sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018





GENTE DE BEM

(Augusto Pellegrini – música composta na década de 1960)

Não quero reboliço pro meu lado
Sou gente fina
Sou gente de bem
Faço questão de ser considerado
Não quero aborrecer ninguém

Desde que a encontrei
Não agimos de outro jeito
Ciúmes, inveja ou despeito, não sei


Sugiro quando as coisas melhorarem
Eu sair para o meu lado
E você sair pro seu
Agora, se quiser fazer bobagem
Me desliga da voltagem
E se acenda só





SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 18/03/2016
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís - MA

BEATLES IN JAZZ

A música dos Beatles nunca sai de moda. Apesar de John, Paul, George e Ringo permanecerem juntos por menos de dez anos fazendo gravações, shows e turnês, a sua música transcendeu ao tempo e foi executada e gravada em praticamente todos os estilos por centenas de músicos e cantores das mais diversas procedências - do pop ao erudito, do romântico ao dançante, do reggae ao jazz. Um dos mentores musicais e intelectuais da banda, George Martin, falecido este mês, a quem o programa também serve como homenagem, sem dúvida aprovaria o formato do álbum que será apresentado nesta sexta-feira, mostrando uma releitura de velhos sucessos dos Beatles interpretados por jazzistas consagrados como Hank Mobley, Elvin Jones, McCoy Tyner, Bud Shank, Chet Baker, Stanley Jordan e Toots Thielemans em gravações que vão desde 1964 - ainda na época da Beatlemania - até 2006, mostrando que o modelo não se esgota e que a música dos Beatles seguirá imortal como a dos grandes mestres, de Mozart a Cole Porter, de Beethoven a Jobim . Uma oportunidade para ouvir "Michelle", "Come Together", "Hello Good-Bye" e "Eleanor Rigby" vestidas de jazz.

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018




GOL CONTRA

O futebol brasileiro perdeu uma grande oportunidade de aplicar uma goleada histórica sobre alguns dos problemas que vêm enfrentando no momento e acabou perdendo o jogo após marcar um gol contra que, além de jogar contra o patrimônio, foi intencional.
O futebol é um dos poucos esportes que não aproveita o uso da tecnologia para evoluir, ou pelo menos para ajudar o controle e as decisões que são tomadas por uma equipe fiscalizadora.
Se fora do campo, nos seus centros de treinamento, os clubes estão se equipando com tecnologia de ponta e de especialistas para operar esta tecnologia, o mesmo não acontece nas quatro linhas do gramado.
A fim de analisar uma melhoria que vem dando certo em diversos países, a CBF convidou os clubes para discutir a utilização do chamado VAR – Video Assistant Referee (o chamado Árbitro de Vídeo), mas a sua aplicação foi rejeitada pela grande maioria.
Os motivos? O custo, que seria arcado pelos próprios clubes, a falta de uma análise mais criteriosa e a dificuldade de implantação ainda no Campeonato Brasileiro deste ano.
O custo apresentado pela CBF é cinco vezes mais caro do que acontece, por exemplo, em Portugal – o que é no mínimo estranho. E a exigência de que este custo seja de responsabilidade dos clubes é também no mínimo estranha, pois a CBF cobra altas taxas para fazer um trabalho que em outros países é desempenhado por uma Liga formada pelos clubes que disputam as competições (ficando para a federação nacional apenas a administração das seleções e dos torneios que envolvem as seleções).
Ficou no ar a impressão de que mais do que o custo, os clubes temem que o árbitro de vídeo venha frustrar suas expectativas, tal a quantidade de erros grosseiros cometidos recentemente pela arbitragem que contaram com a “compreensão” de técnicos e dirigentes por eles beneficiados.
Os clubes também votaram, desta vez a favor, pela venda de mando de campo desde que os dois protagonistas estejam de acordo, um casuísmo que coloca as conveniências financeiras acima do fato esportivo, que devia ser, mesmo em tempos de profissionalismo, a principal razão pela qual se disputa um torneio.
Assim, parece que as coisas vão ser cozidas em fogo brando até que algum grupo de empresários se reúna para construir um VAR por um custo razoável ou que a CBF ache uma nova forma de custear o investimento.
Outra proposição que foi aprovada foi a utilização do gramado artificial, muito combatido há alguns anos porque causaria lesões nos jogadores devido ao material usado, cortante e escorregadio. Com certeza a tecnologia evoluiu também neste quesito, e a sua utilização acaba indo de encontro também às atuais demandas ecológicas.       
 Finalmente, um gol contra que não foi discutido, mas parece ter a sua raiz na proibição dos fabricantes de borrifador que querem ter seu nome divulgado nas competições. É importante e necessário que o spray branco que delimita a distância da barreira volte urgentemente aos nossos campos porque, ao contrário do que ocorre em outros países, os jogadores brasileiros são indisciplinados quanto ao seu posicionamento e criam muitas dificuldades para a arbitragem, que precisa manter um olho no peixe e outro olho no gato.






terça-feira, 6 de fevereiro de 2018







SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 16/10/2015
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

PAQUITO D'RIVERA - TICO! TICO!
  
De criança prodígio a músico brilhante, Paquito D'Rivera é um dos mais conceituados músicos que surgiram para o mundo do jazz a partir dos anos 1980. Sua origem cubana e sua afirmação musical entre os mais considerados artistas do gênero fazem de Paquito um saxofonista e clarinetista completo, executando com a mesma perfeição e feeling os gêneros latinos - aí incluindo a música brasileira - a música de câmara e o jazz fundamental. Ao longo da sua carreira, Paquito D'Rivera tem liderado grupos com a presença de Chucho Valdez, Dizzy Gillespie, Arturo Sandoval, McCoy Tyner e outros expoentes. No Sexta Jazz desta semana, Paquito apresenta um álbum gravado em 1989 mostrando uma forte pegada latina, esbanjando categoria no sax-alto, no sax-tenor e na clarineta ao lado de músicos que como ele dominam o campo do Latin Jazz com perfeição. O resultado é uma seleção de músicas cheias de swing, sentimento e encanto, que serviu inclusive para pavimentar a estrada do músico que aos sete anos já endossava os saxofones da Selmer Company, aos trinta e três saiu de Cuba para os Estados Unidos e atualmente, aos sessenta e sete, é um cidadão do mundo.


Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018





A MACHADINHA

(Conto publicado no livro “À noite, todos os gatos” em 1998)

(Parte 2)

Antes do alvorecer ouvem-se novamente os passos descompassados como um coração em sobressalto e um tilintar de metais agora que a mão balança frouxa fora do bolso do casaco – a outra segura a maleta de apetrechos como se fosse uma garra. Os passos vêm do fim da cidade, das ruas não calçadas, e já alcançaram o calçamento de pedras e a praça onde a carruagem deixou sua marca tão forte que até agora sente-se nos ouvidos o poc-potoc das patas dos cavalos.
Alguém deixou a luz acesa desde então, e a janela, embaçada pela névoa cinzenta, parece uma lua irregular e impressionista dependurada no alto da praça.
Os passos que pliqueplaqueiam vêm se aproximando mais compassados, e eis que ele surge na esquina com a mão livre tentando fechar e gola do casaco de encontro ao queixo enquanto os talismãs, agora totalmente soltos dentro do bolso, trincolejam alegres como uma canção de Natal.
Ele cambaleia levemente por causa de algum passo em falso, se recompõe, passa pelo chafariz sem vida e olha para o alto, onde a janela teimosamente acesa começa agora a formar um quadro com o escuro do prédio e do céu já não tão negro, tomando as cores do azulado do alvorecer.
Passa depois pelos becos onde as latas de lixo se confundem com insetos que não dormem, a sombra ainda caminhando animada pela luz dos postes.
A árvore imóvel deixa cair uma das sujas poucas folhas bem próximo da sua cabeça como se fosse um morcego em voo cego tentando arrancar-lhe os olhos.
Penosamente ele enfim alcança a frente do seu prédio, abre a porta pesada que geme nas dobradiças e sobe lentamente o lance de escada que range nas juntas dos degraus e do balaústre.
Entra no seu aposento singular, exausto como um soldado em retirada, desanimado como um portador de más notícias, trêmulo como um doente de malária, sombrio como um assassino compulsivo, arfante como quem cumpriu penosamente com o seu dever.  
Tira o boné, atira a valise para o canto da cama, tira o casaco, retira do bolso o crucifixo e o coloca dentro de um porta-lápis de plástico, depois despe a camisa xadrez.
A camiseta encardida apresenta respingos de sangue e as mãos também estão meladas de sangue, entranhado sob as unhas mal aparadas. Há sangue também no seu olhar vazio.
Um rastro escarlate tinge o seu rosto e tinge a barba mal feita e o cheiro peculiar de sangue se espalha pelo seu corpo e pela sua alma, e pela sua boca e pela sua mente.
Ele se senta pesadamente ao pé da cama e olha fixamente para o chão em direção às botinas enlameadas e à barra da calça molhada e puída, depois ergue os olhos miúdos e se depara com a bacia de ferro esmaltado cheia de água cristalina, onde ele vai lavar os seus pecados.
Depois olha para o teto escuro e para a luz que ilumina parcamente o aposento e toma novamente a mesma resolução que vem tomando há muito tempo sem concretizar.
Ele está farto das madrugadas escondidas e do cheiro da morte.
Está farto de tanto sangue, de tantas vítimas, de tanta dor, do gemido curto, da faca afiada a rasgar ventres, da machadinha a dilacerar ossos, da mão assassina e rubra.
Está farto da sua sina. Está farto de sangue... sangue... sangue...
Logo que clarear o sol ele vai dar um basta nesta situação de uma vez por todas. Vai ao escritório do Frigorífico Machado & Cruz pedir as contas do serviço sujo que faz há anos como magarefe no matadouro da cidade todas as noites, sangrando, decepando membros e esfolando bois.