sábado, 28 de novembro de 2015


 
 
 
 
 
O TÍTULO ANTECIPADO 

É sem dúvida estranho fazer comentários sobre o encerramento de um torneio quando faltam ainda duas rodadas para ele chegar ao fim.
Só que o Campeonato Brasileiro acabou antes de acabar. Aliás, já tinha acabado há algumas semanas, dada a diferença de produção de um time – o Corinthians – comparada com os demais. Há várias rodadas, enquanto o time mosqueteiro acumulava pontos mantendo uma distância segura sobre seus perseguidores, encabeçados pelo vacilante Atlético Mineiro, os outros iam tropeçando, se enrolando e se mostrando incapazes de começar uma perseguição que resultasse em algo.
Houve disparidade em tudo – na pontuação, no desempenho em campo, no aproveitamento da vantagem sobre adversários mais fracos e na manutenção da lógica de quem jogava como favorito.
Todos os outros 19 concorrentes, com maior ou menor diferença, disputaram um campeonato à parte, ganhando, empatando e perdendo entre si, muitas vezes entregando os pontos mesmo jogando em casa, apesar de algumas vezes obter resultados heroicos quando a vaca já parecia estar no brejo.
A conquista do Corinthians foi tão cristalina que mesmo depois de toda a grita dos adversários contra cinco ou seis pontos conseguidos graças a erros de arbitragem (isto aconteceu no final do primeiro turno) ninguém mais conseguiu atribuir ao apito a desabalada carreira percorrida em todo o segundo turno da competição.  
Invicto há dez jogos – foi derrotado apenas uma vez neste turno, 1x2 para o Internacional – o time vem jogando sem tomar conhecimento dos adversários.
É interessante notar que o elenco das equipes brasileiras que estão disputando a Série A mostra um certo equilíbrio na qualidade individual dos jogadores, isto é, os atletas do Corinthians não têm uma superioridade tão marcante sobre os demais  para justificar tanta diferença dos resultados obtidos. Por outro lado, a qualidade de conjunto mostrada do segundo ao último colocado é quase a mesma, resultando em jogos equilibrados entre agremiações que ocupam esses patamares antípodas.
Aqui e ali, o time corintiano sofreu com alterações que na época pareciam difíceis de contornar, como a saída de Paolo Guerrero e de Emerson e a contusão de jovens promessas que trocaram o campo de jogo pelo departamento médico bem na hora em que começavam a se transformar em soluções interessantes para a equipe. 
Mas a equipe não sentiu, e os outros times foram ficando pelo caminho.
Os clubes cariocas passaram a temporada batendo cabeça e nunca se encontraram na competição, a ponto de nenhum deles chegar nem perto de lutar por uma vaga na Copa Libertadores. Os clubes mineiros jamais mostraram poder de recuperação para brigar pra valer no topo da tabela, e os paulistas frustraram dirigentes e torcedores.
O Palmeiras foi o time que mais se preparou e mais contratou, inclusive no que diz respeito a técnico e diretor de futebol, mas está mostrando um nível técnico inferior até se comparado com aqueles que passaram o campeonato inteiro dentro da zona de rebaixamento.
O Santos mostrou um brilho de fogos de réveillon, pois não durou mais do que um pequeno instante. Quando parecia que o torcedor iria se reencontrar do com o futebol moleque que notabilizou Pelé, Coutinho, Juari, Robinho e Neymar, o time afundou na mediocridade, perdendo pontos incríveis para times equipes notadamente inferiores.
O São Paulo se desestruturou completamente no aspecto financeiro e ainda passa por uma crise sem precedentes da sua administração. Vendeu quem não devia vender, contratou quem não devia contratar e tem que dar graças aos céus por estar (ainda) ocupando a quarta posição.
Já o Corinthians, depois e um primeiro semestre vacilante, quando perdeu o Campeonato Paulista e foi eliminado da Copa do Brasil, aprimorou o seu futebol jogando com inteligência e obedecendo às orientações táticas sempre com precisão.
Quer me parecer que o grande segredo do time é um gerenciamento consistente, muito treinamento e obediência tática, e um técnico – Tite – que aproveitou o tempo em que ficou desempregado para reciclar conhecimento e aprender a trabalhar o emocional de um grupo de jogadores.
Uma prova de que título também se ganha no vestiário. 

 

    

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 27/11/2015)