sábado, 20 de outubro de 2018







MIRAGEM

(Augusto Pellegrini)

Segui uma estrela-guia
Noite afora, noite adentro
Até o raiar do dia
E quando o dia clareou
Ela se mesclou de céu

E o arco-íris distante
Andei até o fim da trilha
E para o meu desencanto
Ao dobrar a última esquina
Ele se mesclou de chão

Uma cigana me disse
Para eu seguir tal caminho
Mas antes que eu percebesse
Que tal caminho era rua
Ele se mesclou de beco

O velho sábio falou
Palavras que eu nunca ouvi
E quando em mim despertou
O desejo de segui-lo
Ele se mesclou de vento

O mar ruge contra as pedras
No vai-e-vem da maré
Mas quando menos espero
Ele ficou calmo e quieto
E se mesclou de laguna

Vejo teu sorriso franco
No retrato aqui a meu lado
Mas depois de um breve encanto
Por distração ou descuido
Ele se mesclou de nada

Então sigo procurando
Por outras coisas concretas
Elas vêm, mas vão embora
Se mesclando de miragem
Nas minhas horas incertas

Set 2017


MIRAGEM

(Augusto Pellegrini)

Segui uma estrela-guia
Noite afora, noite adentro
Até o raiar do dia
E quando o dia clareou
Ela se mesclou de céu

E o arco-íris distante
Andei até o fim da trilha
E para o meu desencanto
Ao dobrar a última esquina
Ele se mesclou de chão

Uma cigana me disse
Para eu seguir tal caminho
Mas antes que eu percebesse
Que tal caminho era rua
Ele se mesclou de beco

O velho sábio falou
Palavras que eu nunca ouvi
E quando em mim despertou
O desejo de segui-lo
Ele se mesclou de vento

O mar ruge contra as pedras
No vai-e-vem da maré
Mas quando menos espero
Ele ficou calmo e quieto
E se mesclou de laguna

Vejo teu sorriso franco
No retrato aqui a meu lado
Mas depois de um breve encanto
Por distração ou descuido
Ele se mesclou de nada

Então sigo procurando
Por outras coisas concretas
Elas vêm, mas vão embora
Se mesclando de miragem
Nas minhas horas incertas

Set 2017

quinta-feira, 18 de outubro de 2018






HOTEL BUENA VISTA
(Excerto)

O corredor era imenso, e lá havia mais espelhos do que aparentava haver. Parecia também que o teto era mais alto, até onde a vista não conseguia alcançar.
Lá no fundo do corredor, quase a perder de vista, uma governanta se movia lentamente empurrando um carrinho cheio de fronhas e lençóis, e a sua imagem se multiplicava pelas paredes espelhadas, se movendo como num caleidoscópio.
Federico Pulga estava estático, mas o corredor parecia se mover e as portas se sucediam, embora a numeração dos quartos permanecesse sempre a mesma – 316 – e a semiobscuridade não permitisse que os detalhes fossem vistos com clareza.
Vultos saíam das sombras e entravam pelas portas, dando a impressão que atravessavam silenciosamente as paredes. Apesar de o piso estar forrado por um carpete espesso, Federico podia ouvir passos atrás de si, mas ao girar nos calcanhares ele via simplesmente a sua imagem multiplicada pelos espelhos.
O corredor estava abafado, mas uma lufada de vento frio se fez presente às suas costas e de repente já era possível ouvir o barulho da chuva que continuava ininterrupta como se uma abertura tivesse sido feita na parede da extremidade do corredor. As luzes fracas piscaram algumas vezes como se a energia elétrica estivesse entrando em colapso.
Federico viu então um homem se aproximar. O estranho era alto e circunspecto e tinha os cabelos prateados em desalinho. Estava impecavelmente trajado a rigor.
No exato momento em que Federico estava para cruzar com o estranho as luzes se apagaram definitivamente e o ruído da chuva e a força do vento também cessaram de repente.
Ato contínuo, o som de um piano se fez ouvir, deixando no meio da escuridão uma melodia que Federico não conseguia identificar.
-0-0-0-
Ao chegar à aporta do ser apartamento, ele olhou para ambos os lados do corredor. À sua esquerda, apenas algumas lâmpadas mortiças que se refletiam nos espelhos e se diluíam no vermelho do revestimento. À sua direita, o corredor se afunilando e desembocando nas escadas.
Federico entrou no quarto, ansioso e desperto, mas sentiu que precisava dormir. Apagou a luz e meteu-se debaixo das cobertas para aguardar o sono com os olhos fechados. Decidiu que, acontecesse o que acontecesse, ele só sairia da cama quando amanhecesse o dia.
Após um período de vigília, ele finalmente adormeceu, sem sonhos marcantes nem visões que denunciassem os fantasmas do hotel, até que o alvorecer trouxesse um pouco de claridade.
 

quarta-feira, 17 de outubro de 2018





SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 30/06/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

ELLINGTON AT NEWPORT
   
Duke Ellington é considerado como o maior compositor americano de todos os tempos, e uma das maiores influências orquestrais desde a década de 1920 até a de 1960. Compositor, pianista, arranjador, band-leader e professor, Ellington liderou grandes orquestras, pequenos conjuntos e trios, passando por diversos estilos de jazz, do tradicional ao swing, das baladas ao jazz de vanguarda, sempre imprimindo a sua marca pessoal na sonoridade e na complexidade das interpretações. O programa de hoje mostra uma apresentação ao vivo da sua orquestra no American Jazz Festival de Newport - Rhode Island - em julho de 1956, há portanto 61 anos. O próprio Ellington diz que duas passagens na sua vida funcionam como marcos especiais:, as suas primeiras apresentações no Cotton Club em Nova York e este Festival de Newport, o que ele considera "um exemplo clássico de estar no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa diante do público certo". Além de Ellington, músicos extraordinários fazem parte da orquestra, como os saxofonistas Russell Procope, Johnny Hodges, Paul Gonsalves e Harry Carney, os trompetistas Ray Nance e Clark Terry, o trombonista Quentin Jackson e o baterista Sam Woodyard, entre outros.  

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                     

segunda-feira, 15 de outubro de 2018





INSISTÊNCIA

(Augusto Pellegrini)

Por que você insiste pra que eu feche a porta?
Eu sei que já é tarde, mas se mantém o calor
Pois o sol intenso da tarde nos incendiou
Pode ser noite, mas cálida, é o que importa
Em contraposição com o seu mau humor

Por que você insiste para que eu feche a boca?
Se eu gosto de falar a sós comigo mesmo
Na falta de um interlocutor que me compreenda
E faça eco à minha conversa vã e louca
Feita de notas musicais, como um solfejo

Por que você insiste para que eu não ouça?
Se tudo o que desejo é ter o ouvido aberto
Para saber o que de mim fala este vento
O gotejar da água que que na poça empoça
E o farfalhar das folhas que estão por perto 
 
Por que você insiste que eu abandone o vinho?
Se é ele que me faz noturna companhia
Enquanto aguardo em vão por aquele sorriso
E aquele olhar sereno pra aquecer meu ninho
Tornando esta mansão um pouco menos sombria

Por que você insiste que eu não sinta a noite
E a sua companhia amiga e benfazeja?
Se isto parece agora ser tudo o que me resta
Para tentar fugir da dor do seu açoite
Pois neste instante é o que minh’alma almeja

A porta, a boca, o vinho, e esta noite louca
Me fazem companhia, ao lado da sua ausência
Quem sabe a manhã venha e traga novidades
Você sorrindo lindo e desbragadamente
Me olhando com ternura... e sem tanta insistência

Jun 2017