sábado, 27 de agosto de 2016






RESENHA OLÍMPICA

As competições de uma Olimpíada se desenvolvem de uma forma tão intensa e paralela que fica impossível ao analista fazer comentários pontuais durante o seu transcorrer. Somente agora, quando terminaram os saltos, os pontos, os golpes, os mergulhos e as corridas, é que se pode emitir opiniões e fazer uma contabilização do celebrado certame.
Em primeiro lugar é bom que se ressalte que imediatamente após a memorável noite de abertura, para provar que em matéria de festa o brasileiro é imbatível, desarmou-se o clima negativo que estava instalado por conta de inabilidades políticas, equívocos administrativos, despreparo técnico e suspeita de muita coisa errada na condução financeira das obras.
As peças foram se encaixando e as coisas começaram e entrar nos eixos.
Começaram os jogos e o público entrou no jogo, lotando estádios e locais de competições, confraternizando com turistas e transmitindo o lado brasileiro bom de conviver, apesar das vaias a alguns atletas argentinos. 
Saímos de um clima de maledicência e entramos numa atmosfera de alegria e descontração. Todos os temores de atentados, calamidades e outras tragédias felizmente não se consumaram. Houve as costumeiras reclamações – e em contraponto os usuais elogios – quanto à segurança, organização e acomodações, mas nada que pudesse causar maiores discussões. As ocorrências policiais também aconteceram dentro na normalidade para um evento que congrega tanta gente.
A morte de um treinador alemão após um acidente de trânsito, um assalto de mentira a nadadores americanos e o assassinato de um soldado no complexo da Maré foram os pontos mais aflitivos dos 19 dias de disputas.
O poder paralelo do crime deu um tempo, como havia feito na Copa do Mundo, com exceção de algum fato isolado que não teve repercussão na imprensa nacional ou internacional.
Tirando o problema do esverdeamento da água do complexo aquático, que acabou também resolvido a contento, nada de muito especial aconteceu com os campos de provas, como se temia a princípio.
As provas náuticas disputadas em mar aberto não mereceram muitas reclamações dos atletas, como receavam os organizadores, e ninguém foi internado com intoxicação. Os casos de zica ficam para os próximos meses.
O resultado no campo esportivo, porém merece uma reflexão.
Com exceção das Forças Armadas (que deram o seu valioso quinhão), a sociedade civil – escolas, clubes – e o poder constituído, incluindo aí o COI, as Federações e o Ministério do Esporte, não fizeram qualquer esforço para que os nossos atletas fossem mais competitivos.
Das 19 medalhas no total – contando ouro, prata e bronze – as Forças Armadas foram responsáveis por 13, o que nos faz sonhar com um desempenho melhor em Tóquio-2020 se o seu trabalho tiver continuidade e for aperfeiçoado.
Frustrou-se, porém a expectativa de que conseguiríamos terminar entre os dez primeiros, porque na verdade se tratava de uma expectativa, não de um planejamento. Os homens do COI esperavam que as medalhas caíssem do céu, sem investimento e sem incentivo.
O Brasil manteve a tradição histórica dos últimos anos e ficou atrás apenas dos Estados Unidos entre os países do continente americano, mas como anfitrião deixou muito a desejar, terminando as competições em 13º lugar, atrás de sete europeus (Grã Bretanha, Rússia, Alemanha, França, Itália, Holanda e Hungria), três asiáticos (China, Japão e Coreia do Sul) e um oceânico (Austrália).
Mesmo assim, vale a pena considerar que esta colocação foi a melhor da história olímpica do Brasil, desde a primeira edição dos jogos em Antuérpia-1920.
Como donos da festa, nas últimas dez Olimpíadas somente ficamos melhor do que a Grécia em 2004, que terminou em 15º.   Dos outros anfitriões, três foram campeões em seus domínios (Estados Unidos – duas vezes, URSS e China), a Grã Bretanha terminou em 3º, a Austrália e a Coreia do Sul em 4º e a Espanha em 6º.
O ponto positivo, porém, foi a conquista de 7 medalhas de ouro, superando nosso recorde de 5 medalhas conquistadas em Atenas (em todas as 21 participações antes do Rio-2016 havíamos conseguido apenas 23 ouros).
Quanto à lisura dos Jogos, à parte o episódio do doping russo e da negativa do lutador egípcio em cumprimentar o seu oponente judeu, tudo correu bem, embora tenha pegado mal a grosseria do Super Neymar com alguns torcedores depois da quebra do tabu olímpico. É importante que alguém lhe faça ver que assim como é preciso saber perder, é também importante saber vencer.
Não esquecendo jamais o lema do Barão Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas: “o importante não é vencer, é competir”.
Sempre com postura e dignidade.



(Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 26/08/2016)