quinta-feira, 12 de julho de 2018





UMA ORQUESTRA DANÇANTE
Swing pra que te quero
Parte 3 - Final

Harry James e sua orquestra encerrariam a sua temporada no Brasil se apresentando em São Paulo no dia 27 de outubro, depois de passar pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Esta seria a sua última turnê pela América do Sul, pois o maestro estava enfrentando problemas de saúde e começaria a rarear os shows – na verdade James viria a morrer cinco anos depois, em Las Vegas.
O grande show em São Paulo foi realizado em grande estilo num grande salão chamado Boite Aquarius, e eu novamente participei da grande festa, desta vez sem a presença de Bob Mount.
A Aquarius era uma das discoteques mais badaladas da cidade e a sua pista de dança normalmente fervilhava nas noites de sexta e sábado com as músicas quentes do final dos anos 1970 como “I Will Survive” (Gloria Gaynor) com Gloria Gaynor, “Macho Man” (Henri Belolo, Victor Willis e Jacques Morali) com o Village People, “Stayin’ Alive” (Barry Gibb, Robin Gibb e Maurice Gibb) com os Bee Gees e “Dancing Queen” (Benny Andersson e Bjorn Ulvaeus) com o grupo ABBA e seu B invertido, com direito à devida decoração e efeitos psicodélicos especiais.
Aquela noite foi muito particular, tanto na sonoridade quanto na decoração do salão que mudaram drasticamente, pois o ambiente voltou no tempo e as músicas retrocederam quarenta anos, variando de “Ciribiribin” (Alberto Pestalozza, Harry James e Jack Lawrence) e “Trumpet Blues” (Harry James) até “You Made Me Love You” (Joseph McCarthy e James V.Monaco), “It’s Been A Long Long Time” (Jule Styne e Sammy Cahn), “Jealousie” (Jacob Gade) e “Sleepy Lagoon” (Eric Coates-Jack Lawrence), seis dos maiores sucessos de James que não haviam feito parte do repertório de Belo Horizonte, fazendo com que a Aquarius se transformasse num grande Savoy Ballroom dos anos 1940.
Depois da apresentação a orquestra se retirou do palco, mas as músicas do show haviam sido gravadas e continuaram ecoando por cerca de quase uma hora para que o pessoal pudesse continuar dançando, e alguns músicos caíram na gandaia junto com o público.
Entre eles, lá estava o nosso amigo Sonny Payne, que esbanjava alegria e dançava um insuspeito lindy hop, para a alegria dos presentes.
Num momento de repouso, encontrei-me com ele e voltamos a trocar ideias junto ao balcão do bar, relembrando a madrugada do Hotel Del Rey acompanhado por mais outras tantas latinhas de cerveja.
Ele estava feliz em ter vindo para o Brasil e fazia planos para retornar num futuro breve, talvez pegando carona com alguma orquestra que viesse fazer alguma temporada por aqui.
Mas Sonny não conseguiu concretizar os seus planos, pois na sua volta para os Estados Unidos ele contraiu uma gripe fortíssima que se transformou em uma insidiosa pneumonia, à qual não resistiu.
Sonny Payne morreu três meses depois do nosso encontro, no dia 29 de janeiro de 1979, com apenas 53 anos de idade e toda uma carreira de baterista de jazz e swing pela frente.
Mas deixou seu nome registrado na história e particularmente  na minha história.

terça-feira, 10 de julho de 2018






MARIA DO CÉU

(Augusto Pellegrini)

Ela se chama Maria
Maria do Céu
Jeitinho tão doce
Pãozinho de mel

Desde o dia em que vi Maria
Parece, eu sabia
Estar o céu a encontrar
Um instante pra ver foi o bastante
Maria do Céu no céu deve morar

Com Maria dançando
Seus pés flutuando
Assim, deslizando no ar
A gente começa a subir
Vai pro céu devagar, sem sentir

O céu junto a mim a dançar
E a Maria do Céu
Sobre as nuvens rodar
É um momento perfeito
Misterioso efeito
Que pude encontrar

1958


segunda-feira, 9 de julho de 2018





UMA ORQUESTRA DANÇANTE
Swing pra que te quero
Parte 2

Depois de cerca de duas horas de espetáculo, contando com o tradicional “bis”, eis-nos de volta ao hotel bastante animados e dispostos a fechar a noite diante de mais algumas cervejas. Afinal, tínhamos assunto de sobra para conversar, Bob lembrando os shows dançantes da sua juventude em Des Moines, no Iowa, e eu me atendo aos discos das grandes orquestras que ouvia desde os tempos de adolescente.
Novamente no bar, naquela altura quase vazio, experimentamos um petisco mais substancioso, pois afinal não havíamos jantado. Dado o adiantado da hora, já nem fazia sentido a gente reverenciar a culinária local, então partimos para um filé trinchado ao molho madeira que, dizia o cardápio, era uma das especialidades da casa.
De repente, entre vozes e gargalhadas, nos deparamos com dois alegres camaradas chegando para ocupar uma mesa ao lado da nossa, dirigindo-se ao garçom e também pedindo cerveja, mas numa mistura de inglês e castelhano.
Um deles era negro, de meia idade e de estatura mediana, os cabelos já prateando nas têmporas, e o outro quase ruivo, mais alto e parecendo uns vinte anos mais jovem, ambos com a camisa branca desabotoada no pescoço e as mangas arregaçadas.
Nós imediatamente os identificamos como músicos da orquestra de James, que coincidentemente estava hospedada no mesmo hotel. Prontamente nos apresentamos e iniciamos uma conversa, o que foi facilitado pelo fato de Mount também ser americano, o que quebrou o gelo instantaneamente.
Os nossos companheiros de fim de noite eram o baterista Sonny Payne e o sax-tenorista Norm Smith, que ficaram felizes por termos estado presentes no show e se declararam encantados com a receptividade do público.
Really great!”, eles pontuaram.
Bob Mount aproveitou para matar saudades das coisas gringas – e eles usaram muitas vezes de um linguajar tão local que alguns detalhes me escaparam totalmente, em meio às suas gargalhadas – e eu aproveitei para pedir seus autógrafos na capa do LP que eu havia adquirido no saguão do teatro.
Sonny Payne tinha pedigree, era uma figura histórica no mundo das big bands.
Em pouco tempo, desde meados dos anos 1940 até meados dos anos 1950, ele havia tocado em diversas orquestras – entre elas Dud & Paul Bascomb, Earl Bostic, Tiny Grimes, Erskine Hawkins e Count Basie – chegando também a comandar a sua própria formação.
Foi apenas em 1966 que ele ingressou na orquestra de Harry James, numa tentativa que James fez na época de levar para a sua orquestra a pegada da “cozinha” de Count Basie – coisa que James jamais negou (a história conta que James conseguiu contratar o “beat” de Sonny Payne, mas não o “bounce” completo pois não convenceu o guitarrista Freddie Green nem o baixista Eddie Jones a mudar de time).
Durante um certo tempo Sonny Payne dividiu o seu trabalho liderando um trio e se transformando no baterista pessoal de Frank Sinatra, com quem tocou em diversos shows. Mais tarde, ele retornou para a banda de Basie por algum tempo e finalmente voltou a tocar com James, onde estava agora, e onde iria encerrar a sua carreira.
Menos conhecido, Norman Smith havia tocado em diversas bandas, inclusive nas orquestras de Stan Kenton e Ted Herman, da qual saiu para se juntar a Harry James, e era um saxofonista muito seguro, embora não fizesse parte do time dos mais selecionáveis.
Atravessamos boa parte da madrugada num alegre papo entre muitas cervejas, a lembrança de muitas canções, muitas histórias e muito aprendizado, até que o garçom viesse sinalizar que o serviço de bar seria encerrado.
Quer pelo cansaço, quer pela condição de astro principal, Harry James não desceu para o bar e preferiu ir para a cama ou tomar a sua cerveja no próprio apartamento, assim como os demais membros da sua entourage, o que para nós foi uma pena.
Na manhã seguinte dormi até mais tarde, e apesar do amuo do motorista, a Rural Ford seguiu para a nossa missão no Distrito Industrial quando o sol já estava alto.







SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 07/04/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

GIULIO GRANATI QUARTET - LIVE AT MOODS  

Quando os primeiros músicos de jazz americanos levaram o novo estilo para a Europa no início do século 20, poucas pessoas podiam apostar no crescimento do interesse do europeu pela nova música. A Europa era musicalmente setorizada, com cada país desenvolvendo seu sentimento próprio até que o jazz foi tomando conta e globalizou todo o continente, fazendo franceses, alemães, italianos e todos os povos pudessem dialogar na mesma linguagem musical. Um belo exemplo dessa atitude é o pianista italiano Giulio Granati, que fez da Itália, Alemanha e Suiça o seu palco predileto e aqui se apresenta com seu quarteto trazendo um jazz de vanguarda com muita música autoral ao lado de uma surpreendente interpretação intimista da tradicional "Over the Rainbow". A gravação foi feita ao vivo em Zurique no ano de 2003.


Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini