segunda-feira, 21 de outubro de 2013




 

QUEM MANDA NO FUTEBOL?

Há duas ou três semanas, os senhores Alexandre Kalil e Mário Celso Petraglia, respectivamente presidentes dos dois Atléticos mais famosos do Brasil – o Mineiro e o Paranaense – declararam para a imprensa que o futebol brasileiro está nas mãos das empreiteiras.
Não se sabe se isto foi dito para tirar a responsabilidade da CBF e, portanto, se aproximar do poder do futebol num momento em que se discutem vários assuntos, como as alterações no calendário propostas pelo Bom Senso F.C., a situação dos clubes em 2014 com a paralisação das competições e com o desinteresse do público pelo futebol doméstico na véspera e durante a Copa, e com as próprias eleições na confederação.
Mas, qualquer que seja o motivo, esta declaração não corresponde inteiramente à verdade.
O que infelizmente está nas mãos das empreiteiras não é o futebol brasileiro, mas a administração pública brasileira.
Afinal, empreiteira significa obras e obras significam votos. Mais que isso, obras significam contratos, o que significa licitação, e o resto vocês sabem.
Voto também significa eleitos, e eleitos significa poder, poder significa criar situações para gastar dinheiro, dinheiro significa obras, e aí o círculo vicioso – e põe vicioso nisso – se fecha, pois dinheiro também significa financiamento de campanha, o que gera troca de favores, e por aí vai.
Mas o futebol do Brasil não entra nesta ciranda. Como em todo o mundo, ele está nas mãos de grupos que detêm o poder financeiro, que de um modo geral não são empreiteiras, e sim empresas multinacionais, investidores da bolsa ou milionários que enriqueceram através de lavagem de dinheiro. No nosso caso, até bicheiros e contraventores podem fazer parte da roda.
Para agravar a situação, no Brasil os grandes clubes são comandados por pessoas vaidosas e descompromissadas, torcedores de elite que não raro fazem da presidência uma plataforma política e usam o clube como cabo eleitoral ou para satisfazer o ego inflado.
Outros fazem do clube o seu feudo particular, vivendo às expensas da verba recebida da CBF, da televisão e dos patrocinadores, endividando o clube e deixando o abacaxi para ser descascado por uma outra gestão, geralmente oposicionista, portanto, um  inimigo.
O futebol brasileiro é uma galinha de ovos de ouro, abençoado por Deus e bonito por natureza, como reza a lenda do nosso país tropical.
Ao contrário de atletas que praticam outros esportes, nossos jogadores nascem como capim no serrado, e a cada ano vão se revelando, produzindo lucros razoáveis – alguns notáveis – ao longo das suas carreiras, numa atividade interessante que remunera uns mais, outros menos, desde na base produtora até o destino final do produto, sem se esquecer do próprio jogador.
É nessa situação que aparece o verdadeiro dono do futebol brasileiro, o empresário ou agente, que deixou a administração dos clubes a ver navios.
Isso por causa da Lei Pelé, assinada por Fernando Henrique Cardoso em 1998, acabando com a “lei do passe”, instrumento pelo qual os clubes detinham poderes sobre os jogadores.
A Lei Pelé, baseada na Lei Zico, de 1993, e fundamentada no “caso Bosman”, uma pendenga jurídica europeia 1995, chegou a ser comparada à Lei Áurea, pois tirava os jogadores dos grilhões que os clubes lhes impunham. Com o passar do tempo, porém, os grilhões foram recolocados, colocando na mesma senzala os jogadores e os clubes, sob o chicote dos dirigentes de clubes que agem como agentes e dos agentes que agem como dirigentes de clubes.