NEYMARDEPENDÊNCIA
Em
1966 o Brasil levou para a Copa da Inglaterra uma seleção meia-boca,
acreditando que o tricampeonato (havíamos vencido em 1958 e 1962) viria num
estalar de dedos.
Uma
preparação pífia, feita em cinco lugares diferentes por força de acordos com prefeitos
de estâncias, a chamada de quarenta e sete jogadores para agradar a todos e uma
convocação final equivocada foi o início de uma caminhada que estava fadada ao
fracasso.
Os
jogadores foram para a Europa sem nenhuma noção de conjunto. Alguns foram convocados
fora da sua real posição e outros – caso de Garrincha e Pelé – viajaram fora
das suas melhores condições físicas (Pelé não jogou contra a Hungria e
Garrincha não jogou contra Portugal, e perdemos as duas partidas, ambas por 3 x
1).
Mesmo
machucado, e com Garrincha definitivamente fora de combate, Pelé era a
esperança brasileira, pois a equipe contava com alguns jogadores medianos e com
os veteranos Gilmar, Djalma Santos, Bellini e Orlando sem a mesma pegada de
quatro ou oito anos atrás. Havia ainda os promissores Tostão, Jairzinho e
Gérson, mas estes iriam brilhar apenas quatro anos depois, na Copa do México.
Na
véspera da partida contra Portugal, o jornal A Gazeta Esportiva publicou uma
manchete que mostrava bem a angústia do torcedor brasileiro: “Pelé, jogai por
nós!”, isto é, com a ausência de Garrincha, mesmo no ocaso da sua carreira, o
time era Pelédependente.
A
história todos sabem – perdemos e ficamos fora da Copa – mas ficou a lição que
não se pode depender apenas dos lampejos de um único jogador para que um time
seja vitorioso, pois afinal, o futebol é um esporte coletivo.
Nas
Copas que se seguiram, conquistando o título ou não, o Brasil não era
dependente de nenhum jogador, pois o elenco sempre teve mais do que um jogador
para desequilibrar e atormentar a vida dos adversários.
Houve
um hiato de craques entre 1990 e 1998, mas mesmo assim ganhamos o caneco em
1994 com um futebol pragmático e sem brilho, graças a Deus e a Romário.
Em
1970 tínhamos Carlos Alberto, Gérson, Tostão, Pelé e Rivelino; em 1974 tínhamos
Rivelino, Paulo Cesar Caju e Jairzinho; em 1978 tínhamos Cerezo, Zico e
Reinaldo; em 1982 tínhamos Junior, Falcão, Zico, Cerezo e Sócrates; em 1986 tínhamos
Sócrates, Zico, Muller e Careca; em 1990 tínhamos Romário, Muller e Careca.
Depois
da década de 1990, voltamos a ter protagonistas nas Copas de 2002, com Rivaldo,
Roberto Carlos, Kaká e Ronaldo e em 2006, com Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo.
Em 2010 começou a fase em que se acentuou significativamente a falta de um ou
mais protagonistas ou – podemos definir assim – a ausência de craques e de um
técnico que construísse uma equipe a partir do material que tinha em mãos.
Em
termos de quantidade de craques, o momento presente não me parece muito
promissor, e isto já ocorre desde 2012, seja com Mano Menezes, seja com Felipe
Scolari, seja com Dunga. Nas três situações, com especial destaque para a Copa
de 2014, o time se mostrou extremamente dependente de Neymar, quer por causa do
seu distanciamento técnico dos demais, quer por causa da tática aplicada, que
nunca chegou a mudar, fosse o treinador o Mano, o Scolari ou o Dunga: dá um
chutão na direção de Neymar e seja o que Deus quiser; se ele dominar a bola a
oportunidade de gol vai aparecer!
No
momento o que temos é um punhado de jogadores com alguma habilidade e boas
noções de fundamentos, mas o único que desequilibra é Neymar.
Os
outros dependem de um técnico que os posicione em campo, que treine jogadas
ensaiadas e que explore com inteligência o potencial e as características de
cada um.
Isto
pode acontecer com o tempo, e é bom que aconteça, porque este elenco que aí
está, sujeito a duas ou três modificações, é o que temos para disputar as
Eliminatórias da Copa 2018 contra as equipes sul-americanas que estão ficando
dia a dia mais atrevidas e mais difíceis de serem batidas.
O
Peru, derrotado na bacia das almas, e a Colômbia, que acabou com a
invencibilidade Dunga, não me deixam mentir.
Em
suma, o craque nós temos, mas precisamos de um time, ou então voltamos à mesma
oração de 1966 – “Neymar, jogai por nós! – clamor que no momento não faz
sentido.
E
que não deu certo em 1966.
(Artigo
publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 19/06/2015)