sábado, 24 de outubro de 2020

 



RESSENTIMENTO

(Augusto Pellegrini)

Não ponha na minha boca
Palavras que eu não as disse
Nem coloque na minha mente
Coisas que eu não concebi
Não se faça de inocente
Nem cometa bizarrices
E não se faça de louca
Me citando aqui e ali

Não sou médico nem nada
Pra curar suas doidices
E não tenho mais paciência
Pra aturar suas mancadas
Ponha a mão na consciência
Ou do que dela restou
E não me envolva em sua trama
Muito mal-intencionada

Certo está quem lhe condena
Por tudo o que tem causado
Mas não vou cumprir a pena
Por ter estado ao seu lado
Durante o seu destempero
Eu sempre fui inocente
E assim, como tanta gente
Também me sinto enganado

Pois com o passar do tempo
A verdade virá à tona
E todos os envolvidos
Nessa sua vã intentona
Verão que o mal-entendido
Nesta história mal urdida
Foi só fruto de uma mente
Doente, má e ressentida

Outubro 2020

 



 


AS CORES DO SWING
          (Livro de Augusto Pellegrini)

FINAL DO CAPÍTULO 16 - A PROIBIÇÃO

Paradoxalmente, na mesma época em que Louis Armstrong crescia em popularidade, Bix Beiderbecke murchava e morria sozinho e literalmente destruído pelo álcool em um quarto de hotel em Manhattan, desprezado pelos maestros que não aguentaram o seu comportamento doentio. Era 1931, e ele tinha vinte e oito anos.

Mas além dos músicos, que de uma forma geral atravessavam momentos de grande inquietação depois da Depressão de 1929 pela falta de uma perspectiva de futuro, os gângsters também sofriam grandes baixas, embora por outros motivos.

A guerra entre as quadrilhas estava cada vez mais acirrada, tendo alcançado seu auge em Chicago oito meses antes da quebra da Bolsa de Valores. Foi quando aconteceu o chamado “massacre do dia de São Valentim”, no dia 14 de fevereiro de 1929.

Nesse dia, Al Capone, conhecido com “Scarface”, e o seu pistoleiro-mor “Machine Gun” Mc Gurn assassinaram brutalmente sete membros da gangue liderada pelo rival George “Bugsy” Moran, após atraí-los para uma garage na North Clark Street sob o pretexto de negociar um carregamento de uísque a preços módicos. Para a sua sorte, Moran não estava no momento com os comparsas, mas perdeu boa parte da sua força, pois teve seus principais auxiliares exterminados pelos pistoleiros disfarçados de policiais.

Um dos atingidos, de nome Frank Gusenberg, ainda foi encontrado com vida, mas surpreendentemente relatou aos policiais que “ninguém havia atirado nele”. Gusenberg morreria horas depois sem revelar às autoridades quem estava por trás do atentado. Enquanto Gusenberg exalava seu último suspiro, Capone e Mc Gurn descansavam tranquilamente em um hotel das redondezas com as respectivas namoradas.

O crime organizado sofreria, no entanto, um grande baque com a verdadeira guerra que foi declarada a partir de então contra as quadrilhas, principalmente devido ao clamor público que se seguiu à chacina. O cerco foi apertando e culminou entre outras coisas com a prisão de Capone em 1931, não pelos crimes de toda espécie que ele perpetrava e praticava – assassinato, sequestro, contrabando, corrupção – mas simplesmente por uma declaração de imposto de renda mal feita.

Foi uma vitória marcante do Bureau contra o gangsterismo, da qual fez parte o lendário agente federal Eliot Ness.

Durante três anos, Eliot Ness e Alphonse “Al” Capone fizeram o jogo do gato e o rato, travando verdadeiras batalhas físicas e institucionais. Nas ruas, os agentes de Ness, denominados de “Os Intocáveis”, e os membros da quadrilha de Capone trocavam tiros e participavam de perseguições espetaculares, dignas das séries do cinema e da televisão que seriam realizadas no futuro. Ao mesmo tempo, os advogados de Capone, os promotores da Justiça e os agentes da Receita Federal esgotavam as suas baterias nas delegacias, nas audiências e nas salas de júri utilizando-se de todas as sutilezas de um jogo de xadrez.

No fim, não coube a Ness prender Al Capone, como era o seu desejo, mas os espertos advogados e os promotores públicos com o auxílio de um agente chamado Eddie O’Hare, usando como arma um simples, mas eficiente, mandado de prisão.

Com o fim da Proibição em 1933, os Estados Unidos voltaram a ter uma era de normalidade, onde todos enfim podiam beber legitimamente e ouvir o seu jazz sem restrições. A economia voltava a florescer dentro de uma política de apoio à livre iniciativa, e os bares e restaurantes voltavam a respirar longe dos subterrâneos do crime de contrabando e da fabricação clandestina de bebidas. E os donos dos estabelecimentos se viram livres do pagamento das taxas de proteção e segurança obrigatória imposta pelos mafiosos, sistema conhecido como “protection racket”.

Quanto a Eliott Ness, ele foi perdendo a importância e mais tarde acabou perdendo também o emprego, ironicamente por ter aumentado o consumo próprio de doses diárias de uísque e chegar constantemente ao trabalho na sóbria repartição federal com ares não muito sóbrios de embriaguez.

 

 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

                                                          




                                                    NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU) 

(ver tradução após o texto)

 

WHEELS 

We know there are many things that have wheels since they invented the wheel in prehistory – cars, motorbikes, bikes, roller skates, suitcases, chairs, wheelchairs, wheelbarrows and stuff, but when somebody refers to their WHEELS they are talking about their car.  

  

            “I can’t pick you up ‘cause I don’t have my WHEELS at the moment.”

 

            “Nice WHEELS!”

           

            “I had to send my WHEELS for repair because it was in poor condition.”

           

                          

 

TRADUÇÃO

 

RODA

Nós sabemos que existem muitas coisas com rodas, desde que a roda foi inventada na pré-história – carros, motos, bicicletas, patins, malas de viagem, cadeiras, cadeiras de rodas e carrinhos de mão e o escambau. Quando alguém, porém, se refere “às minhas RODAS” (em inglês) ele está falando do automóvel que possui. Em português a expressão não faz sentido, aqui as pessoas se referem ao seu carro como “minha máquina”.  Assim, usaremos os exemplos abaixo com a expressão utilizada no Brasil.

 

“Eu não posso buscar você porque no momento estou sem a MÁQUINA”.


“Bela MÁQUINA, a sua!”


“Tive que mandar minha MÁQUINA pro conserto porque estava cheia de problemas”.

 

 

 


 

                                  A foto do fato: Louis Armstrong faz a festa!

AS CORES DO SWING
          (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 16 - A PROIBIÇÃO
           (continuação)

Um outro assunto que entrava em discussão, pelo menos nos meios artísticos, era o destino do jazz.

Com o distanciamento do público da música tradicional vinda de Nova Orleans, e com o refinamento das orquestras e o seu crescimento em termos de quantidade, era de se prever que, durante a década, o jazz tomasse outra forma e outro caminho, o que efetivamente aconteceu.

Os músicos, que sempre fizeram parte de um mundo diferente, mantinham cordiais relações com os mafiosos, pois as atividades da Máfia eram uma notável fonte de recursos que ajudavam o show business a seguir em frente.

Os chefões de Nova York, Chicago e Los Angeles, além de serem proprietários ou sócios da maioria das casas de espetáculo, apreciavam o jazz da época e incentivavam as orquestras e os cantores a continuarem executando a sua música. Figuras proeminentes das famílias Bonanno, Colombo, Profaci, Gambino, Genovese, Lucchese, Ardizzone e Dragna aliavam um pouco deste prazer ao negócio lucrativo e ao fortíssimo contrabando de bebidas e, em alguns casos, drogas.

Muitos deles compareciam às noitadas apenas para tomar um bom vinho, fumar um charuto especialmente vindo de Cuba ou do Panamá e se distrair com a música, acompanhados por belas “pin-up girls”, candidatas a um estrelato que nunca chegava. Outros, no entanto, frequentavam as casas noturnas para verificar de perto a quantas andava o seu funcionamento e analisar o que poderia ser feito para aumentar o lucro.

De acordo com o trompetista Jimmy Mc Partland, “...freqüentemente um ou outro chefão da pesada adentrava os salões acompanhado por um séquito de seis ou sete guarda-costas e, uma vez lá dentro, mandava trancar as portas para que ninguém mais entrasse. Durante o transcorrer do espetáculo”, continua ele, “os mafiosos distribuíam notas de até cem dólares entre os músicos, cantores, dançarinos e garçons, como agradecimento pelo bom atendimento e pela música agradável”.

Por outro lado, o perigo vivia à espreita.

Não que existisse o risco de a polícia chegar a qualquer momento e levar todos os frequentadores para o distrito, como seria de se esperar. A polícia raramente aparecia onde os chefões ou seus imediatos graduados se encontravam, pois existia um acordo mudo entre a lei e os fora-da-lei, sob a cobertura de uma forte rede de corrupção.

O perigo residia num eventual encontro de membros de gangues rivais, podendo provocar terríveis tiroteios, nos quais as balas não escolhiam o endereço.

O baterista George Wettling diz ter presenciado diversas vezes alguns episódios do gênero, chegando a sentir as balas zunindo perto da sua cabeça enquanto a gritaria e o pânico tomavam conta dos presentes. Os músicos tinham ordem para seguir com a música quando qualquer confusão começasse, mas precisavam ficar com os olhos bem abertos para o movimento dos guarda-costas ou para qualquer gesto que alguém fizesse para sacar uma arma.

Certa vez, o proprietário do Triangle Bar levou um balaço no estômago apenas por estar desprevenido quando começou uma discussão mais acalorada entre membros de gangues concorrentes. “Enquanto o homem era socorrido” – diz Wettling – “a orquestra continuou o show normalmente, como se nada de extraordinário tivesse acontecido”.

No final, as coisas acabavam retornando à normalidade e ainda sobrariam alguns dólares para todos os músicos e empregados.

 

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Ao mesmo tempo em que o mundo musical modernizado mandava para o ostracismo antigos ídolos do jazz tradicional, casos de King Oliver, Jelly Roll Morton, Sidney Bechet, Joe Venuti e outros tantos, Louis Armstrong crescia no seu prestígio.

Dentro de um panorama onde o jazz de Nova Orleans era substituído pelo swing incipiente, a única coisa que poderia explicar a crescente popularidade de Armstrong tocando um estilo um pouco fora de moda era a sua inigualável qualidade como músico, seu carisma e a sua incrível performance de palco.

Vindo de atuações teatrais na época em que participava da orquestra do Vendome Theatre de Chicago em 1925, quando criou o personagem “Reverendo Satchelmouth” – de onde teria surgido o apelido de “Satchmo” – Armstrong adquiriu um forte traquejo histriônico, que colocou em prática quando assumiu de vez a sua condição de cantor e músico de jazz.

Louis Armstrong foi também o principal responsável pelo renascimento do jazz tradicional num período conhecido como classical jazz, que durou cerca de uma década, de 1935 a 1945. Bastante amadurecido e com um fraseado mais envolvente, se comparado com aquele Armstrong de 1925, Satchmo pontificou ao lado de Ellington, Hampton, Lunceford, Eldridge e Basie e manteve acesa uma chama que acabou contribuindo para que o estilo não morresse em definitivo.

Armstrong se sobrepôs ao jazz, pois manteve o público em constante delírio em plena era do swing (e iria fazê-lo novamente mais tarde, mesmo quando o bebop tomou conta do panorama musical) e per omnia tempora, até a data da sua morte. Ele era como um rolo compressor que não se preocupava com as tendências e simplesmente seguia o seu caminho, fazendo tão somente alguns pequenos acertos no fraseado e no repertório.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

 


O ENCONTRO

Augusto Pellegrini
(excerto)

 

O táxi está suando, e eu estou suando dentro dele. O carro é antigo, e o ar é descondicionado.

O tempo está parado, como uma fotografia.

Logo agora, todos os sinais de trânsito ficam vermelhos e todos os motoristas de fim-de-semana resolveram sair para dar a sua voltinha.

Logo agora, todos os cachorros e todos os transeuntes cismam em cruzar vagarosamente a rua bem na frente desta carcaça automotiva, como se nada mais existisse adiante ou na retaguarda – “sempre alerta!” – e até os escoteiros cismam em acompanhar todas as velhinhas ao longo de todas as avenidas – e eu disse ao longo, não transversalmente.

Pior do que ser escoteiro é ter um pai escoteiro (devo ter ouvido isso em algum lugar, pois é uma frase brilhante, e eu não sou brilhante assim).

Este motorista palerma de bigode mal aparado não passa de dez quilômetros por hora para não tocar o auto em cima dessa gente toda, incluindo o motociclista que faz zigue-zague na frente do carro tentando achar uma saída e os insetos que se escondem nas fendas do leito carroçável (detestável, esta expressão!).

Afinal, no trânsito dos países em convulsão os tanques de guerra fazem isso com uma precisão mórbida e ninguém reclama – rádio, jornais e noticiosos de televisão apenas comentam à guisa de curiosidade.

Mas contra os tanques existem os lança-chamas e para mim já basta o calor deste dia e desta ardente espera.

O relógio caminha apressado, e tudo indica que o programado encontro se transformou numa angustiosa ausência ou em justificativas destituídas de romantismo.

E vem o calor desta dúvida – valeu mesmo a pena apanhar este táxi?  

 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

 


AS CORES DO SWING
            (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 16 - A PROIBIÇÃO
            (continuação)

Quando a Lei Seca foi aplicada, a Polícia Federal atuava basicamente em duas linhas distintas, embora conectadas: descobrir e destruir as fábricas e os depósitos de bebida clandestinos e lutar contra as gangues do crime organizado, que como regra geral administravam este negócio.

Com o passar do tempo, então sob a direção de John Edgar Hoover (que apesar do nome não tinha nenhum parentesco com o ex-presidente Herbert Hoover), o FBI mudou o seu foco e se tornou um instrumento de perseguição política e espionagem investigativa, trabalhando também com vigor na luta contra a violência racial (apesar de o próprio J.E.Hoover ser considerado racista, por causa dos seus ataques contra Martin Luther King e seus seguidores).

Durante e após a Segunda Guerra Mundial, o FBI concentraria seus esforços numa verdadeira caça às bruxas contra os simpatizantes do nazismo, do fascismo e principalmente do comunismo, que havia se fortalecido e ganhado fronteiras com a vitória aliada, por considerar que tais linhas de pensamento atentavam contra os princípios democráticos dos americanos.

Como acontece com toda vigilância exacerbada, esta caça às bruxas comunistas produziu uma série de injustiças, que se perpetuaram através dos anos até atingirem seu ponto máximo em 1950 com o senador Joseph McCarthy e a sua conhecida política do Macartismo.

 

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A Proibição alavancou a Era do Jazz, dando qualidade e força às orquestras da época e uma maior visibilidade aos chamados ritmos de salão.

De acordo com o pianista e compositor Hoagy Carmichael, “os anos 1920 fizeram crescer a música nos Estados Unidos e foram regados por muita bebida de má procedência, adornados por jovens senhoritas de pernas nuas, regidos por uma moralidade duvidosa e temperados por fins de semanas arrasadores”.

Para o escritor F. Scott Fitzgerald, “as festas eram as mais empolgantes possíveis, o ritmo de vida era mais rápido, e a moral (ou a falta dela) corria frouxa”.

Em 1925, os speakeasies já tomavam o lugar de muitos salões elegantes de Nova York e de Chicago. Mesmo assim, os chefões da Máfia se encarregavam de produzir ambientes exóticos e elegantes em lugares importantes como o Small Paradise, o The Trocadero e o Cotton Club, onde se exibiam grandes astros e estrelas do entretenimento musical, como o casal de irmãos bailarinos e cantores Fred e Adele Astaire, os bandleaders Duke Ellington e Cab Calloway, o sapateador Bill “Bojangles” Robinson e a cantora Ethel Waters.

Os grandes salões funcionavam abertamente e eram frequentados pelas pessoas de maior poder aquisitivo, não sofrendo muita fiscalização nem pressão da polícia. Os speakeasies, por seu lado, eram frequentados por homens e mulheres das mais diversas classes sociais, criando uma autêntica “alcoolcracia” com duas ideias em comum – divertir-se tomando a melhor bebida ilegal que pudessem encontrar e evitar uma visita à delegacia mais próxima transportados num carro especial que hoje nós chamaríamos de “camburão”.

Faziam parte do cenário, além dos figurões dos negócios, os boêmios de toda espécie, músicos e artistas em geral, e também uma nova geração de mulheres, chamadas de “flappers”. As “flappers” eram mulheres que “flanavam” como o pano das bandeiras, conforme o nome indica, isto é, procuravam a todo custo se libertar, mas continuavam presas às convenções.

O fato é que independentemente das flappers, as mulheres americanas haviam conseguido o direito de voto seis meses antes da aprovação da Emenda 18, e boa parte delas fazia questão de demonstrar a sua igualdade com os homens, fumando em lugares públicos, bebendo uísque, vinhos e coquetéis como gente grande, e participando ativamente da vida boêmia da cidade.

Os pais de família, os religiosos e os moralistas de toda ordem se escandalizavam ao vê-las se exibindo em saias mais curtas do que deviam e usando uma maquilagem agressiva. Alguns desses senhores (que não raro frequentavam os speakeasies às escondidas) se escandalizavam ainda mais ao vê-las dançando o tango ou o charleston com uma atrevida sensualidade exalando pelos poros.

Alguns órgãos da imprensa conservadora faziam uma campanha aberta contra o jazz, como se a música fosse responsável pela suposta quebra de decência e pela dita imoralidade que campeava nos anos 1920.

O Ladies Home Journal, uma publicação voltada à família e restrita ao público feminino, questionava em 1921 se o jazz “não estaria adicionando pecado nas suas sincopatizações”. Outros jornais de cunho político levantavam a hipótese de que o jazz “teria encarnado um elemento bolchevique de protesto contra a paz e a ordem”, acrescentando que ele “estava se transformando na maldição da sociedade”.

Assim, na visão desses maniqueístas, o jazz seria o responsável não apenas pelo comportamento inadequado de muitas mulheres que deixavam de usar os seus corpetes apertados para “balançar” mais à vontade, como também por uma subliminar invasão comunista na cultura ocidental.

Mas, mesmo tendo que encarar a discriminação contra o jazz e a repressão sobre o consumo das bebidas alcoólicas, os proprietários dos bares jamais entregaram os pontos. Para cada casa fechada e cada estoque de garrafas destruído, eles abriam uma casa nova e repunham toda a bebida, fortalecidos pela cobertura e pelo dinheiro da Máfia. Uma certa senhora chamada Mary Louise Cecilia Guinan, conhecida como “Texas” Guinan, ex-atriz de cinema mudo e ex-cantora de cabaré, encarava com humor o fato de os policiais do Bureau fecharem sistematicamente os speakeasies de sua propriedade.

Cada vez que a fiscalização lacrava e colocava um cadeado na porta de um dos seus estabelecimentos, ela adquiria um cadeado miniatura que usava dependurado no pescoço, como um camafeu. Tantos foram os fechamentos, que em alguns anos ela podia exibir com orgulho um colar feito de cadeados miúdos que servia de deboche ao poder constituído e de adorno à sua vasta e brilhante cabeleira platinum blonde.

Até parece que os procedimentos policiais desenvolvidos para coibir as ações fora da lei faziam parte da diversão dos empresários e da clientela dos bares naqueles ferozes anos 1920, pois acabava adicionando um pouco de frenesi e emoção às loucas noitadas animadas pelo jazz de então.

A nova década raiava cheia de expectativas, e a partir de 1930 a eficácia da Lei Seca começou a ser discutida com mais intensidade. Em plena Recessão, o país ainda vivia um intenso caos social e financeiro, e os administradores começaram a suspeitar que o demônio da bebida não era tão feio quanto se pintava, e que o excesso de proibições poderia acabar levando o país à estagnação total.

Uma das pautas de discussão era a urgente retomada do crescimento, o que efetivamente viria a acontecer em alguns anos. De 1930 até 1932, o presidente Herbert Clark Hoover tomou uma série de medidas dentro da esfera econômica e financeira que começaram a recolocar o país no seu devido lugar. Seu sucessor, Franklin Delano Roosevelt, proporcionou uma reforma bancária de grandes proporções que, aliada ao fim da Lei Seca, trouxe de volta os empregos e o crescimento.

É certo que em breve os Estados Unidos embarcariam numa outra turbulência com a explosão da guerra na Europa, mas o país já estava suficientemente maduro para não apenas resistir e subsistir, mas principalmente para assumir o comando do mundo livre numa batalha sem fronteiras contra o totalitarismo e a intolerância.

Os americanos estavam se preparando para serem os líderes do mundo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 


CHEERS TO LIFE! 

Wine is fine
This drink of mine
Beer is dear
So gilt and clear
Scotch is much
The velvet touch
Brandy is trendy
Warm and dandy
Gin may be cult
And rum is for adult
So, I choose the booze
Depending on the use

Getting drunk is good to rejoice
But it always requires some choice
A drinking companion asks for rapport
But when you’re done you need some support
And if you start early and go through the night
You’re surely ending in a in sorry plight

Drink liquor
With humor!!!

CHEERS!!!

UM BRINDE À VIDA! 

Vinho é ótimo
Minha bebida preferida
Cerveja é muito bem vinda
Dourada e límpida
Uísque é o máximo
Com seu toque aveludado
Conhaque está sempre na moda
Quente e elegante
Gim pode ser sofisticado
E rum é para os de mais idade
Eu escolho a bebida
De acordo com a necessidade

Beber é muito bom para se alegrar
Mas sempre requer uma boa escolha
Um companheiro de copo exige um bom diálogo
E quando você passa da conta precisa de alguma ajuda
Se você começa a beber cedo e segue pela noite adentro
Você vai com certeza acabar fora do centro

Beba sempre com humor!!!
Saúde!!!

CHEERS!!!

dezembro2013
Augusto Pellegrini


 


DE POMBOS, CÃES E PECADORES

(Augusto Pellegrini)

Os pombos que passeiam pela praça da Matriz
São tratados com carinho e levam uma vida feliz
Dona Eugênia, cuidadora da igreja e seus afins
Todo dia os alimenta com quirera e amendoim
Mas quando pressentem coisas que lhe parecem o contrário
Ou se sentem incomodados, voam para o campanário
Lá, eles ficam seguros vendo a praça pelo alto
Olhando o feio e o bonito, o prevenido e o incauto

O cão, que também vagueia em busca do que comer
Fica prestando atenção nas pessoas e no vai-e-vem
Sempre resta alguma coisa que sobrou de um alimento
Que sacia a sua fome e ajuda o seu sustento
Mas, percebendo a chegada de alguém de má catadura
Sem qualquer perda de tempo vai pro outro lado da rua
Colocando-se ao resguardo de fatos indesejáveis
E permanecendo alerta para outras necessidades

O homem vem para a praça e caminha para a igreja
Onde buscará conforto e uma bênção benfazeja
Vai expiar seus pecados por meio de contrição
E elevar o pensamento enquanto ouve o sermão
Mas, percebendo ao seu lado alguém que lhe inspira medo
Muda depressa de ideia e vai pra casa mais cedo
Hoje em dia, nem na igreja pode-se sentir seguro
Por isso, o homem se evade para o outro lado do muro

Como os pombos e os cães vadios precisam de proteção
Também o pio e o pecador vão em busca do perdão
Todos querem o alimento, físico ou espiritual
Para ultrapassar barreiras neste mundo desigual
Todos precisam de Eugênias, que de ajudar  nunca esquece
Cada qual busca um abrigo como melhor lhe apetece
Eu procuro meu refúgio na mais quente companhia
De alguém que me possa dar paz, segurança e alegria

Dezembro 2018