quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 


VERSOS MENTIROSOS

(Augusto Pellegrini) 

Hoje eu tenho os olhos secos
E sinto a garganta ardida
De tanto chorar, aos gritos
Lamentando a tua partida
 

E sinto falta da chuva
Embora não goste dela
Porque a chuva me recorda
Tua imagem na janela
 

Os poetas exageram
E falam coisas que não sentem
Na verdade não se importam
Em demonstrar o quanto mentem

Em nome do ineditismo
E da pura alegoria
Do vazio escrevem lirismo
Se tristes, impõem alegria 

Um exemplo deste assunto
Na verdade, um exagero
Vem na intenção destes versos
Com molho e algum tempero

Eu me ponho a refletir
Sobre tanta incoerência
Será que a chuva faz falta
E me dói a tua ausência?

Ou será que o que me aflige
É somente a solidão
E esta busca intermitente
Da verdadeira paixão?

Pois, se a chuva me deprime
Sua falta me faz suar
E as duas coisas se completam
Estão no mesmo patamar

Por isso, tome cuidado
Ao ler uma poesia
Muitas vezes o poeta
Não faz mais que fantasia

 

Novembro 2020

 

 

 



quarta-feira, 11 de novembro de 2020

 


AS CORES DO SWING
          (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 18 - AS RAZÕES DO DECLÍNIO

O jazz não é e jamais será uma arte musical estável.

A busca por constantes novidades harmônicas, rítmicas e tonais, e a criatividade inata que brota dos seus intérpretes e compositores sempre fizeram do jazz uma música mutante.

Parece que os artistas de jazz, admiradores confessos do passado, se mostram eternamente insatisfeitos com o presente e a cada momento sempre estão procurando novas fórmulas de expressão através das quais pretendem modificar o futuro.

Assim aconteceu com a passagem do sincopado ragtime, um “quase jazz”, para o stomp pesado do estilo tradicional, que eles chamavam de “blues de New Orleans”, e deste para o mais elaborado estilo dixieland-chicago. Assim foi também a transformação do estilo chicago para o balançante swing, promovendo a alteração do lineup dos grupos com relação à quantidade dos músicos e ao tipo de instrumentos utilizados, o que causou uma profunda mudança na sonoridade apresentada.

Assim também aconteceu quando as orquestras se transformaram em pequenos combos (abreviação de “combination”, denominação dada a uma formação de poucos músicos) para executar o bebop, o que trouxe uma revolução tonal e harmônica que foi se transformando com o passar do tempo. E assim continua, até hoje.

As mudanças na música, especialmente no jazz, são inevitáveis e promovem alterações por vezes sutis, por vezes profundas. Um estilo vai cedendo o seu espaço para outro de forma gradual e sem muito alarde, e o caminho para o swing também foi pavimentado desta forma.

O swing se manteve soberano como a principal música dos Estados Unidos por um período de vinte a trinta anos, a partir do final da década de 1920 até o início dos anos 1950.

Antes do swing, as orquestras tocavam melodias para dançar sem possuir o som e a pulsação característicos do jazz, e bandas com um menor número de participantes tocavam músicas que remetiam ao estilo new orleans. Com o seu surgimento, o swing agiu nos dois sentidos, pois jazzificou o som das orquestras de salão e modernizou o som das bandas de jazz tradicional.

Apesar do curto espaço de tempo de efetivo sucesso, o swing se internacionalizou, levou a imagem e a cultura norte-americana para o mundo todo, e exerceu uma considerável influência no comportamento e nos costumes das pessoas.

Estas mudanças ocorrem não porque as pessoas sejam volúveis e andem sempre à cata de novidades. Elas decorrem da dificuldade que certos gênios inquietos – inventores, artistas, pensadores, filósofos – têm em se acomodar às práticas vigentes, e da necessidade da busca incessante pelo aprimoramento das coisas.

O músico de jazz sempre teve por característica uma certa insatisfação em seguir partituras, pois não se conformava em simplesmente reproduzir a música como ela havia sido concebida pelo autor. Ele precisava colocar nela a sua marca pessoal e fazer novos experimentos, quer num improviso arrojado, quer numa sequência harmônica no limite do que havia sido composto ou até numa pausa mais prolongada.

Como afirmava Ornette Coleman, um saxofonista pioneiro que às vésperas de 1960 fez parte da criação do free-jazz, “o executante de jazz não deve se prender àquilo que foi feito pelo compositor, mas sim criar a sua própria concepção sobre o tema”.

Esta pode ter sido uma declaração isolada e voltada para um tipo específico de jazz – afinal, ele defendia uma tese sobre a interpretação do estilo free, que propõe uma total liberdade na execução, alterando os intervalos, os tons e a própria melodia de acordo com o feeling do executante naquele momento – mas se observarmos atentamente, esta preocupação com a liberdade de execução já existia desde que o jazz surgiu. Trata-se de um enfoque filosófico que vem da consciência do músico de jazz, esteja ele se referindo ao jazz tradicional, ao swing, aos estilos bop ou aos sons mais contemporâneos.

Antes de Ornette Coleman, músicos como Cecil Taylor e Albert Ayler já haviam feito incursões atonais experimentais, que mais tarde seriam exacerbadas por cultores do chamado happening, um jazz livre e teatralizado que tem entre os seus principais executores o grupo Art Ensemble of Chicago e a Arkestra de Sun Ra.

O músico de jazz nunca teve como objetivo a expressão da música como arte pura; ele busca novas formas de exprimir a música através do seu sentimento pessoal.

Além de compactuar com a necessidade que os artistas tinham na busca de novas alternativas para modernizar a interpretação da música, o jazz também enfrentava as mudanças naturais surgidas com o desenvolvimento de novas tecnologias e de uma nova mentalidade que tomava conta do cidadão americano e do mundo, e que ia se globalizando, embora de uma forma bastante incipiente. Em resumo, as mudanças se processaram com os avanços da tecnologia, com a necessidade de adaptação da sociedade às novas regras de mercado – econômicas e sociais – e com a própria renovação das ideias, dentro e fora do país.

Afinal, a geração americana nascida no início do século vinte teve que enfrentar mais de vinte anos absolutamente desiguais, pois após a década de apogeu dos anos 1920 – embora incomodados pela Lei Seca – veio outra década que se iniciou com uma profunda depressão, a dos anos 1930, o que modificou hábitos e filosofias de vida, até se consolidar nos anos 1940, quando os Estados Unidos passaram efetivamente a liderar o mundo livre.

O jazz, no caso específico o swing, teve que conviver com uma série de ajustes pelos quais a sociedade civil teve que passar.

A indústria fonográfica, por exemplo, evoluiu tanto na qualidade de gravação quanto no que dizia respeito ao artista no exercício da sua criatividade.

Quando esta indústria tomou força, os discos, que eram reproduzidos na velocidade de 78 rotações por minuto, não conseguiam acomodar músicas com pouco mais de três minutos de duração, o que tolhia a liberdade e as possibilidades de criação do arranjador e tornava quase impossível uma gravação de estúdio ter a mesma vibração que uma apresentação ao vivo. Se a música não fosse “projetada” dentro desta limitação de tempo ela não raro necessitava ser mutilada, o que muitas vezes comprometia a qualidade e o brilhantismo do resultado final.

terça-feira, 10 de novembro de 2020




SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 29/06/2018

RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

PHIL HAWKINS - SUGARCANE SUITE

Devido às suas raízes africanas, sempre existiu um relacionamento profundo entre o jazz americano e a música do Caribe. Isto pode ser constatado pela influência da música caribenha no jazz e pela presença das orquestras caribenhas no mercado americano durante o final dos anos 1930 e toda a década de 1940. Esta influência pode ser apreciada no programa desta semana, onde o baterista americano Phil Hawkins, um entusiasta no assunto, aparece com seu álbum Sugarcane Suite". trazendo músicas de diferentes nacionalidades - Brasil, Cuba, Estados Unidos e Trinidad & Tobago - com o molho da salsa, da rumba, do mambo, do merengue e do bolero. Neste verdadeiro show, o jazz tropical eletrônico se impõe com toda a sua malícia dentro de uma estrutura harmônica moderna e descontraída. A gravação conta com a presença do convidado Randy Brecker no trompete e no flugelhorn.

 Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                   

 

 

 

 


 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright Merriam-Webster Dictionary) 

(ver tradução após o texto) 

ADORBS

 

ADORBS is a short form of “adorable”, used to describe people, animals, or things that are extremely charming or appealing, and easy to like or love because they’re so attractive.    

 

            “Jeanette, these dresses are, like, totally ADORBS.”

 

            “I know, right? Totes ADORBS.”

           

            “Your shop is so ADORBS!”                     

                          

 

TRADUÇÃO

 

ADORÁVEL

ADORÁVEL (em inglês ADORBS – forma abreviada de “adorable”) tem o sentido de “massa!”, “coisa fina!”, e é usado para adjetivar pessoas, animais ou coisas que são extremamente encantadores e simpáticos e que a gente é capaz de gostar ou de amar por serem tão atrativos.

 

“Jeanette, estes vestidos são ADORÁVEIS.”


“É, não é? Super ADORÁVEL!”


“Sua loja é tão ADORÁVEL!”

 

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

 


AS CORES DO SWING
          (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 17 - O HOMEM DETRÁS DO TRONO (FINAL)

A despeito de dirigir a sua própria orquestra, Henderson continuou trabalhando para Goodman e estreitando seus laços de amizade com ele. Naquele momento histórico, Goodman era detentor de todos os elogios no mundo do jazz e das big bands, aplaudido nacionalmente e laureado como o Rei do Swing.

A preferência do público e da crítica por Goodman, ao invés de enciumar Fletcher Henderson apenas o fazia feliz, pois ele tinha plena consciência da participação que ele estava tendo no desempenho da orquestra do amigo.

Certa tarde, quando Henderson foi ao estúdio onde Goodman ensaiava com os seus músicos, ele foi surpreendido com um convite que lhe soou lisonjeiro. Goodman disse que gostaria que ele assumisse o lugar de pianista na orquestra, e Henderson pensou tratar-se de uma brincadeira. Sentar-se no banquinho que já pertencera a Teddy Wilson e a Jess Stacy parecia ser um exagero para ele, pois a técnica dos dois pianistas era simplesmente excepcional, e ele há muito tempo deixara de tocar piano como solista. Além do mais, Henderson se tornara famoso executando uma variante do jazz tradicional, ao passo que os pianistas de Goodman haviam ingressado totalmente no universo do swing.

Apesar das restrições, Henderson sentiu-se honrado, agradeceu a confiança nele depositada e resolveu fazer parte dos ensaios, participando de algumas gravações e de diversas apresentações. No entanto, a crítica, que sempre lhe fora favorável desde a formação do seu primeiro grupo em 1924, começou a atacá-lo acidamente, sugerindo que Henderson não tinha a suficiente estatura para segurar a barra como pianista numa orquestra de tal magnitude.

Numa manhã cinzenta e chuvosa como seu estado de espírito, Henderson se reuniu com Goodman e lhe disse que abandonava o cargo. Apesar da resistência de Goodman, ele foi inflexível, e a saída foi contratar outro pianista. Depois de algumas tentativas, o escolhido foi Johnny Guarnieri, que tinha uma boa experiência com o swing por ter tocado com a orquestra de George Hall.

A despedida formal foi emocionante, pois tanto Henderson quanto Goodman tinham plena consciência de que o sucesso de Goodman se dera não apenas pela qualidade dele como músico e como líder, mas também pelos arranjos modernos emprestados pela competência de Fletcher Henderson e registrados na história da orquestra, como nas músicas “Remember”, “Three Little Words”, “Honeysuckle Rose”, “Sugarfoot Stomp”, “Buggle Call Rag”, “Wrappin’ It Up”, “Get Happy” e “I Can’t Give You Anything But Love”.

Fletcher Henderson continuaria sua vida de músico trabalhando ocasionalmente com sua própria orquestra, mas na maior parte do tempo escrevendo arranjos para Goodman e diversos outros bandleaders.

Henderson era um homem de personalidade introvertida. Jamais comentava seus sucessos ou seus insucessos, de modo que pouca gente conseguia penetrar no seu mundo particular. Alguns amigos mais chegados garantiam que, apesar do seu reconhecimento como músico, ele ainda guardava alguma mágoa por não ter conseguido realizar o sonho dos seus pais no exercício da profissão de químico ou farmacêutico. Esta insatisfação se tornava evidente quando ele não estava envolvido com a música ou quando tinha a oportunidade de reciclar seu conhecimento científico com alguém.

Em 1945, Henderson estava caminhando pela Quinta Avenida quando se encontrou com um ex-colega da Universidade de Atlanta chamado George Stampton. Ambos se reconheceram de pronto, apesar dos vinte e cinco anos que haviam passado desde a época da faculdade.

Resolveram jantar num dos restaurantes da região, e Henderson, contrariando seus hábitos franciscanos, resolveu tomar uma taça de vinho tinto. Stampton trabalhava como químico no setor de controle de qualidade numa fábrica de biscoitos nos arredores de Nova York e vinha de vez em quando à cidade para comprar produtos de laboratório. Estava satisfeito com a vida e com a profissão, mas sabia que na sua área de atuação jamais alcançaria o sucesso e o renome que o amigo havia alcançado como músico.

Henderson também se disse satisfeito, mas pela primeira vez conseguiu desabafar com alguém, talvez por saber que dificilmente voltaria a vê-lo outra vez: “o mundo artístico é como um vórtice – você gira e gira e nunca sabe onde vai parar”. Ele frisou que possivelmente se sentiria menos cansado se tivesse tido a paciência de esperar pelo momento exato de ser farmacêutico, em algum lugar.

Fletcher Henderson se sentia solitário e era então uma pessoa entristecida, apesar de viver dentro de um alto padrão.

 

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Em 1950, Fletcher Henderson sentiu-se mal e desmaiou em plena Quinta Avenida, seu local favorito para passear e meditar. Foi diagnosticado um sério problema cardíaco, do qual ele jamais chegou a se recuperar totalmente. Desanimado e sem forças para reagir e retomar suas atividades de músico, ele morreu no dia 28 de dezembro de 1952. Tinha apenas 54 anos.

O professor de música e pesquisador Jeffrey Magee escreveu a biografia de Fletcher Henderson no livro “Fletcher Henderson and Big Band Jazz: The Uncrowned King of Swing” (Fletcher Henderson e o Jazz das Big Bands: O Rei do Swing que não foi coroado), e comenta as características que fizeram de Henderson um músico notável escondido dentro de um artista pouco ousado.

Talvez sua melhor homenagem tenha sido prestada logo nas primeiras páginas, onde Magee afirma que “...se Benny Goodman foi o ‘Rei do Swing’, Fletcher Henderson foi o homem que esteve por detrás do trono. Ele contribuiu decisivamente para o sucesso das carreiras não apenas de Benny Goodman, mas também de Louis Armstrong e de Coleman Hawkins”.

Nada como um biógrafo para colocar os fatos históricos no seu devido lugar.