HERANÇAS DA COPA
A atual situação econômica
do país está castigando praticamente todas as áreas de atividades. Algumas delas
foram engolfadas pela boca do dragão de uma forma devastadora, fruto de uma
inflação crescente, de uma desaceleração da economia que puxa o poder
aquisitivo para baixo e da falta de investimentos, o que conduz à recessão e ao
desemprego.
Isto quer dizer que em
vários setores este drama está sendo inevitável, e a reversão só virá com o
tempo, através de muita luta e muita paciência.
Mas nem toda a desordem
econômica foi fruto de um gerenciamento equivocado ou de uma distração
passageira.
Reportemo-nos à calamitosa
decisão de construir estádios caríssimos em recônditos onde o futebol nunca foi
artigo de primeira necessidade – estamos falando de Cuiabá, Manaus e, em menor
escala de Natal e até de Brasília, que teve um estádio praticamente
reconstruído.
Qualquer projeção honesta
mostrava na época que estes estádios se tornariam inviáveis por causa do custo
de manutenção e da impossibilidade de os clubes locais lotarem pelo menos 60%
das suas dependências algumas poucas vezes por ano. Mesmo assim foram
construídos para uma orgia que durou um mês e nem chegou a ser orgia.
Falou mais alto a ganância
e a sede ao pote, num país repleto de construtoras levianas e administradores
desonestos e oportunistas, como os que estão agora sob investigação, com processos
em andamento.
Cabe aos estados ou às
prefeituras bancarem o prejuízo.
Apesar do esforço em se
levar partidas do Campeonato Brasileiro para estes rincões, as despesas superam
as receitas e mais uma vez a diferença é coberta pelo dinheiro do contribuinte,
devidamente drenado do seu bolso através dos impostos e taxas cada dia mais
escorchantes.
Para que a matemática
desse certo seria necessário lotar os estádios cobrando pelos ingressos preços
inacessíveis para o torcedor ou conseguir a ajuda de patrocinadores, o que se
tornou impraticável dentro a atual conjuntura de contenção de custos vivida
pelo empresariado.
Além deste legado
negativo, sobra também o negativo legado do futebol.
Até o momento, a derrota
de 7x1 para a Alemanha que estarreceu o torcedor é vista com naturalidade pelos
responsáveis pela CBF e pelos próprios jogadores envolvidos, mais preocupados
com os seus contratos milionários com os superclubes europeus do que com a
reputação da seleção canarinho.
Na esfera de comando, a
coisa é ainda pior.
Esta semana, um ano depois
do inglório evento, ex-treinadores da seleção brasileira se reuniram na sede da
CBF com a atual comissão técnica e não houve qualquer consternação, nem uma
análise mais apurada de “onde foi que eu errei?”
Dunga, com todo o
brilhantismo verborrágico que possui, declarou que “as datas ficam marcadas”, e
explicou a frase mística comparando a derrota em 1950 com a conquista das cinco
Copas, dando a mesma importância emotiva às derrotas e às vitórias na história
da seleção. “A gente tem que ver pelo lado positivo”, completou ele,
justificando o vareio de bola a que fomos sujeitos, coisas que nem os alemães
conseguem explicar.
Zagallo foi além, e disse
que “não devemos nada às outras seleções e temos tudo para ganhar a próxima
Copa do Mundo”. Não satisfeito, ele emendou de sem-pulo – “não temos que nos
preocupar com as Eliminatórias, mas com a Copa”.
Único a falar alguma coisa
de útil, o Coordenador de Seleções Gilmar Rinaldi havia dito alguns dias antes
que “é necessário reavaliar a convocação de certos jogadores, principalmente
aqueles que atuam em lugares menos competitivos, como a China e os Emirados
Árabes Unidos”.
E, da mesma forma com que
Parreira confessou que sabia de antemão que a seleção de 2014 não tinha
condições de ganhar a Copa, Gilmar deixou claro que a equipe da Copa América era
jovem demais e sentiu o peso da responsabilidade de reabilitar o futebol
brasileiro depois do trauma de, mesmo favorita, perder a Copa em casa.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 10/07/2015)