sexta-feira, 22 de novembro de 2019







NÃO VOU JAMAIS AMAR 

(Samba de Augusto Pellegrini – Marinho – Luís Albuquerque)

Me vejo perdido num canto
A chorar de aflição
Passado, saudade
Lembrança, desilusão
Palavras que têm consistência
Num samba, é verdade
Mas que na realidade
Só fazem magoar um coração

Pedaços da minha vida
Espalhados ao chão
Colhidos e reconfessados
Por meu violão 
Se toda a filosofia
Pudesse assim demonstrar
Toda a verdade contida
Num samba na mesa de um bar
Confesso, então eu diria
Ironia, melhor não falar
Em samba e na poesia
Não vou jamais amar

1976

segunda-feira, 18 de novembro de 2019






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 12/01/2018
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luí-MA

1930'S JAZZ BIG BANDS 

Nos primeiros anos do século 20 o jazz sofreu a sua primeira grande ruptura, quando o estilo tradicional de Nova Orleans, influenciado pelas danças de salão europeias que tocavam em Nova York e Chicago deu início ao que se chamaria mais tarde de swing das big bands. Os registros daquela época são bastante precários, mas o Sexta Jazz decidiu resgatar algumas das orquestras que foram o berço do jazz que viria a seguir e apresenta algumas gravações antológicas dos anos 1930. Os ouvintes hão de perdoar a qualidade do som em virtude da tecnologia de gravação daquele tempo feitas em discos de cera sem qualquer mixagem, mas por outro lado irão ouvir peças antológicas que fazem parte da música universal e que poucas vezes foram mostradas em emissoras de rádio, pelo menos neste século. As raridades incluem Benny Goodman, Count Basie, Duke Ellington, Jimmie Lunceford (na foto), Earl Hines, Ben Pollack, Red Norvo, Erskine Hawkins, Teddy Hill, Chick Webb, Fletcher Henderson, Cab Calloway e outros.

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini
                                                                                                                                    





domingo, 17 de novembro de 2019






O PORCO
(Excerto)

Radamés estava muito preocupado com o julgamento que seria realizado na terça-feira, pois não via por onde ganhar a causa e começava a ver pelo binóculo as terras que estavam em questão. Pior, não tinha a menor confiança no seu advogado, um tal doutor Calixto Fortes, um sujeito cheio de pose que lhe fora indicado por um amigo.
Percebendo que a nau estava indo a pique, ele perguntou timidamente se havia alguma forma de seduzir o juiz, com alguma conversa ou algum  “presentinho”, ao que o doutor respondeu que o juiz seria um tal Pompílio de Taques, daqueles da velha guarda – in-cor-rup-tí-vel! – e completou dizendo que o juiz levava uma vida muito simples, sem luxos, e que a sua verdadeira paixão – depois das leis, é claro – eram os leitões que ele criava num sítio que possuía no interior.
Radamés aparentemente se resignou. Para ele, a justiça lhe parecia fortuita e cega, com os olhos vendados e a espada na mão, pronta para ceifar cabeças sem qualquer critério pesando os prós e os contras de um julgamento na sua balança de dois pesos e duas medidas.
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Terça-feira.
Lá estavam todos os implicados no segundo andar do Fórum onde ficava a Sexta Vara: Radamés, cheio de preocupações, doutor Calixto, cheio de anéis, Vivaldo – seu adversário – cheio de certeza e advogado dele cheio de presunção e papéis.
O oficial abriu a porta e convidou todos a entrar.
No alto da sua imponência, o Meretíssimo Pompílio de Taques pigarreou, leu as laudas como de praxe, permitiu as justificativas e apartes sem prestar muita atenção, e foi curto e grosso na sentença.
- Tendo em vista os fundamentos dos autos, condeno o senhor Vivaldo Perequê a devolver as terras questionadas e proclamo seu legítimo dono o senhor Radamés Plutarco. Caberá ao senhor Vivaldo Perequê o pagamento das custas processuais e etcetera etcetera, etcetera...
Com a sentença proferida, as partes se dissolveram escada abaixo, doutor Calixto cofiando a barba rala com brilho nos olhos, o incrédulo Vivaldo Perequê dardejando um olhar de fúria para o seu atônito advogado e Radamés se concentrando em um enorme quadro no hall que mostrava uma cena campestre onde alguns leitõezinhos chafurdavam felizes na lama.
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Doutor Calixto, envaidecido como um pavão, se dava ares de importância.
- Não disse a você, Radamés, não disse a você para confiar no meu trabalho?
- Só que as coisas nem sempre acontecem naturalmente, doutor. A gente às vezes tem que dar um empurrãozinho por fora...
- Como assim, empurrãozinho, Radamés, como assim?
- Bem doutor, não foi propriamente pelo seu trabalho que a gente ganhou a questão, mas pelo meu presente...
- Presente, Radamés, que presente?
- O porco que dei de presente para o Doutor Pompílio.
- Você deu um porco de presente para o Doutor Pompílio? Não pode ser, Radamés, não posso acreditar que o Doutor Pompílio iria vender a sentença por um porco!
- Nem eu iria acreditar nisso, doutor, depois que o senhor me disse que o homem é incorruptível!
- Mas então... que diabo de história é essa? – exasperou-se o advogado.
- É que eu mandei um porquinho todo cor-de-rosa pro juiz, com um bilhetinho preso a uma fita vermelha amarrada no pescoço do bicho.
- ... e então...?   
- ... e então o bilhetinho pedia com todo o respeito que o juiz aceitasse o porquinho como presente, e era assinado por Vivaldo Perequê...