sábado, 7 de março de 2015





BRASIL DE MENTIRINHA
 
 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 06/03/2015) 

Em outubro de 2009 a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para sediar os Jogos Olímpicos que serão realizados no ano que vem.
Ao pleitear o direito de sede, o COB – Comitê Olímpico Brasileiro preparou um elaborado trabalho documental a respeito das nossas condições e possibilidades em receber tal laurel, porque este procedimento faz parte do processo de escolha.
Este tipo de relatório é detalhista ao extremo e fornece todas as informações sobre os locais onde serão realizadas as provas – estádios, quadras, piscinas, pistas – assim como a construção da Vila dos Atletas. Também detalha o planejamento estratégico dos Jogos, como o esquema de segurança, hospedagem, transporte, comunicação e acesso.
Dado o tiro de partida, esperava-se uma corrida para que a concepção do relatório fosse cumprida.
Ocorre que, a pouco mais de um ano para a abertura dos jogos, 25% das obras que constam da lista de projetos essenciais não foram ainda sequer licitadas, e o Parque Olímpico Deodoro, base dos Jogos – pois abrigará canoagem slalom, tiro, mountain-bike, bicicross, hóquei, pentatlo, rúgbi, hipismo e natação – ainda não passa de um confuso canteiro de obras.
Mas os maiores problemas são as obras do velódromo e outras instalações na zona da Barra, e principalmente a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, da Marina da Glória e da área do Forte Copacabana para as competições de remo e canoagem, de vela, da maratona aquática e do triatlo.
O custo também deve disparar: somente o pacote as obras de infraestrutura, englobando projetos de aeroporto, porto, mobilidade urbana e gestão ambiental, estimado em R$ 16,5 bilhões na época da candidatura já chegou a R$ 24 bilhões sem que o progresso físico tivesse acompanhado o custo.
Mas a gente já se acostumou com este tipo de problema, pois no Pan-2007 e na Copa do Mundo as coisas também estavam erradas acabaram dando certo no fim.
Esportivamente, porém, a situação está tomando outra dimensão.
O Brasil já produziu – às duras penas, é verdade – medalhistas individuais como Adhemar Ferreira da Silva, Joaquim Cruz, Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Gustavo Borges, Cesar Cielo, Maurren Maggi, Arthur Zanetti e Sarah Menezes, entre outros, e agora se vê obrigado a importar atletas de outros países para não passar vergonha, pelo menos na estatística.
Isto porque os nossos dirigentes olímpicos tiveram mais de uma década para investir em novos talentos, estimular e dar condições a jovens promissores, criando estruturas em escolas públicas e estabelecendo parcerias com empresas particulares, mas aparentemente investiram apenas no próprio prestígio ou, quem sabe, no próprio bolso.
A lista dos importados que devem se naturalizar brasileiros para lutar por medalhas não é pequena, e inclui até o momento  Adrián Delgado – Espanha, Ivez Gonzales – Cuba, Josip Vrilic – Croácia, Slobodan Soro – Sérvia e Tony Azevedo – EUA (no polo aquático), Nathalia Moelhausen – Itália,  Marta Baeza – Espanha e Katherine Miller – EUA (na esgrima), Inge Vermeulen – Holanda (no hóquei na grama), Eduard Soghomonyan – Armênia e Marat Garipov – Cazaquistão (na luta olímpica) e Juliano Fiori – Inglaterra e Dave Harvey – Austrália (no rúbgy).
Esta estratégia não é incomum, sendo frequentemente usada por outros países na exacerbada luta pela conquista de medalhas, mas de certa forma contraria os ideais olímpicos, onde se presume outro tipo de comportamento. Este procedimento acaba deturpando o esporte e o contaminando com um profissionalismo selvagem que a cada dia se faz mais presente. 
Mas vai ser engraçado ver um armênio no pódio ouvindo o Hino Nacional Brasileiro e fazendo cara de paisagem.