quinta-feira, 3 de abril de 2014


 
 

COPA 2014 – O GRUPO DO BRASIL

 

Cabeça de chave do Grupo 1, na qualidade de país anfitrião, o Brasil vai se apresentar diante da sua torcida com a responsabilidade de iniciar uma caminhada que termine com o troféu do hexacampeonato.
A caminhada terá a duração de exatas sete partidas, e as três primeiras serão fundamentais para que a equipe ganhe confiança, entrosamento e o apoio da torcida.
Graças à confecção da tabela, o Brasil irá se apresentar em três cidades diferentes, com a expectativa de ter um público diferenciado em cada lugar.
A estreia será em São Paulo, na Arena Corinthians, contra a Croácia; cinco dias depois estará no Castelão, em Fortaleza, para enfrentar o México, finalizando a fase inicial seis dias mais tarde contra Camarões no Estádio Nacional de Brasília.
A Croácia não é um participante habitual de Copas do Mundo porque fez parte da Iugoslávia desde 1929 (a primeira Copa aconteceu em 1930) e se transformou em um país independente apenas em 1992.
Ainda com a seleção em formação, a Croácia não se classificou para a Copa de 1994, mas a partir daí ficou de fora apenas em 2010. Disputou três Copas e conseguiu um ótimo terceiro lugar em 1998, entrando para a história ao derrotar a poderosa Holanda.
Para chegar à Copa, a Croácia terminou as eliminatórias em segundo lugar, atrás da Bélgica e à frente da Sérvia, Escócia, País de Gales e Macedônia.
Seus principais jogadores são Luka Modric (Real Madrid), Darijo Srna (Shakhtar Donetsk), Mario Mandzukic (Bayern Munchen) e Mateo Kovacic (Internazionale).
O objetivo da Croácia é se classificar para a segunda fase, e se possível repetir a proeza de 1998. Um simples empate contra o Brasil seria causa de uma grande festa nacional.
Mas apesar da vontade croata, o adversário mais encardido do Brasil nesta fase inicial promete ser o México, nosso habitual rival. Nos últimos dez anos, os dois países se enfrentaram sete vezes, com quatro vitórias brasileiras e três mexicanas.
Se no cômputo geral o Brasil leva uma grande vantagem, com 23 vitórias contra 10 de México e 6 empates, o confronto ficou mais equilibrado neste século 21, com o crescimento da qualidade do futebol asteca.
O México disputou quinze Copas do Mundo, desde a primeira realizada em 1930, e sua melhor classificação foi ter alcançado as quartas de final em 1970 e 1996, exatamente nas ocasiões em que sediou o evento.
O time não é provido de grandes craques, e tem como qualidade o conjunto. Seus principais jogadores atuam na Europa – os zagueiros Diego Reyes (Porto) e Héctor Moreno (Espanyol), o meia Javier Aquino (Villareal) e os atacantes Giovani dos Santos (Villareal) e Javier “Chicharito” Hernández (Manchester United).
O México vai lutar para eliminar Croácia e Camarões para seguir em frente e tentar ir além das quartas de final.
Camarões não está no melhor momento da sua história, e caso se classifique será a zebra do grupo.
Estreando em 1982, os Leões Indomáveis disputaram seis Copas do Mundo, e sua melhor colocação foi em 1990, quando chegou às quartas de final sob o comando do veterano Roger Milla.  
No momento a equipe atravessa uma fase instável, e vem de uma derrota por goleada contra Portugal por 5x1, num dos raros jogos disputados ultimamente contra seleções não africanas.
A estrela do time é Samuel Eto’o, que atua pelo Chelsea. Outros jogadores conhecidos são o goleiro Idriss Carlos Kameni (Malaga) e Benoît Assou-Ekotto (Tottenham Spurs). 

                                                                                           

 
 
EU E A MÚSICA – UM PIANO NO FIM DA TARDE

José Eduardo Coutinho Maia era meu conhecido de infância. Éramos vizinhos, mas não necessariamente amigos, pois não mantínhamos maiores contatos nessa época. Seus pais lhe impunham uma educação excessivamente vitoriana e proibiam a ele e a seu irmão de saírem à rua para brincar e se enturmar com os garotos vizinhos. A própria família, classe média alta, não se entrosava muito com a vizinhança.
A condição financeira da família de Eduardo parecia muito estável, pois eles se davam ao luxo de ter uma governanta exclusiva para as crianças e um Chevrolet “do ano” que era obrigado a estacionar na rua, pois a casa, embora grande, não tinha garage, fato mais ou menos comum a boa parte das casas do bairro.
Na verdade, Eduardo e eu começamos a trocar ideias apenas depois da nossa maioridade, muitas vezes ao lado de uma boa caneca de chope numa churrascaria chamada Forte Apache ou num bar chamado A Gloriosa, que era o point da moçada de então.
Eduardo gostava de cinema e fotografia, e eu já naquela época me interessava por escrever. Este foi o principal motivo da nossa aproximação, e as nossas conversas geralmente versavam sobre a tal da “ideia na cabeça e uma câmera na mão” decupada por Glauber Rocha, o realismo italiano, e a invasão da nouvelle vague e do cinema novo. Discutíamos de Eisenstein a Griffith e de Chaplin a Orson Welles, e eu cheguei a comprar livros sobre técnicas de direção e edição para melhor entender o assunto.
Daí nasceu a feliz ideia de fazermos um filme – chegamos de fato a fazer vários filmetes, que se perderam no tempo – onde Eduardo cuidaria da parte cinematográfica e eu ficaria com o roteiro e a parte cênica.
O filme, rodado no velho sistema dezesseis milímetros, era chamado “A Busca e A Fuga”, baseado num conto-crônica que eu havia escrito alguns anos antes, e versava sobre a situação incômoda de um cidadão que não conseguia se ajustar à sociedade em que vivia.
O tema podia ser pretensioso, mas o filme, mesmo modesto, chegou a participar de alguns festivais de cinema amador, onde foi objeto de elogios precipitados dos amigos, de aplausos convenientes dos entusiastas e de comentários desairosos dos críticos mais acerbados.
Como cenário para uma determinada parte da filmagem, escolhemos o pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera, que havia sido inaugurado em São Paulo em 1954 e estava vazio, recebendo merecidos reparos naquele ano de 1967.
Suas características arquitetônicas com vãos livres enormes sem paredes internas, nascidas do modernismo de Oscar Niemayer, e o descortino de um horizonte arborizado naquele fim de tarde dariam a medida exata do que precisávamos em termos de enquadramento para provocar a sensação de solidão e fuga.
Para lá nos dirigimos eu com os meus projetos, Eduardo com seu equipamento, Sergio Martire – encarregado da fotografia – com seus medidores de intensidade de luz e seus conhecimentos técnicos, Élio Lammardo, uma espécie de assistente geral com seu entusiasmo e incentivo, e o nosso ator Luís Carlos Gertel, um sujeito com cara de galã que era repórter da Radio Bandeirantes.
Subimos para o vão aberto do segundo andar e começamos a caminhar pelo piso deserto procurando o ponto mais conveniente para que Luís Carlos começasse a atuar. A vastidão e o silêncio do cenário ajudavam a criar o clima Felliniano que desejávamos.
No meio de tanta brancura avistamos como que surgindo do nada um piano negro com a asa aberta, emitindo acordes jazzísticos formidáveis. O som e a imagem que chegavam até nós, ao invés de quebrar o encantamento da cena, trouxe uma aura de imponderabilidade, como se todo o ambiente estivesse flutuando.
Caminhei em direção ao piano, com o som do jazz agora enchendo o ar, e num instante reconheci “How About You?” (Burton Lane e Ralph Freed), e por trás do instrumento ninguém menos do que Dick Farney, que também estava ali para uma gravação e naquele instante aquecia os dedos – conforme ele nos confidenciou.
Ele recebeu nossa intromissão com um semblante sorridente, a expressão levemente enigmática, uma extensão dos seus shows de jazz aos quais eu me habituara a assistir em algumas noites de quarta-feira no auditório de A Folha de São Paulo na Rua Barão de Limeira.
A sua presença solitária naquela hora e naquele lugar parecia estranhamente etérea.
Farney não perguntou o que fazíamos no seu território – a parafernália que trazíamos em mãos acho que era mais que suficiente para qualquer bom entendedor – mas isto não nos intimidou e logo travamos uma rápida conversa com ele.
Afinal, estávamos frente a frente com um dos músicos que ajudaram a escrever a história da música brasileira nos Estados Unidos com sua voz e seu piano – além de “How About You” Farney gravara standards famosos como “She’s Funny That Way” (Richard A.Whiting e Neil Moret), “These Foolish Things” (Jack Strachey, Holt Marvell e Harry Link), “What’s New?
(Johnny Burke e Bob Haggard) e “You Go To My Head” (J.Fred Coots e Haven Gillespie). A gravação de Farney feita nos Estados Unidos em 1947 para a música “Tenderly” (Walter Gross e Jack Lawrence) acontecera antes das versões de Sinatra e Nat “King”Cole.  
Tudo isto sem prejuízo da discografia nacional do final da década de 1940 e de toda a década de 1950, com gravações que serviram de base para o surgimento da bossa-nova na década seguinte – “Perdido De Amor” (Luiz Bonfá), “Copacabana” (João de Barro e Alberto Ribeiro), “Nick Bar” (Garoto e José Vasconcelos), “A Saudade Mata A Gente” (Antônio Almeida e João de Barro), “Um Cantinho E Você” (José Maria de Abreu e Jair Amorim), “Se O Tempo Entendesse” (Marino Pinto e Mario Rossi), “Somos Dois” (Armando Cavalcanti, Luiz Antônio e Klécius Caldas) e outras tantas maravilhas.   
A nossa filmagem se deu em um ponto distante de onde estava Dick Farney, mas não pude deixar de ficar estático durante alguns minutos me inebriando com o som daquele piano no fim da tarde.
E aquele som – “I like New York in June, how about you?... – acompanhou o nosso trabalho como uma benfazeja e inesperada trilha sonora.

 

terça-feira, 1 de abril de 2014


 


ESSA LIBERTADORES...
 

Criada em 1960, a Copa Libertadores de América chega este ano à sua edição de número 55 com todos os seus encantos e surpresas. Misto de violência e charme, durante muito tempo as condições enfrentadas pelos jogadores beirava a uma guerra de fronteiras.
A participação brasileira no torneio pode ser considerada razoável, com 17 títulos e 15 vice-campeonatos conquistados. Apenas em 12 oportunidades não tivemos nenhum clube entre os quatro primeiros colocados.
A título de comparação, nossos arquirrivais argentinos possuem 22 títulos, 10 vice-campeonatos, e apenas em 10 oportunidades não terminaram entre os quatro primeiros. Os outros países vêm muito abaixo – o Uruguai tem 8 títulos, o Paraguai tem 3, a Colômbia tem 2 e o Chile e Equador têm uma  conquista cada.
Os dois maiores vencedores são argentinos (Independiente com 7 e Boca Juniors com 6), vindo na sequência o Peñarol, do Uruguai, com 5. O Estudiantes, da Argentina, tem 4. O Brasil aparece mais abaixo com 3 títulos do São Paulo e 3 do Santos, ao lado do Olimpia (Paraguai) e do Nacional (Uruguai).
Para a disputa deste ano o Brasil começou com seis clubes, mas tudo indica que alguns deles poderão ficar fora da disputa já na primeira fase.
No Grupo 1, que tem o argentino Vélez Sarsfield já classificado, o Atlético Paranaense precisa vencer ou empatar com o The Strongest na altitude boliviana. Se perder, deixa a vaga para o próprio The Strongest.
No Grupo 2, o Botafogo irá carimbar a sua passagem para a próxima fase se vencer o Unión Española, do Chile, nesta quarta-feira no Maracanã. Se perder ou mesmo empatar terá que decidir a vaga na Argentina contra o San Lorenzo, que tem as bênçãos do Papa Francisco, na última rodada.
No Grupo 4 o Atlético Mineiro depende apenas de si, e tem a vantagem de estar jogando bem. É o atual líder do Grupo, e se passar pelo Independiente Santa Fé na Colômbia no próximo jogo garante a vaga. Caso não vença, ainda pode decidir no Mineirão contra o venezuelano Zamora.
O Cruzeiro, porém, está com um pé fora do Grupo 5. Em terceiro lugar com apenas 4 pontos precisa vencer o Universidad do Chile por uma boa margem de gols para então definir a classificação em casa contra o Real Garcilaso, do Peru, e ainda torcer para que o uruguaio Defensor não faça pontos.
No Grupo 6, o Grêmio também só depende dele, precisando pelo menos empatar em Medellin contra o Nacional local para definir em casa contra o lanterna Nacional do Uruguai.
Finalmente, para se classificar no Grupo 7, o Flamengo tem a obrigação de vencer o Emelec em La Paz para então decidir a vaga contra o mexicano León no Maracanã. 
O futebol brasileiro, reconhecidamente um dos mais fortes do mundo, tem encontrado dificuldades na Libertadores contra times considerados mais fracos, e existe uma série de explicações e justificativas para tal.
Primeiro, diz a lenda que nos primórdios da competição, exatamente quando argentinos e uruguaios mandavam e desmandavam, os clubes brasileiros não se interessavam pelo torneio por considera-lo desgastante e financeiramente pouco atraente.
Depois, eram incontáveis os problemas que os times costumavam enfrentar nos acanhados campos dos adversários, com invasão de torcedores, violência gratuita e a conivência das arbitragens “caseiras”. Eram tempos sem transmissão direta de televisão e com grandes dificuldades de comunicação, muitas vezes dificultadas pelos próprios clubes mandantes.
O fato é que apesar dos números mostrarem o domínio de argentinos, brasileiros e uruguaios, o futebol sul-americano de clubes está mais ou menos nivelado, e surpresas não acontecem mais.