quinta-feira, 10 de março de 2011

WAYNE WALLACE NO SEXTA JAZZ


UM CUBANO NASCIDO NA CALIFÓRNIA
Muitas vezes o jazz escreve certo por linhas diferentes. Assim, mesmo tendo nascido no que podemos chamar berço do West-Coast jazz, o trombonista Wayne Wallace foi sempre fascinado pelos ritmos afro-cubanos, e como uma coisa leva à outra, ele se viu estudando na Escola Nacional de Artes em Havana, onde se aperfeiçoou entre 1993 e 1999 para se tornar um americano com a cara musical de Cuba, seja no trombone, no piano ou cantando.
Wayne começou com o piano aos seis anos e depois com o trombone aos dez, crescendo o suficiente para topar uns encontros com Narada Michael, Tito Puente, Sammy Davis, Jr., Pete Escovedo e outros mais.
Trombonista, compositor e arranjador dos mais considerados, Wayne recebeu diversas premiações por trabalhos de composição voltados para a música latina através da San Francisco Arts Commission, da N.E.A., da Zellerbach Foundation,  e do Creative Work Fund, e é detentor do Bay Area Theater Critics Award.
Extremamente competente, ele navega com desenvoltura por diversos gêneros musicais “calientes”, como o mambo, a salsa, o ska, o funk ou o bolero, tudo calcado no jazz e no blues.
Mas Wallace não fica só na execução ou na composição.
Ele tem atuado como produtor de artistas importantes no contexto internacional – e aqui podemos citar Celine Dion, Angela Bofill, Chris Isaak, Earth Wind and Fire e Whitney Huston, entre outros. Ele também trabalha com trilhas para cinema e televisão.
Seus recentes CDs “To Hear From There”, “The Reckless Search For Beauty” e “Dedication” são uma prova de inventividade, e marcam definitivamente a profunda união musical dos ritmos caribenhos com o jazz, revivendo as incursões feitas no século passado por Dizzy Gillespie ao lado de Machito, Mario Bauzá e Chano Pozo.
É interessante notar que ao contrário de Gillespie, Wayne Wallace se cerca de músicos também americanos, exceção feita a um ou outro músico convidado, mas todos devidamente lambuzados com o molho e o tempero da verdadeira cozinha musical cubana.
É este Wayne Wallace que vocês terão oportunidade de conhecer – ou re-ouvir, conforme for o caso – nesta sexta-feira, dia 11 de março, no programa Sexta Jazz, 8 da noite, na Rádio Universidade (você pode ouvir pela internet acessando o site universidadefm.ufma.br)
Nota: O CD que será executado no programa, “To Hear From Here” me foi gentilmente presenteado pelo radialista, crítico musical e produtor (e roqueiro nas horas incertas) Gilberto Mineiro.


segunda-feira, 7 de março de 2011

O CARNAVAL DOS OUTROS

 

O carnaval brasileiro é o mais famoso do mundo, dizem as boas e as más línguas.
Não chega a haver controvérsias, mas é bom a gente saber, do alto da nossa proverbial verdade, que existem outros Carnavais que não estes cantados pelos sambas de enredo, pelas marchas-rancho, pelas marchinhas, pelos sambas de carnaval, pelo frevo e pelo maracatu, e atualmente pelos ritmos baianos, gostem-se deles ou não.
Enquanto as escolas de samba invadem as madrugadas rasgando as passarelas do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, e enquanto animados blocos desorganizados vão arrebanhando foliões avulsos pelas esquinas movimentadas das grandes metrópoles ao som de uma charanga improvisada, outras partes do mundo vão fazendo a sua parte.
Afinal, é Carnaval, uma festa que dizem ter seu nome originado no latim Carne Vale, “adeus à carne”, ou seja, “adeus aos prazeres da carne”, ironicamente produzida num período de cinco dias onde a carne (sem trocadilho) abunda.
Parece papo de brasileiro, mas o Carnaval do Rio de Janeiro é tido realmente como o mais sensacional do mundo “um teatro a céu aberto”, “uma febre de cores e luzes”, “uma ópera popular contagiante” ou “um espetáculo de música e alegria” como o descrevem nossos ufanos jornalistas.
O fato é que o Rio conseguiu exportar seu modelo de carros alegóricos, adereços e bateria para Tóquio e – pasmem! – até para Helsinque; também mandou a alegria dos blocos de rua para Nova York e Buenos Aires, e se mantém absoluto neste quesito, eis que o Livro Guiness de Recordes aponta o Galo da Madrugada, de Recife, como o maior bloco carnavalesco do mundo (o bloco mais antigo, ainda em explosiva atividade,  seria o Cordão do Bola Preta, fundado em 1918, mas o Galo continua cantando mais alto, pelo menos no Livro).
Apesar da pujança do Carnaval carioca, muito antes do Zé Pereira sair batendo a sua lata nas ruas do Rio Antigo e dar o ponta-pé inicial no Entrudo, outros países já faziam os seus Carnavais de uma maneira própria, com motivos, fantasias, música e desfiles que em muito diferem da alegria e dos pecados encontrados no sul do equador.
Em Veneza, as festividades começaram no século 17, e têm seu ponto alto nas máscaras que os nobres usavam para poderem sair às ruas e se misturar com o povo sem serem reconhecidos. As máscaras até os dias de hoje são muito sérias e não remetem à folia, preferindo se referir ao drama e à comédia do teatro grego.
O Carnaval de Veneza nasceu nas ruas sob a inspiração dos personagens da Commedia Dell’Arte – Arlecchino, Pantalone, Colombina, e outros – e passou também para os salões, sendo festejado durante dez dias.
A música é baseada no folclore italiano, e apesar de alegre e vibrante, não chegaria a contagiar o folião brasileiro, que iria sentir falta de um ritmo mais marcante.
O Carnaval de Paris talvez não seja tão conhecido, mas faz parte do calendário oficial da cidade desde o século 16.
Ao contrário do Carnaval de Veneza, o de Paris nasceu por conta dos trabalhadores, o que fez com que, historicamente, ele possuísse menos glamour e riqueza. Além do mais, ele foi descontinuado entre os anos 1950 e 1993, o que faz com que muitos parisienses não lhe dêem atualmente muita importância.
O Carnaval de Paris marca, porém, um ponto decisivo na história dos folguedos, pois influenciou na existência do Mardi Gras do Carnaval de Nova Orleans, sendo a sua principal referência.
Excetuando o Rio de Janeiro e atualmente Salvador, o Mardi Gras – expressão francesa que significa Terça-Feira Gorda – é o Carnaval mais procurado pelos turistas, chegando a reunir na temporada momesca mais de 4 milhões de pessoas na cidade de Nova Orleans.
Os festejos começam a esquentar já no mês de janeiro, mas dez dias antes da terça-feira gorda a coisa fica realmente festiva, com muita gente participando ativamente do clima musical-gastronômico proporcionado pela cidade.
Músicos tocam nas esquinas e, é claro, nos bares e restaurantes. No French Quarter, o bairro mais famoso da cidade, rolam desfiles com carros alegóricos tocando Dixieland – a marca registrada da Louisiana – e também o blues e outras músicas, sejam elas caribenhas ou de origem crèole, que é uma afro-mistura da música européia com a música feita pelos negros no século 19.
Talvez a diferença fundamental entre os Carnavais de Nova Orleans e do Brasil seja a dança. Enquanto no Brasil – Rio, Salvador, Recife, Olinda ou onde quer que seja – os participantes do desfile e aqueles que assistem o desfile dançam ao som da bateria que batuca incessantemente, na Louisiana os músicos tocam, os participantes desfilam e o povo escuta, no máximo acompanhando o ritmo com os pés batendo no chão. 
As marcas registradas do Mardi Gras são os desfiles com jeito de banda militar, as máscaras de gesso, as cheerleaders (garotas uniformizadas que fazem evolução à frente dos carros alegóricos a exemplo do que fazem nos intervalos das grandes competições esportivas americanas), negros trajando um figurino utilizado há mais de cem anos evoluindo por entre os carros, e algumas moças, na maioria universitárias, que mostram rapidamente os seios em troca de ganharem colares de contas para cobri-los devidamente.
E muitos camelôs vendendo colares...   
Mas o Carnaval não se resume a estes eventos principais.
Neste mundo globalizado, o Carnaval se espalhou e já “contaminou” Santiago de Cuba, Austin, no Texas, Los Angeles, na Califórnia, Cádiz, na Espanha, Oruro, na Bolívia, Barranquilla, na Colômbia, Londres, Québec, as Ilhas Canárias e tantos outros.

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Mas, qual a origem de tudo isso?
O carnaval, proposto em diferentes formas, faz parte da comemoração de diversos países. Alguns tipos de Carnaval são claramente baseados nos festejos do Rio de Janeiro, é certo, mas outros se baseiam em origens próprias e diferem em forma e conteúdo.
O que existe de semelhante em todos eles é a data da celebração, baseada na Quaresma, que marca quarenta dias de jejum – período que Cristo passou jejuando no deserto, antecedendo o domingo de Páscoa, cuja data é fixada como o primeiro domingo depois do aparecimento da primeira lua cheia na primavera do hemisfério norte (confuso, não?).
Apesar de existirem relatos históricos segundo os quais o Carnaval tenha a sua origem na Grécia em aproximadamente 600 A.C., a história moderna situa o início das festividades a partir da implantação da Semana Santa pela Igreja Católica no século 11, antecedidas pelos quarenta dias de jejum, a Quaresma.
Assim, Carne Vale significava um adeus temporário aos prazeres deste mundo durante quarenta dias de jejum e abstinência, e para tal os homens faziam grandes “festas de despedida”, evidentemente com muita esbórnia e libações diversas.
O Carnaval da antiguidade durava uma semana e era marcado por grandes festas onde se dançava, comia, bebia e participava de alegres celebrações. Os escravos ganhavam uma semana de licença para fazerem o que bem entendessem e o próprio rei entrava na farra junto com a patuléia – daí surgindo possivelmente a figura do Rei Momo.
Hoje, pelo menos pelo que se observa no Brasil, o rei é representado por alguns governantes e algumas celebridades que evitam o contato direto com o povo e preferem se isolar nos camarotes especiais das cervejarias ou freqüentar bailes de gala isolados, cuja participação se restringe a convidados especiais.
Mas os “escravos” continuam tendo a sua semana de folga.