos e dar a eles disciplina tática e foco naquilo que estão fazendo, e nisso a CBF tem uma participação decisiva. Conta também com a mercantilização excessiva, que conduz o esporte e as sua importância lúdica para um campo puramente comercial pela valorização indevida de muitos jogadores.
Isto leva à presunção de que basta ser um jogador mediano e vestir a camisa de algum clube europeu para ter a sua convocação garantida – gente como Fabinho, Fernandinho, Fernando, Luis Gustavo, Felipe Luís, Casemiro, Marquinhos e Douglas Costa não seriam sequer lembrados se jogassem no Brasil.
Finalmente, paira a desconfiança cada vez mais forte de que a intermediação dos empresários e os valores das transferências milionárias de nossos jogadores para clubes europeus tenham muito a ver com a sua convocação. Além da caixa preta das transações, o jogador em questão começa a se sentir tão importante que se esquece de jogar futebol – afinal um superstar vive também da imagem cultivada por carrões, cabelos e roupas fashion, exposição nas redes sociais e belíssimas gatas que emolduram instagrans, selfies e baladas.
Ainda não caiu a ficha de que as coisas andam mal planejadas e a desculpa dada pelos dirigentes pela eliminação da Copa América é a mesma dada pela perda da Copa do Mundo. Eles alegam um “acidente de percurso”.
A desculpa é usada tanto pela entidade como pelas comissões técnicas – assim foi com Felipão, assim está sendo com Dunga e assim será com qualquer um que venha a ser convidado para comandar a seleção e que mantenha a postura arrogante de quem acha que nós não temos mais nada que aprender.      

 

 

(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 03/07/2015)