sábado, 25 de setembro de 2021

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright EF Education) 

(ver tradução após o texto)

 

GERRYMANDERING 

GERRYMANDERING means to divide (a state, school, district, etc.) into political units that give one group an unfair advantage. It comes from the words “Gerry” and “Salamander” (“Gerrymander”) on which “Gerry” is Governor Elbridge Gerry (Massachusets, 1810-1812) and “Salamander” is the area of the district, that resembled to this animal. Elbridge Gerry became famous when decided to rearrange the state’s voting districts to benefit his party.

 

“There has been a lot of GERRYMANDERING of the constituency boundaries.”

             “The Court ruled in 2014, after lengthy testimony, that at least two districts had to be redrawn because of GERRYMANDERING.”

 

             “He was reelected six times, but in 1890 was defeated by the GERRYMANDERING of his district.”

 

             

            TRADUÇÃO 

MANIPULAÇÃO  

Em inglês, “gerrymandering” significa dividir (um estado, escola, distrito, etc.) em facções políticas para que um determinado grupo consiga alguma vantagem desleal. A palavra vem de “Gerry” e “Salamandra”, onde “Gerry” é Elbridge Gerry, um político que governou Massachusets entre 1810 e 1812, e “Salamandra” um animal cujo formato se parece com o distrito em questão. Elbridge Gerry ticou famoso por ter manipulado o sistema de votação do distrito para beneficiar o seu partido.

            “Tem havido muita manipulação dentro da circunscrição eleitoral.”

“Em 2014, após ouvir diversas pessoas, a Corte decidiu que pelo menos dois distritos teriam que ser redefinidos por causa de manipulação indevida.”

“Ele foi reeleito seis vezes, mas foi derrotado em 1890 devido a uma manipulação havida no distrito.”

 

 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

 


     PÁGINAS ESCOLHIDAS

COISAS (1988)
(Augusto Pellegrini)

TRILOGIA – FLORES E VELAS

Não foi possível fazer nada, o barco soçobrou na placidez do lago.

Não foi possível fazer nada, você me olha como se entendesse, mas será que me entende?

Não foi possível fazer nada, e eu aqui no meio dessa gente estranha que me questiona silenciosamente com olhares duros desde que eu me aproximei da sereia fria e imóvel e daquelas mãos que agora repousam em forma de prece, prece que ela nunca rezou.

Não foi possível fazer nada, e estas velas seguem queimando o meu espírito, deixando uma fumaça mal-cheirosa em contraponto com o perfume das flores.

Não foi possível fazer nada, e agora mãos mais insensíveis do que as mãos que repousam cruzadas pegam o caixão pelas alças e começam a carregá-lo numa procissão sem cânticos.

Não foi possível fazer nada, e agora o ataúde dança sinistramente a cada passo dado pelos carregadores, impassíveis como o ambiente.

Não foi possível fazer nada, e o local vai se tornando deserto com a saída do séquito, todos a desfilar um estranho desfile.

Antes o lago, a sereia, o sol de fim de tarde.
Agora grades, ciprestes e túmulos.

(O fim do romance com a sereia misteriosa)


 

 


EU E A MÚSICA

UMA ORQUESTRA DANÇANTE

(Swing pra que te quero)

Parte 1

O dia era 19 de outubro de 1978.
Eu estava em Belo Horizonte na companhia de um engenheiro americano de nome Robert Mount, ambos a serviço de uma empresa multinacional para a qual trabalhávamos na época. Eu de São Paulo, ele do Texas, duas almas perdidas na capital mineira.
O dia havia sido quente, abafado e cansativo. Após ficarmos o tempo todo expostos à poluição do Distrito Industrial, finalmente voltamos para a cidade no fim da tarde, chacoalhando na Rural Ford que nos servia de transporte.
O sol se punha no belo horizonte das alterosas, recortando a cadeia de montanhas da Serra do Curral em contraponto com um céu de um fundo alaranjado brilhante, e as primeiras luzes da noite começavam a se fazer presentes, piscando aqui e acolá como uma árvore de Natal se espalhando pelas calçadas, enquanto a caminhonete finalmente alcançava as artérias principais, a esta altura intensamente movimentadas, até nos desembarcar como um par de malas em frente ao tradicional Hotel Del Rey.
Uma hora mais tarde, após um breve e refrescante repouso, nos encontramos no bar do hotel para enfim tomar a nossa merecida cerveja bem gelada e fazer os planos para um jantar à mineira, muito embora os pedaços de queijo também mineiro e a delícia do torresminho frito que vieram como acompanhamento já honrassem devidamente a culinária local.
Sobre a mesa asséptica com tampo de fórmica escura, ao lado de um cardápio plastificado e dos costumeiros porta-guardanapo, cinzeiro e galheteiro encontrava-se um pequeno folheto informativo anunciando para “19 de outubro, às nove da noite, o show do ano”’, o que se afigurava simplesmente imperdível, pois se tratava da orquestra de Harry James se apresentando no Palácio das Artes!
Dia 19 de outubro... é hoje!!!
Seduzidos pela oportunidade de assistirmos a um espetáculo memorável, deixamos prontamente de lado a ideia do jantar à mineira para nos engajar numa típica noitada norte-americana.
Bob já havia assistido a uma ou duas apresentações da orquestra de Harry James nos Estados Unidos – ele não sabia precisar exatamente onde, mas acreditava ter sido em Nova York, ou em Pittsburgh, cidade sede da empresa onde trabalhávamos, ou ainda em Houston, onde ele morava – mas para mim, que conhecia James apenas por um par de filmes de Hollywood e por alguns discos, seria uma oportunidade fantástica. 
O Palácio das Artes ficava a uma distância não muito grande do hotel, mas por via das dúvidas e pelo adiantado da hora resolvemos apanhar um taxi, o que acabou sendo providencial porque de repente caiu uma chuva fina inesperada que serviu para amenizar a temperatura da noite, mas que bem poderia ter esfriado o nosso ânimo.
À porta do teatro se formava uma fila caudalosa, o que atestava o interesse do público e atrasaria o início do show, mas auspiciava o sucesso do espetáculo. Afinal, a atração seria ninguém menos do que Harry James, um dos pioneiros das grandes orquestras dos anos 1930, época em que surgiu como um dos mais promissores solistas de trompete para se transformar a partir dos anos 1940 em um sucesso mundial, quando liderou uma orquestra que variava entre o swing tradicional e a mais pura e romântica música dançante.
Harry James era possuidor de um sopro peculiar, forte, limpo, macio e tecnicamente perfeito. Dono de um timbre inconfundível e de um “drive hipnótico, ele aliava muito lirismo a um balanço formidável que convidava à dança.
Já veterano, James trazia consigo para a temporada brasileira alguns músicos bastante rodados – caso do trompetista Nick Buono, remanescente do seu antigo grupo, do baterista Sonny Payne, que durante muitos anos havia feito parte da orquestra de Count Basie, e do trombonista Art Dragon, que tocava regularmente tanto na sua orquestra como na Disneyland Band. A orquestra também mesclava outros músicos bem mais jovens, como a louríssima e bela saxofonista-barítono Beverly Dahlke-Smith (única mulher do grupo), o baixista Ira Westley com sua cabeleira fashion anos setenta, o sax-tenorista Fred Waters e um vocalista quase desconhecido chamado Francis Dennis.
Harry James, uma lenda na história da música instrumental, reeditou o brilho da época de ouro do swing e fez uma apresentação de gala, com muito fôlego e muita elegância, sempre imprimindo uma liderança segura sobre o grupo.
As músicas se sucediam dentro de um repertório irrepreensível – “Two O’Clock Jump” (Harry James, Benny Goodman e Count Basie), “Cherokee” (Ray Noble), “Don’t Be That Way” (Benny Goodman, Edward Sampson e Mitchell Parish), “Opus Number One” (Sy Oliver e Sid Garris), “You’ll Never Know” (Mack Gordon e Harry Warren), “Sweet Georgia Brown” (Ben Bernie, Maceo Pinkard e Kenneth Casey), “You Go To My Head” (J.Fred Coots-Haven Gillespie), “Serenade In Blue” (Mack Gordon-Harry Warren) – tendo como base uma pegada orquestral majestosa que servia de suporte para o trompete aveludado de James.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

 


TOP MODEL

(Augusto Pellegrini)

Ela chega toda leve, linda e solta
E olha a todos com desdém profundo
Jovem, bonita, astuta e muito louca
O sol na pele, e com carmim na boca
Ela imagina ser a rainha do mundo

Seu gesto artificial é bem estudado
Seu balançar põe o cabelo em desalinho
Muito moderna, totalmente descolada
Moça da moda, toda cool, boca pintada
Ela imagina ser a dona do caminho

Ela vem leve, toda solta e linda
E olha o mundo todo com total desdém
Vem muito louca, mais confiante ainda
E põe seus pretendentes na berlinda
Fazendo as coisas que ora lhe convêm

Seu jeito não é natural, é bem posado
E o seu sorriso é todo feito de mentira
Existe total falta de autenticidade
Sem qualquer coisa que seja verdade
Até no jeito como ela respira

Os homens, tolos, caem a seus pés
E satisfazem todos os seus dengos
Enquanto ela, sagaz, maneja os cordéis
Reproduzindo um bando de fiéis
Como se fossem simples mamulengos

Ela não tem nem um tostão de cultura
E desconhece qualquer verso ou prosa
E se o homem uma intelectual procura
Ao desistir dessa vã investidura
Vai ter que namorar o Ruy Barbosa!

Julho 2019
 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 


CANTO DE GENTE TRISTE  

(modinha / marcha rancho de Augusto Pellegrini)

 

Deixe que eu cante a essa gente

Tristeza é pra se cantar

Quem sabe toda essa gente

Terá com que me alegrar

Violão tem sons na calçada

E a serenata em sereno

Pequeno mundo de sonhos

Em tua janela um segredo

 

Vem sorrindo com teu riso

Ensolarar noite escura

Abre a janela, em teu quarto

Vai clarear branca a lua

Violão tem sons na calçada

E a gente passa e nem sente

Deixe que eu cante a essa gente

No brilho sem sol da lua

domingo, 19 de setembro de 2021

 


     PÁGINAS ESCOLHIDAS

COISAS (1988)
(Augusto Pellegrini)

TRILOGIA – CHUVA E TEMPO

Lá fora a chuva cai, miúda e fina, as gotas vão escorregando pelas capas dos passantes e pingando no chão em arabescos circulares.
A água escorre lenta, suja e sem pressa para o meio-fio da calçada, sem provocar a pororoca dos bueiros.
Carros vão passando e borrifando água no vazio ou em um ou outro passante.
Tendo encostado nariz na vidraça que fica opaca pela minha respiração, vejo figuras se movendo na umidade como garatujos traçados por uma mente febril.
Ao cessar o mau tempo vou voltar ao mesmo parque e ao mesmo lago e procurar pela mesma sereia, pelas mesmas sensações e pela mesma angústia.
Vou questionar seus segredos, vou invadi-la sem medo, vou gargalhar para Pan.
Vou tomá-la pelas mãos e então (quem sabe?) poderemos devassar nossas inquietudes.
Através da minha respiração contra o vidro as figuras se deformam e se transformam em fantasmas que povoam a minha retina numa dança de movimentos macabros.

 

(Solitário, olhando pela janela e ansioso pelo dia de amanhã)


 

 


EU E A MÚSICA

DIAGONAL

A tranquila cidade de São Paulo oferecia durante os anos 1960 um fantástico circuito de barzinhos que fizeram parte da renovação da música brasileira logo após o surgimento da bossa nova.
O mapa do bom gosto era praticamente confinado ao bairro da Consolação – Praça Roosevelt e arredores – onde a noite fervilhava de boa música com Djalma Ferreira, Dick Farney, Ana Lúcia, Ed Lincoln, Sambalanço Trio, Leny Andrade, Araken Peixoto, Geraldo Cunha, Luiz Carlos Paraná e tantos outros.
Vários tipos de pessoas se misturavam na noite sem fim, às vezes curtindo um espetáculo vanguardista no Teatro de Arena ou uma sessão de cinema também vanguardista no Cine Bijou para depois encerrar a noitada no Bar Redondo, reduto de toda a fauna boêmia que se possa imaginar, até que chegasse o alvorecer a pleno sol.
A música corria leve e solta no Farney’s (que depois virou Djalma’s), no Bon Soir, no Stardust ou no Cave – ou no Lancaster, na Rua Augusta.
Mais adiante, na Vila Buarque, incrustada no quadrilátero dos chamados inferninhos, também havia a Baiúca (a primeira casa e introduzir este tipo de show), o Ela Cravo e Canela, o João Sebastião Bar e dois quarteirões acima o Bar Sem Nome, na região das Faculdades Mackenzie e USP-Filosofia, local geográfico que foi palco de muita pancadaria entre partidários a favor e contra a revolução de 1964.
O Bar Sem Nome era o reduto do jovem Chico Buarque (“Pedro Pedreiro penseiro esperando o trem / manhã parece, carece de esperar também / para o bem de quem tem bem, de quem não tem vintém ”), de Zé Keti, quando ele se encontrava na Paulicéia (“Se eu precisar algum dia de ir pro batente não sei o que será / pois vivo na boemia, e vida melhor não há” – música “Que Será De Mim”, de Ismael Silva), e do também jovem e talentoso Chico Maranhão, dono da “Mulata Abençoada” e da “Gabriela”, que bem podiam ser a mesma pessoa.   
Em contraponto com a noite da Praça Roosevelt, não muito longe dali, em outra praça, a das Bandeiras, que ficava no início da Avenida Nove de Julho, havia o Claridge (depois Cambridge) Hotel, cujo American bar apresentava o mesmo tipo de música, mas voltado para aqueles que não exercitavam hábitos noctívagos, pois abria as portas já no início da noite, para um discreto “happy hour” de shows semiacústicos com a presença de astros como Zimbo Trio, Manfredo Fest Trio, Bossa Jazz Trio, Alaíde Costa, Claudette Soares, Pedrinho Mattar Trio, Cesar Camargo Mariano e Johnny Alf.
O bar do Claridge era o que havia de chique naquele meado de século, uma mistura da modernidade que começava a dominar o país com a influência da escola arquitetônica de Brasília e da decoração dos filmes da Atlântida com traços dos anos 1920 – cadeiras estofadas, mesas e painéis decorados à art-nouveau, arandelas com luz indireta e vidro fosco desenhado – e um discreto foco de luz sobre o praticável onde os músicos se apresentavam para o público.
Eu tinha o hábito de frequentar o Claridge na medida em que meus bolsos permitiam, e passava algumas horas de encantamento sorvendo algumas cubas-libres (se bem me lembro, com alguns amendoins bem torrados) e me inebriando com aquela música especial que preenchia o espaço refinado do local.
Mesmo quando não havia algum espetáculo programado ou nos intervalos das apresentações, o show continuava, pois a casa tocava um west-coast discreto que variava de Chet Baker a Shorty Rogers, ou alguma coisa estilo third stream que tanto podia ser o Modern Jazz Quartet como Dave Brubeck e seu quarteto, tudo para tornar o ambiente realmente acolhedor.
Ao contrário da maioria dos bares e boates, as conversas aconteciam em voz baixa e não se ouviam as irritantes gargalhadas de algum piadista desprovido da capacidade de ouvir e entender música de qualidade. O som da casa era perfeito e realçava os atributos dos músicos e do cantor.
Num daqueles inícios de noite, lá estava eu acompanhado pelo meu amigo José Roberto “Pulga” Marques, que recebera este apelido porque era miúdo como um jóquei, mas um pianista competente e um gigante de gosto apurado. Nossa missão era conferir nos detalhes uma apresentação de Johnny Alf, figura carismática do movimento pré-bossa nova e do seu derivado, o bossa-jazz.
Como cantor e compositor pré-bossa, Johnny não se alinhava exatamente na nova postura dogmática da linha Lyra-Menescal-Gilberto, pois sua bossa-jazz tinha traços definitivos do antigo samba-canção de Dolores Duran e Custódio Mesquita, um pouco da fase inicial de Tom Jobim, e um piano cujo drive denunciava toda uma escola jazzística a que ele fora submetido.
Seu forte não era a nova batida do violão trazida por João Gilberto e compartilhada por Carlos Lyra, Roberto Menescal, Durval Ferreira e outros mais. Seu forte era um piano impregnado de jazz, produzindo um som dissonante que variava entre Lennie Tristano e George Shearing. E um vocal que remetia a Mel Thormé, entoando melodias repletas de dissonâncias e modulações complicadas.   
Pulga tinha a seu crédito o fato de ter-me apresentado ao primeiro LP de Johnny Alf, chamado “Rapaz de Bem”, que eu frequentemente ouvia em casa com a atenção e a fascinação que lhe eram merecidas.
Evidentemente, a aquisição de outros discos do cantor seria apenas uma consequência natural, e a presença de Johnny no Claridge naquela noite foi motivo de festa.

-0-

                                                     

Enquanto rolava a apresentação, com a malícia e a sutileza de Johnny Alf – eu e o amigo Pulga, sorvíamos os goles da cuba-libre no copo longo e suado e ouvíamos em silêncio, absolutamente concentrados, as músicas que iam se sucedendo – “Ilusão À Toa”, “Fim De Semana Em Eldorado”, “Tudo Distante De Mim”, “Escuta”, “Vem”, “O Que É Amar”, “Céu E Mar”, “Seu Chopin, Desculpe” e outras preciosidades, todas composições de Johnny Alf, e as deliciosas “Penso Em Você” (Fernando Lobo e Paulo Soledade), “Feitiçaria” (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy) e “Despedida De Mangueira” (Benedito Lacerda e Aldo Cabral).
A nossa mesa ficava próxima ao palco.
Enquanto Johnny sorria agradecendo os aplausos depois de mais uma música cantada em outra interpretação de tirar o chapéu, eu me enchi de coragem e, sob o olhar curioso do amigo Pulga, pedi, no impulso da empolgação – “Johnny, canta Diagonal!”.
Diagonal” (Maurício Einhorn e Durval Ferreira) é uma música que faz parte do seu segundo LP, gravado em 1965 pela RCA Victor, intitulado exatamente “Diagonal”.
Em “Diagonal” Johnny não canta a letra da música, mas faz um notável “scat-singing”, vocalizando como se fosse um instrumento, a exemplo do que havia feito em “Tema Sem Palavras” (dos mesmos Mauricio Einhorn e Durval Ferreira) e em “Que Vou Dizer Eu?” (Victor Freire e Klécius Caldas) no primeiro LP em 1961.
No caso de “Diagonal”, porém, ele faz um duplo “scat-singing”, pois executa um contracanto com ele próprio.
Não dá pra cantar essa música” – disse Johnny gentilmente – “pois falta uma segunda voz para fazer o contracanto”, ao que eu, que conhecia a música de cor, tanto o canto quanto o contracanto, atrevidamente repliquei - “eu posso fazer a segunda voz...”.
Johnny meditou por alguns segundos, colocou o microfone que ele tinha junto ao piano mais para o lado, a fim de possibilitar o seu uso para duas pessoas, e simplesmente me convidou para subir ao palco!
Uma vez atrevido, atrevido e meio.
O baixista e o baterista (não me recordo quem eram) me olharam meio desconfiados, mas a um sinal de Johnny eles começaram a introdução.
Sem titubear, comecei a cantar com o meu ídolo, respondendo a sua primeira frase -  Tara (taturá) parutaratutára (pararaturará)...” - sem me intimidar nem ficar vermelho.
Não me lembro com detalhes como ficou o dueto, mas ao final o público aplaudiu e o amigo Pulga congratulou-se comigo. Os músicos sorriram, e Johnny continuou o show como se tudo tivesse sido ensaiado.
Mesmo tendo privado posteriormente de uma certa amizade com Johnny Alf antes de ele voltar a residir no Rio de Janeiro, graças a alguns amigos que tínhamos em comum, o “happy hour” do Claridge se tornou inesquecível, e o breve contato que mantivemos naquela noite apenas comprovou a grandeza de alma de um artista que compensava a complexidade da sua criação musical com a simplicidade da sua condição de ser humano.