sexta-feira, 10 de julho de 2015




                                                       HERANÇAS DA COPA 

A atual situação econômica do país está castigando praticamente todas as áreas de atividades. Algumas delas foram engolfadas pela boca do dragão de uma forma devastadora, fruto de uma inflação crescente, de uma desaceleração da economia que puxa o poder aquisitivo para baixo e da falta de investimentos, o que conduz à recessão e ao desemprego.
Isto quer dizer que em vários setores este drama está sendo inevitável, e a reversão só virá com o tempo, através de muita luta e muita paciência.
Mas nem toda a desordem econômica foi fruto de um gerenciamento equivocado ou de uma distração passageira.
Reportemo-nos à calamitosa decisão de construir estádios caríssimos em recônditos onde o futebol nunca foi artigo de primeira necessidade – estamos falando de Cuiabá, Manaus e, em menor escala de Natal e até de Brasília, que teve um estádio praticamente reconstruído.
Qualquer projeção honesta mostrava na época que estes estádios se tornariam inviáveis por causa do custo de manutenção e da impossibilidade de os clubes locais lotarem pelo menos 60% das suas dependências algumas poucas vezes por ano. Mesmo assim foram construídos para uma orgia que durou um mês e nem chegou a ser orgia. 
Falou mais alto a ganância e a sede ao pote, num país repleto de construtoras levianas e administradores desonestos e oportunistas, como os que estão agora sob investigação, com processos em andamento.  
Cabe aos estados ou às prefeituras bancarem o prejuízo.
Apesar do esforço em se levar partidas do Campeonato Brasileiro para estes rincões, as despesas superam as receitas e mais uma vez a diferença é coberta pelo dinheiro do contribuinte, devidamente drenado do seu bolso através dos impostos e taxas cada dia mais escorchantes.
Para que a matemática desse certo seria necessário lotar os estádios cobrando pelos ingressos preços inacessíveis para o torcedor ou conseguir a ajuda de patrocinadores, o que se tornou impraticável dentro a atual conjuntura de contenção de custos vivida pelo empresariado.
Além deste legado negativo, sobra também o negativo legado do futebol.
Até o momento, a derrota de 7x1 para a Alemanha que estarreceu o torcedor é vista com naturalidade pelos responsáveis pela CBF e pelos próprios jogadores envolvidos, mais preocupados com os seus contratos milionários com os superclubes europeus do que com a reputação da seleção canarinho.
Na esfera de comando, a coisa é ainda pior.
Esta semana, um ano depois do inglório evento, ex-treinadores da seleção brasileira se reuniram na sede da CBF com a atual comissão técnica e não houve qualquer consternação, nem uma análise mais apurada de “onde foi que eu errei?”
Dunga, com todo o brilhantismo verborrágico que possui, declarou que “as datas ficam marcadas”, e explicou a frase mística comparando a derrota em 1950 com a conquista das cinco Copas, dando a mesma importância emotiva às derrotas e às vitórias na história da seleção. “A gente tem que ver pelo lado positivo”, completou ele, justificando o vareio de bola a que fomos sujeitos, coisas que nem os alemães conseguem explicar.
Zagallo foi além, e disse que “não devemos nada às outras seleções e temos tudo para ganhar a próxima Copa do Mundo”. Não satisfeito, ele emendou de sem-pulo – “não temos que nos preocupar com as Eliminatórias, mas com a Copa”.
Único a falar alguma coisa de útil, o Coordenador de Seleções Gilmar Rinaldi havia dito alguns dias antes que “é necessário reavaliar a convocação de certos jogadores, principalmente aqueles que atuam em lugares menos competitivos, como a China e os Emirados Árabes Unidos”.
E, da mesma forma com que Parreira confessou que sabia de antemão que a seleção de 2014 não tinha condições de ganhar a Copa, Gilmar deixou claro que a equipe da Copa América era jovem demais e sentiu o peso da responsabilidade de reabilitar o futebol brasileiro depois do trauma de, mesmo favorita, perder a Copa em casa.  


 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 10/07/2015)