sábado, 23 de julho de 2016






DE PATO A GANSO

Enquanto um vai, outro vem. Promessas que não deram muito certo, cada qual vai procurar brilhar e dar um grau na carreira em outro lugar.
Sempre tudo regado a milhares, milhões de dólares.
Ganha o jogador, ganha o clube, ganha o empresário, ganha o patrocinador, ganha o comentarista, mas geralmente perde o futebol.
Pato deixa a Europa para trás e se reapresenta ao Corinthians, clube que tem que abrigá-lo mais por uma questão contratual do que sentimental. No fundo, os dois – jogador e clube – se odeiam, mas os dois têm que representar o seu papel. Os torcedores torcem o nariz, a diretoria conta e reconta o salário altíssimo que engrossa o passivo do clube e o técnico Cristóvão Borges, também vítima da desconfiança de todos – torcedores e dirigentes – segue coçando a cabeça e esperando que um anjo do Senhor ilumine a todos e faça com que o atleta se encaixe no seu plano de trabalho sem gerar muito conflito.
Ganso deixa o Brasil para trás e faz o caminho inverso. Parte com a marca daquele que deveria ter dado certo mas não deu, gerado no Santos de Neymar e tido na época como o craque do time sem jamais ter se firmado como uma figura indispensável. Depois tentou alavancar o futebol do São Paulo, para onde sob muita reclamação da torcida peixeira. Na seleção, foi ignorado pelos técnicos que se sucederam no comando. É mais uma tentativa de um jogador desacreditado se firmar no complicado futebol europeu.
Assim é o futebol, onde a unanimidade é uma coisa muito rara e a manutenção de um status passa por muitos detalhes que vão desde a oportunidade criada e aproveitada e a conquista dos indispensáveis títulos, de preferência tendo o jogador em foco como figura principal.
Muitos se perguntam o que teria sido de Pelé se ao invés de se encontrar com um time estruturado como o Santos, onde teve companheiros do quilate de Zito, Mengálvio, Coutinho e Pepe, tivesse ido parar na Portuguesa.
O mundo do futebol divide seu rebanho entre aqueles que fizeram acontecer – e aí se situam Messi, Cristiano Ronaldo, Ibrahimovic, Suárez, Neymar e alguns outros, para ficarmos apenas na atualidade – e os outros, entre os quais estão aqueles que perderam o bonde da história e os que estão começando agora, sonhando alto. 
Os clubes costumam trazer jogadores de renome para defender a sua camisa pelo aspecto técnico (afinal, um bom jogador é sempre bem-vindo) e também por uma questão de marketing, pois existem patrocinadores que apostam alto na marca.
Às vezes funciona, outras não.
O Flamengo, por exemplo, vai inchando o seu elenco com jogadores de qualidade que na prática não estão melhorando o padrão do time. A contratação de Leandro Damião, outro que já deveria ter dado certo, é vista pelos torcedores como uma temeridade, principalmente porque a posição – centroavante – já está razoavelmente coberta por um figurão, Paolo Guerrero, e por uma agradável promessa – Felipe Vizeu.
Para o meio do campo, no entanto, pode ser que a repatriação de Diego – aquele mesmo que surgiu ao lado de Robinho no Santos de 2002, passando com algum sucesso por Portugal, Alemanha, Itália, Espanha e Turquia – venha suprir o toque de refinamento que o time precisa.
Como as janelas de transferência acabaram de fechar, somente algum ilustre desempregado da Zona do Euro poderia mostrar seu futebol no nosso país tropical, como fez o holandês Clarence Seedorf em 2012 ao decidir dar um pouco de gás ao Botafogo.
O mercado sul-american, no entanto, está andando a todo vapor.
Entre os doze principais clubes do Brasil – quatro de São Paulo, quatro do Rio, dois de Minas e dois do Rio Grande do Sul – existem no momento cerca de 45 estrangeiros fazendo parte do elenco, vindos dos diversos países da América do Sul.
Na quarta-feira o número foi acrescido de outros jogadores hermanos. O São Paulo, que perdeu Calleri, já contratou o atacante Andrés Chavez e está fechando com o lateral Buffarini, ambos argentinos. O Internacional trouxe o uruguaio Nico López, e o Atlético Mineiro acaba de fechar com o venezuelano Rómulo Otero.
O tricolor estava praticamente fechado com o atacante argentino Caraglio mas desistiu da compra, possivelmente preocupado com os problemas que a contratação traria para os locutores esportivos durante a transmissão dos jogos.



 (Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 22/07/2016)