O NIVELAMENTO ESTÁ GERAL
A fotografia mais exata do
futebol brasileiro no momento não ilustra cenas de jogos heroicos, não retrata
jogadores levantando troféus nem mostra a empolgação da torcida. Ela mostra
números, como uma planilha de contabilidade, e os mostra de uma forma clara, honesta
e contundente, sem necessidade de interpretação, sem manipulação e sem
pedaladas.
A começar pelo Campeonato
Brasileiro, que apresenta uma aparente inversão na tabela: enquanto Sport e
Atlético Paranaense habitam a parte de cima da classificação, os tradicionais
Vasco, Flamengo e Palmeiras se debatem nas últimas posições. Com oito rodadas disputadas,
Cruzeiro, Santos e Internacional também não têm do que se orgulhar.
Pior: o futebol jogado
pelos times que estão encabeçando o campeonato e por aqueles que já se
candidatam ao rebaixamento é praticamente o mesmo, não se constituindo qualquer
surpresa eventuais triunfos de Joinville, Chapecoense ou Avaí contra Cruzeiro,
Fluminense ou Corinthians, mesmo com o time de menor expressão jogando na casa
dos grandes.
Este cenário desolador tem
uma constatação oficial.
A seleção brasileira tem 5
Copas do Mundo conquistadas, mas a última foi em 2002, isto é já temos um jejum
de três competições. E perdemos as três últimas Copas jogando mal.
Existe a renovação, mas as
novas safras que estão surgindo também não são muito animadoras. Dos 19 Mundiais
Sub-20 disputados vencemos apenas 5, sendo a última em 2011, isto é, perdemos
as duas mais recentes.
A seleção olímpica se
constitui no nosso maior fracasso: 23 disputas, nenhum título e apenas 3
vice-campeonatos.
Em 16 disputas pelos Jogos
Pan-Americanos conquistamos 4 títulos, mas o último foi há 28 anos, em 1987.
Temos tido um relativo
sucesso na Copa das Confederações, mas dizem que as outras seleções não veem
este torneio com a mesma seriedade que nós, encarando-o mais como preparação
para a Copa do Mundo que se realiza um ano depois. Independentemente desta
concepção, o Brasil foi 4 vezes vencedor em 7 disputas, e é o atual campeão.
Resta a Copa América, mas
aí a situação se inverte. Diz a lenda que só recentemente o Brasil começou a
encarar o torneio com a importância que lhe á devida. Isto custou caro, pois em
43 disputas ganhamos apenas 8 e contabilizamos 11 vice-campeonatos.
No futebol feminino o
problema é ainda maior.
Apesar de contarmos com Marta,
uma das melhores jogadoras do planeta, com 4 premiações como Melhor do Mundo e
diversos outros prêmios, nunca ganhamos uma Copa do Mundo, em 7 disputas
realizadas. O mesmo registro negativo ocorre nas Olimpíadas, com 5
participações e nenhum título e no Mundial Sub-20, com 7 participações em
branco.
No âmbito local, no
entanto, a seleção feminina não encontra grandes problemas, pois foi 6 vezes
campeã da Copa América e 2 vezes nos Jogos Pan-Americanos.
Voltando aos homens, o
torneio de clubes mais importante do mundo é o Mundial de Clubes da Fifa. No
seu novo formato o Brasil conquistou 4 títulos em 11 disputas, sendo a última
conquista em 2012, com o Corinthians. E, ainda falando de clubes, em 54 edições
da Copa Libertadores conseguimos 17 conquistas, sendo a última em 2013, com o
Atlético Mineiro.
Esta dose maciça de
números está comprovando no momento aquilo que todos já sentíamos e temíamos. A
lenda cultivada durante muito tempo que outorgava ao Brasil o adjetivo de “o
melhor futebol do mundo” já perdeu o prazo de validade.
Pelo que estamos vendo
nesta Copa América, não importa o que venha acontecer daqui pra frente temos
que encarar a verdade de frente. Ou a seleção melhora o seu desempenho e começa
a impor o seu futebol ou corre o risco de ver a Copa da Rússia pela televisão.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 26/06/2015)