sábado, 6 de junho de 2015


 
O SÉCULO DA CORRUPÇÃO 

Dada a intensa repercussão causada pela prisão dos sete dirigentes esportivos ocorrida na semana passada, o que gerou manchetes espetaculares e comoção em todo o mundo, eu havia decidido me manter à parte do problema, até porque parecia que tudo o que era impactante e deveria ser dito já havia sido dito.
Mas casos como esses sempre têm efeitos colaterais, a gente prossegue na expectativa de que mais algum indiciado dê com a língua nos dentes – como o fez o empresário J.Hawilla, dono da Traffic, o que antecipou a prisão de Marin e dos outros envolvidos.
Apesar de as irregularidades terem sido cometidas por dirigentes de entidades de diversos países – Brasil, Chipre, Costa Rica, Ilhas Cayman, Nicarágua, Uruguai e Venezuela – que estavam reunidos na Suíça, país que não é berço de nenhum deles, as autoridades dos Estados Unidos determinaram as suas prisões tendo como base jurídica o fato de que os crimes foram cometidos utilizando-se de instituições financeiras norte-americanas. 
Além desses dirigentes, outros onze (três de Trinidad e Tobago, três da Argentina, dois dos Estados Unidos, um do Paraguai e os brasileiros José Hawilla e José Marguiles) também foram indiciados.
Indiferente à celeuma que envolvia feitos administrativos da Fifa, Joseph “Sepp” Blatter conduziu a sua reeleição, mas acabou renunciando quatro dias depois por não suportar a pressão que abalou a sua imagem e a da instituição.
As denuncias que pesam sobre a Fifa e sobre outras confederações são as mais variadas, incluindo as duas próximas Copas do Mundo (Rússia e Qatar) e alguns torneios no Brasil e no continente americano, como a Copa América, a Copa das Confederações, a Copa Libertadores e a própria Copa do Brasil.
Por enquanto, avalia-se o preço da corrupção em cerca de 150 milhões de dólares, mas tudo indica que o rombo deverá aumentar com o prosseguimento das investigações.
O motivo do escândalo não é técnico, isto é, não envolve arbitragem nem combinação de resultados. O motivo é puramente financeiro, e diz respeito a propinas altíssimas pagas em nome dos locais da realização das Copas de 2018 e 2022 e, no caso brasileiro e sul-americano, em nome de exclusividade de transmissões e de exploração de direitos.
A extensão do problema está ocasionando as investigações em pauta e já causou o afastamento ou a demissão de alguns dirigentes da Fifa, além de ressuscitar velhos fantasmas, como João Havelange e Ricardo Teixeira que estão, como se diz no jargão jornalístico, com as barbas de molho.
A cada investigação iniciada começa um efeito dominó que ameaça mexer com outras coisas que estavam quietas e aparentemente domadas, como a Copa de 2014 no Brasil e o devastador padrão Fifa que direcionou fortunas para meia dúzia de beneficiados, além das denuncias contra as Federações brasileiras de Vôlei, de Basquete, de Judô e de Futsal e a manutenção no poder à custa de votos viciados de dirigentes que enriquecem e se eternizam sem dar a devida compensação ao esporte que dirigem.
O escândalo da Fifa pode também estar tirando o sono de algumas emissoras de televisão e até de algumas agências de publicidade, porque o esquema de corrupção utilizado foi realmente violento e deve ter seus tentáculos espalhados por muitas pessoas e muitas empresas, entre corruptores, facilitadores e corrompidos.
De qualquer modo, nota-se que a bandalheira não está presente apenas no Brasil, terra do Mensalão, do Petrolão e de outros escândalos superlativos, mas espalhada por todo o mundo.  
Assim como o século 18 ficou conhecido pelo início da Revolução Industrial, o século 19 marcou pela série de Invenções e Descobertas Científicas e o século 20 foi a Era da Tecnologia, o século 21 está começando a marcar o seu lugar na história como o Século da Corrupção, pontuado pela falta de escrúpulos, pela avidez e pelo consumismo.
Problemas ambientais e guerras à parte, a corrupção poderá determinar o desequilíbrio definitivo da humanidade, produzindo um caos tão formidável que corremos o risco de não chegar ao século 22.

 

 (Artigo publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 06/06/2015)