sábado, 7 de abril de 2018





COMO NASCEM AS CANÇÕES

(Parte 3)

(Artigo escrito para a página da Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/. Este site é uma publicação da Academia Poética Brasileira, da qual sou membro)


A bossa-nova, oficialmente lançada em 1958, congregou diversos compositores e intérpretes da Zona Sul carioca e criou bordões que exaltavam a beleza e o romantismo personificados como o sol, o mar e o azul do céu de Copacabana.
A bossa nova nasceu da necessidade de afastar o mau humor causado pelo samba-canção com suas letras sofridas que falavam de desamor, desilusão, traição e desencanto – que os progressistas chamavam de “fossa”.
Músicas como “Vingança”, de autoria de Lupicínio Rodrigues, numa gravação de Linda Batista de 1951 (“Eu gostei tanto, tanto quando me contaram / Que te encontraram chorando e bebendo / Na mesa de um bar / E que quando os amigos do peito por mim perguntaram / Um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar... / ... Mas enquanto houver força em meu peito eu não quero mais nada / Só vingança, vingança, vingança aos santos clamar / Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada / Sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar”), ou “Ninguém Me Ama”, de Antônio Maria, gravado por Nora Ney em 1952 (“Ninguém me ama, ninguém me quer / Ninguém me chama de meu amor / A vida passa, e eu sem ninguém / E quem me abraça não me quer bem / Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso / E hoje, descrente de tudo, me resta o cansaço / Cansaço da vida, cansaço de mim / Velhice chegando e eu chegando ao fim”), ou ainda “Bar Da Noite”, de Haroldo Barbosa, gravado pela mesma Nora Ney em 1957 (”Garçom, apague essa luz que eu quero ficar sozinha / Garçom, me deixe comigo, que a mágoa que eu tenho é minha / Quantos estão pelas mesas bebendo tristezas / Querendo ocultar / O que se afoga no copo renasce na alma / Desponta no olhar / Garçom, se o telefone bater, e se for pra mim / Garçom, repita pra ele que eu sou mais feliz assim / Você sabe bem que é mentira, mentira noturna de bar / Bar, tristonho sindicato dos sócios da mesma dor / Bar, que é um refúgio barato / Dos fracassados do amor”).
Os que procuravam por uma saída menos trágica tiveram um alento quando surgiram as figuras mais amenas de Dick Farney, Lucio Alves, Johnny Alf e Sylvia Telles, mas eles procuravam mais do uma letra que se parecesse com a ensolarada realidade da Zona Sul. Eles também queriam uma harmonia que aproximasse a música brasileira da sonoridade de Barney Kessell, Jim Hall, Dave Brubeck, Chet Baker ou Bill Evans.
A questão começou a ser solucionada com um ex-pianista de boate chamado Antônio Carlos Jobim, conhecido como Tom, que a partir do início da década de 1950 já vinha prestando bons serviços à música brasileira compondo, fazendo arranjos e dirigindo gravações, e através de Johnny Alf, um cantor-pianista que propôs ao público uma harmonia diferente, utilizando-se de uma forma arrojada de interpretação.
E a cidade contribuiu com as suas belas praias, com a paisagem paradisíaca e com o Beco das Garrafas, como eram chamadas as boates Bottles’ Bar e Little Club, enfiadas na Rua Duvivier, no coração de Copacabana, palco das futuras apresentações de samba-jazz – Sergio Mendes, Os Cariocas, Durval Ferreira, Leny Andrade, Luiz Carlos Vinhas, e tantos outros.
Mas o Dia D da revolução tão esperada aconteceu com o aparecimento de um cantor-violonista chamado João Gilberto, que deu novos rumos à música brasileira em termos de tempo, contratempo e acordes inusitados e jamais pensados (só o aparecimento de João Gilberto na música brasileira mereceria pelo menos um capítulo inteiro, ou quem sabe um livro completo!).  
A partir de João Gilberto apareceram outros nomes de cantores e compositores, as gravações do novo estilo passaram a ser lançadas pelas gravadoras e a nova tendência do mar-amor-luar começou a tomar conta do Rio e se espalhar pelo eixo musical Rio-São Paulo – embora João, antigo crooner de conjunto vocal executasse boa parte do seu trabalho explorando compositores e sambistas antigos e dando a eles a sua roupagem toda particular.
Já no seu primeiro LP – “Chega De Saudade”, lançado em 1959 – João mesclou composições de Jobim, Vinícius, Lyra e Bôscoli com músicas mais antigas de Caymmi, Marino Pinto, Zé da Zilda e Ary Barroso.     
Da safra nova que começou a conquistar o mercado, a dupla Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli era uma das mais profícuas, com músicas de intensa poesia, como “Rio” (“Rio, que mora no mar / Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar / Lindas flores que nascem morenas / Em jardins de sol / Rio, serras de veludo / Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo / Que é dourado quase todo dia / E alegre como a luz”), “O Barquinho” (“Dia de luz, festa de sol / E um barquinho a deslizar / No macio azul do mar / Tudo é verão e o amor se faz / Num barquinho pelo mar / Que desliza sem parar / Sem intenção, nossa canção / Vai saindo desse mar / E o sol beija o barco e luz / Dias tão azuis”) e “Você” (“Você, manhã de tudo meu / Você, que cedo entardeceu / Você, de quem a vida eu sou / E sei mas eu serei / Você, um beijo bom de sol / Você, em cada tarde vã / Virá sorrindo de manhã ...”).
Alguns bossanovistas bissextos como os irmãos Marcos e Paulo Sergio Valle também compuseram músicas cheias de poesia que a moçada cantava na praia e nos apartamentos de Ipanema, como “Samba De Verão” (“Você viu só que amor? / Nunca vi coisa assim / E passou, nem parou / Mas olhou só pra mim / Se voltar vou atrás / Vou seguir, vou falar / Vou dizer que o amor / Foi feitinho pra dar / Olha, é como o verão / Quente o coração / Salta de repente / Para ver a menina que vem...”), e Sergio Ricardo, que mais tarde também engrossaria a turma do protesto, trazendo um viés noturno e soturno para a bossa nova, mesmo falando de mar e amar, como em “Poema Azul” (“O mar beijando a areia / O céu, a lua cheia / Que cai no mar / Que abraça a areia / Que mostra ao céu e à lua cheia / Que prateia os cabelos do meu bem...”).
O ápice do romantismo bossanovista veio com “Garota De Ipanema”, de Antônio Carlos Jobim, então já um músico consolidado, e Vinicius de Moraes, um diplomata em desencanto (“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça / É ela, menina, que vem e que passa / Num doce balanço, a caminho do mar / Moça do corpo dourado do sol de Ipanema / O seu balançado parece um poema /  É a coisa mais linda que eu já vi passar”) e com “Corcovado”, de Tom (“Um cantinho, um violão, esse amor, uma canção pra fazer feliz a quem se ama...), que impropriamente deu início ao jargão “um banquinho e um violão”, que fazia alusão às reuniões aos encontros dos músicos do novo sistema nos apartamentos da Zona Sul. 

SEGUE

sexta-feira, 6 de abril de 2018






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 24/06/2016
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Laís - MA 

TAKUYA KURODA - BITTER & HIGH

Apesar do avanço da tecnologia e das novas tendências postas em prática no século 21, o jazz acústico continua mostrando a sua força. A nova cena, representada por novos atores, repete a receita dos antigos mestres, mesmo acrescentando um toque de modernidade e busca de uma nova sonoridade. Um dos nomes que começam a se impor neste novo cenário é o do trompetista, compositor e arranjador Takuya Kuroda, nascido no Japão e atualmente residente em Nova York. Takuya conserva uma forte influência de Clifford Brown e de Dizzy Gillespie, não apenas no sopro do instrumento como também no estilo, que varia do velho bebop, passando pelo puro West Coast, até se completar num hard-bop modernizado pela essência dos novos tempos. As músicas apresentadas no programa desta sexta-feira são todas da sua autoria, com exceção de 'Round Midnight, de Thelonious Monk, que recebeu um tratamento especial do arranjador, embora mantendo o clima místico criado pelo autor.  

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini


terça-feira, 3 de abril de 2018






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 07/08/2015
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís - MA

ANTONIO ADOLFO - TEMA 

Comemorando cinquenta anos de carreira, o pianista Antonio Adolfo está lançando o seu mais recente álbum, denominado Tema, no qual reedita antigas parcerias e se aventura em novas direções, uma marca que acompanha o seu trabalho desde que iniciou a sua caminhada na década de 1960. Antonio Adolfo sempre foi o que se pode chamar "um músico independente", passando pela bossa nova, pelos festivais de música e pela nova MPB com a mesma naturalidade e levando o seu trabalho para os Estados Unidos e para a França, países onde residiu durante um certo tempo. Neste álbum, Antonio Adolfo trata a música com a delicadeza que lhe é peculiar, enriquecido pela sua experiência como pianista, compositor e arranjador, e é secundado por músicos de reconhecida competência nas artes da música popular brasileira contemporânea. Um programa para ser ouvido e sentido.  


Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini