sexta-feira, 9 de setembro de 2016





O INÍCIO DE UMA NOVA ERA

A era Tite na seleção brasileira começou auspiciosamente. Em dois jogos oficiais realizados a equipe mostrou mais em termos de organização e tranquilidade do que Dunga mostrou em dois anos.
Analisando as duas partidas que transportaram a seleção do sexto para o segundo lugar nas Eliminatórias da Copa 2018 em menos de uma semana, observamos um amadurecimento que finalmente nos faz acreditar em um futuro menos sombrio.
Bastaram duas partidas, seis pontos conquistados, dos quais três como visitantes, para que a lógica das forças do futebol no continente fosse restabelecida, colocando Uruguai, Brasil e Argentina, pela ordem, nas três primeiras posições, com apenas um ponto os separando.
Em ambos os jogos o Brasil mostrou as falhas naturais de quem inicia um trabalho e deve ter trazido algumas dúvidas ao treinador com respeito a um melhor aproveitamento de certos jogadores.
Individualmente eu ainda questiono as presenças de Paulinho, Taison e Giuliano na lista de convocados, mas ainda é cedo para qualquer afirmação. Afinal, Paulinho foi titular nos dois jogos, e se não brilhou também não comprometeu, e os outros dois entraram em campo com a partida já decidida, praticamente apenas para sentir o ritmo de jogo e buscar entrosamento com os demais jogadores.
Por outro lado, Marcelo esbanjou qualidade pela ala esquerda e confirmou a todo mundo que Dunga, que o manteve afastado por razões pessoais, não passa de um indivíduo rancoroso que coloca suas desavenças pessoais acima do bem do grupo e não entende nada de futebol.
Chamou a atenção o posicionamento da defesa, que tomou apenas um gol nas duas partidas, ainda assim marcado contra pelo zagueiro Marquinhos.
Também chamou a atenção a presença de um volante marcador – Casemiro – que se destaca no desarme limpo e na correta entrega de bola, a ponto de o treinador Zinedine Zidane declarar que na sua formação atual o Real Madrid tem no jogador o seu destaque mais importante (apesar de Cristiano Ronaldo ser o craque do time).
O que se viu, em suma, foi uma seleção mais leve, mais solta, mais confiante e mais brasileira. Quer enfrentando uma torcida equatoriana empolgante em Quito, quer mostrando a cara para a exigente torcida brasileira em Manaus, os jogadores jamais perderam a serenidade e o autocontrole. O clima entre a comissão técnica, os jogadores e a imprensa ficou descontraído, ao contrário das carrancas e do nervosismo mostrado pela seleção anterior.
Neymar não se fixou apenas no lado esquerdo e jogou por todas as partes do ataque, obrigando os defensores equatorianos e colombianos a mudar a forma de marcação, o que abriu espaços para a penetração dos outros atacantes brasileiros.    
A impressão que ficou é que os jogadores (muitos dos quais participaram das formações anteriores) tiraram um enorme peso das costas, pois a seleção de Dunga e Gilmar Rinaldi tinha a cara desagradável e suspeita da CBF, coisa que parece não ter contaminado a nova direção técnica.
É muito cedo para qualquer afirmação, mas parece que com Tite as convocações obedecerão a um critério técnico, não a imposições de dirigentes e agentes Fifa como acontecia com Gilmar Rinaldi, ele próprio um ex-agente.
Tite levou com ele muitos jogadores que ele conhecia da sua passagem vitoriosa no Corinthians – Gil, Marquinhos, Fagner, Paulinho, Renato Augusto, Willian e Taison – embora muitos deles já fizessem parte do grupo entes que ele assumisse, e apesar da minha discordância como analista sobre a chamada de alguns, cabe a ele analisar e confirmar nas próximas convocações a justeza da sua atitude.     
Se contra o Equador nós tivemos um placar enganoso, pois a vitória por 3x0 foi exagerada pelo equilíbrio apresentado em campo (1x0, gol de pênalti de Neymar já estaria de bom tamanho), contra a Colômbia uma vitória por três ou quatro gols estaria na proporção correta pelo que apresentaram os dois times.
Não dá para notar se houve alguma evolução no trabalho e desenvolvimento da equipe de um jogo para o outro, mas uma coisa ficou patente: nossos adversários podem até falar grosso mas começam a temer novamente o poderio do futebol brasileiro, que ultimamente andava tão em baixa.   



(Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 09/09/2016)