quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


 

 

NEGÓCIOS A QUALQUER PREÇO

 

Não é de hoje que as grandes transações no futebol são objeto de dúvidas e incertezas com respeito à sua lisura e moralidade. Desde a primeira grande transferência no Brasil – quando Leônidas da Silva, considerado a primeira celebridade do futebol brasileiro, trocou o Flamengo pelo São Paulo em 1942 por 200 contos de réis – o que não faltaram foram especulações e acusações entre clubes, dirigentes de um mesmo clube e torcedores.
Estas acusações somam denúncias de malversação de verbas, improbidade financeira e contabilidade paralela, e inclui muita gente ganhando dinheiro sem fazer força.
De algum tempo pra cá, juntou-se a este elenco a figura do empresário, alvo do amor de alguns e do ódio da maioria, dependendo de qual lado o vento soprar.
O fato é que em todas as negociações o jogador continua embolsando menos dinheiro do que as instituições, os dirigentes e os atravessadores.
No caso de Leônidas, o Flamengo chegou a pedir a prisão do jogador, acusando-o de haver fraudado seu certificado de reservista para facilitar a transação, isto é, quando se sentem incomodadas as partes apelam pra qualquer tipo de santo.
Se isto aconteceu no âmbito interno com uma “modesta” celebridade de 1940, nada mais natural que este furacão se repita setenta anos depois em uma dimensão muito maior, pois navega em nível internacional com a celebridade “pop” do momento – Neymar Junior.
Mas o tamanho da encrenca desta vez parece ser muito sério, tendo causado inclusive a demissão do presidente do Barcelona, Sandro Rossell, que há algum tempo já havia sido alvo de denúncias em empreitadas escusas com a participação de João Havelange e Ricardo Teixeira.
A renúncia de Rossell obrigou o novo presidente Josep Maria Bartomeu – embora interino – a entrar na casa de marimbondos, dar satisfações à imprensa mundial, especialmente a espanhola, e abrir os livros para uma auditoria fiscal.
Assim, o mundo ficou sabendo que o valor exato da negociação havia sido R$  284 milhões, e não R$ 187, como fôra anunciado.
Há, portanto, algo de podre no Reino da Catalunha, e infelizmente o vazamento ameaça atingir o jogador Neymar, cujo único pecado é ser um craque de bola, objeto de desejo de todos os clubes do mundo, infelizmente cercado de pessoas não muito recomendáveis.
O Santos e a DIS, detentora de parte dos direitos sobre a venda do jogador, reclamam o seu quinhão na diferença de R$ 97 milhões que não haviam sido contabilizados na transação (apesar de Santos e DIS serem desafetos desde a transferência de Ganso para o São Paulo, eles agora estão unidos contra o inimigo comum).
E este inimigo comum não é ninguém menos do que o Sr. Neymar Pai, que contou uma história nebulosa referente a um empréstimo (ou adiantamento para garantir o negócio) de R$ 40 milhões (?!), e só fez complicar mais a situação.
Entre os flagrantes de ilegalidade suspeita-se de lavagem de dinheiro (onde entraria Rossell, usando Neymar Pai como “laranja”), caixa dois (o Barcelona pagando a transferência e as comissões sem a documentação obrigatória) e desrespeito às leis da Fifa que regulam as transferências internacionais de jogadores e proíbem qualquer transação financeira antecipada para não caracterizar aliciamento de atletas com contrato.
Com certeza esta confusão era a última coisa que o jogador queria que acontecesse em um ano em que ele precisa de paz para encarar a Copa do Mundo da sua vida.
Um belo manjar para quem gosta de emoções fortes que já rendeu a demissão de um presidente e promete ficar mais apimentado.