QUEM MANDA NO FUTEBOL?
Há
duas ou três semanas, os senhores Alexandre Kalil e Mário Celso Petraglia, respectivamente
presidentes dos dois Atléticos mais famosos do Brasil – o Mineiro e o
Paranaense – declararam para a imprensa que o futebol brasileiro está nas mãos
das empreiteiras.
Não
se sabe se isto foi dito para tirar a responsabilidade da CBF e, portanto, se
aproximar do poder do futebol num momento em que se discutem vários assuntos,
como as alterações no calendário propostas pelo Bom Senso F.C., a situação dos
clubes em 2014 com a paralisação das competições e com o desinteresse do
público pelo futebol doméstico na véspera e durante a Copa, e com as próprias
eleições na confederação.
Mas,
qualquer que seja o motivo, esta declaração não corresponde inteiramente à verdade.
O
que infelizmente está nas mãos das empreiteiras não é o futebol brasileiro, mas
a administração pública brasileira.
Afinal,
empreiteira significa obras e obras significam votos. Mais que isso, obras significam
contratos, o que significa licitação, e o resto vocês sabem.
Voto
também significa eleitos, e eleitos significa poder, poder significa criar
situações para gastar dinheiro, dinheiro significa obras, e aí o círculo
vicioso – e põe vicioso nisso – se fecha, pois dinheiro também significa
financiamento de campanha, o que gera troca de favores, e por aí vai.
Mas
o futebol do Brasil não entra nesta ciranda. Como em todo o mundo, ele está nas
mãos de grupos que detêm o poder financeiro, que de um modo geral não são empreiteiras,
e sim empresas multinacionais, investidores da bolsa ou milionários que
enriqueceram através de lavagem de dinheiro. No nosso caso, até bicheiros e
contraventores podem fazer parte da roda.
Para
agravar a situação, no Brasil os grandes clubes são comandados por pessoas
vaidosas e descompromissadas, torcedores de elite que não raro fazem da
presidência uma plataforma política e usam o clube como cabo eleitoral ou para
satisfazer o ego inflado.
Outros
fazem do clube o seu feudo particular, vivendo às expensas da verba recebida da
CBF, da televisão e dos patrocinadores, endividando o clube e deixando o
abacaxi para ser descascado por uma outra gestão, geralmente oposicionista,
portanto, um inimigo.
O
futebol brasileiro é uma galinha de ovos de ouro, abençoado por Deus e bonito
por natureza, como reza a lenda do nosso país tropical.
Ao
contrário de atletas que praticam outros esportes, nossos jogadores nascem como
capim no serrado, e a cada ano vão se revelando, produzindo lucros razoáveis –
alguns notáveis – ao longo das suas carreiras, numa atividade interessante que
remunera uns mais, outros menos, desde na base produtora até o destino final do
produto, sem se esquecer do próprio jogador.
É
nessa situação que aparece o verdadeiro dono do futebol brasileiro, o
empresário ou agente, que deixou a administração dos clubes a ver navios.
Isso
por causa da Lei Pelé, assinada por Fernando Henrique Cardoso em 1998, acabando
com a “lei do passe”, instrumento pelo qual os clubes detinham poderes sobre os
jogadores.
A
Lei Pelé, baseada na Lei Zico, de 1993, e fundamentada no “caso Bosman”, uma
pendenga jurídica europeia 1995, chegou a ser comparada à Lei Áurea, pois
tirava os jogadores dos grilhões que os clubes lhes impunham. Com o passar do
tempo, porém, os grilhões foram recolocados, colocando na mesma senzala os
jogadores e os clubes, sob o chicote dos dirigentes de clubes que agem como
agentes e dos agentes que agem como dirigentes de clubes.