A ZICA E A ZIKA
O brasileiro é um cidadão cheio
de problemas, embora tradicionalmente feliz e otimista, e assim continua, mesmo
com os compreensíveis muxoxos e panelaços disparados contra a classe política.
Esta felicidade pode ser vista
e sentida nas coberturas de televisão do carnaval que passou se espalhando pelos
quatro pontos cardeais verde-amarelos e pelas suas regiões intermediárias. Todos
esqueceram as dívidas, o desemprego e a inflação, e caíram na gandaia.
No entanto, trabalhando
nas sombras há uma zica que nos assola desde há cerca de oito anos e que frauda
nossos sonhos (para quem não curte a gíria oficial, “zica” significa má sorte
passageira, embora intensa). Essa zica nos incomoda e acontece no mesmo momento
que um mosquito de tripla ação – dengue, zika e chikingunya – vem debochar do nosso
sistema de saúde pública.
O nome do vilão parece
tirado de histórias bíblicas – Aedes Aegypti – e vem causando muito
desconforto, internações e mortes.
Como a ação do mosquito só
se manifesta alguns meses depois da contaminação, é preocupante a expectativa
de o que poderá advir do carnaval e da tradicional falta de cuidados e de
higiene que estas grandes festas promovem na população, não só para o habitante
do Brasil, mas para todos aqueles que estiveram expostos a ele.
A guerra está declarada.
O cidadão brasileiro foi
conclamado a empunhar as suas vassouras, desinfetantes e panos de chão e
colaborar com as autoridades sanitárias nos cuidados do dia a dia, vigiando sem
trégua os seus vasos de plantas, garrafas vazias e caixas d’água, e esperando
que os governos federal, estadual e municipal façam a sua parte. Nunca é demais
manter acesa chama da esperança, apesar do corte do orçamento que afetou áreas essenciais,
grandemente responsável pelo que está acontecendo, tendo em vista o descaso
como vem sendo tratada a saúde pública no país.
Ao longo do século 20, o Brasil
enfrentou e venceu diversas batalhas contra doenças endêmicas, mas o súbito
relaxamento no controle sanitário por parte do estado e a consequente falta de
cuidado da população reacendeu o perigo. Parece que todo o movimento
sanitarista tem que recomeçar, como se ainda estivéssemos no tempo de Oswaldo
Cruz.
Mas o leitor deve estar
perguntando “a que vem tudo isso num artigo cuja finalidade é comentar sobre
esporte”?
É que faltam apenas seis
meses para os Jogos Olímpicos e o problema do zika vírus está num crescendo
avassalador. Além da agora prosaica dengue, o mosquito pode causar estragos
maiores, fazendo com que o mundo, mais do que o Brasil, fique terrivelmente assustado.
O New York Times,
principal jornal americano, está em plena campanha visando alertar atletas e
turistas que vir para o Brasil em agosto será a maior roubada, e existe entre
os próprios atletas um movimento de boicote.
Como se trata de um jornal
de credibilidade e de alcance mundial, faz-se necessária uma pronta resposta
dos órgãos responsáveis pelos Jogos para desestimular o jornal nova-iorquino a
jogar areia no negócio, ou seja, temos que mostrar serviço.
Um boicote americano
poderá desencadear boicotes de outros países, afetando sobremaneira o brilho
dos Jogos.
Afinal, já temos problemas
demais com a desconfiança generalizada do pessoal do iatismo com referencia à
qualidade da agua da Baía de Guanabara e o Brasil também não tem as melhores
referências no que diz respeito à segurança para os turistas.
Mesmo contando com alguns
fatores positivos, como a baixa probabilidade de atos de terrorismo, as incontestáveis
belezas da cidade e uma taxa de dólar que estimula bolso do turista, as
condições de saneamento e as próprias condições dos locais da competição fazem
com que o tão esperado Rio-2016 perca muitos pontos entre aqueles habituados a
acompanhar de perto esse evento tão importante.
Afinal, uma festa que está
custando 40 bilhões de reais tem que valer a pena.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 12/02/2016)